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João Távora

A manchete de f.

D. Fernanda (f.), a tão proclamada jornalista das (suas) causas, oferece-nos hoje no Diário de Notícias (DN) a manchete do dia. A senhora, provavelmente da janela do seu gabinete, vislumbrou um cartaz do PNR ali ao Marquês de Pombal, berrando uma inconsequente imbecilidade contra os emigrantes... e toca de lhe dar um bombástico relevo. Parece-me estranha esta súbita e incontida generosidade da jornalista, que assim dá voz e acalenta esta minoritária e desfavorecida causa "nacionalista".
O que é um facto, é que com apenas € 1750,00 e um cartaz, com a ajuda de f., o Sr. Pinto Coelho (por certo sem assessoria de imprensa, que se a tivesse rapava aquela hedionda barbicha) conseguiu multiplicar incomensuravelmente os resultados do seu investimento publicitário.
De resto, a magnifica fotografia do Rodrigo Cabrita na capa do DN, exprime subtilmente a insignificância do facto: o trânsito que escoa rápido pela rotunda, furtivo e indiferente àquela propaganda, como de resto estão os portugueses. Tão bem habituados a conviver com os partidos totalitaristas da esquerda.

Os anos da rádio

A telefonia foi para mim durante muito tempo uma inestimável companhia e uma janela para o mundo, principalmente o da música. Tenho uma leve reminiscência da primeira que me fez companhia: foi um pequeno “transístor” forrado a cabedal castanho oferecido pelos meus avós no final dos anos sessenta. Foi através da rádio que ouvi passar a música, as modas, os acontecimentos. Até a revolução e as "inventonas". Na minha telefonia, confesso, passaram também muitos domingueiros relatos de futebol, pois não havia outra forma de acompanhar a jornada desportiva. Com aquela histérica verborreia do locutor, emocionado, eu roía as unhas todas.
Criado no meio de uma família grande e com muitos irmãos, foi com a música e com os livros que delimitei o meu espaço e preservei minha empreendedora solidão. De olhar fisgado numa qualquer luzinha do aparelho passei deliciadas e indolentes horas. Era assim que os meus sonhos mais secretos voavam leves.
De ouvido na telefonia privei intimamente com muitos mais ou menos simpáticos locutores. Do Igrejas Caeiro ao Carlos Cruz, passando pelo Luis Filipe Barros, do João David Nunes à Maria José Mauperrin, passando pelo Jorge Perestrelo. Foram muitas as vozes para as quais inventei caras, sempre tão diversas das reais. Que nunca se nos deveriam ser desvendadas para evitar desilusões maiores. Olhe-se bem a figura que nos saiu da simpática voz do Nuno Markl!
Em pequeno, lá em casa na sala de estar havia um velho aparelho Grundig por debaixo da televisão. No chão, eu sentava-me de pernas cruzadas, esperando ansioso por algum sinal de vida, algum som, enquanto as válvulas aqueciam. Tudo começava quando uma pequena barra luminosa se enchia com uma estranha e líquida luz azul que assinalava a plena sintonização da frequência. Normalmente o aparelho estava sintonizado no programa 2 da Emissora Nacional (pelo meu pai), donde eu mudava para o Rádio Clube Português, que me parecia bem mais animado. Era nesta estação que ouvia umas cançonetas e com sorte apanhava a emissão dos Parodiantes de Lisboa que desesperadamente galhofavam trivialidades que eu mal entendia. Tudo isto com o patrocínio da casa Sol, na Rua da Vitória.
Carregando-se nuns botões beje marfim do grande rádio, trocavam-se os mundos que soavam como apitos díspares, sirenes várias ou misteriosos sinais de morse. E orações muçulmanas. Mas aquele rádio já tinha “frequências modeladas” e eu sentia com gosto a diferença no troar da orquestra no grande altifalante. O horário imperialista da televisão cedo acabou com estas veleidades radiofónicas.
À noite no aconchego do quarto, no meu “transístor” tocava o Quando o Telefone Toca, entre um livro da Condessa de Ségur e um álbum de Spirou em luta contra o terrível Zorglub. Foram os meus tempos de infância ao som dos Beatles, de Angie, dos Procol Harum, de Mammy Blue ou de José Cid...
Mais tarde, depois da revolução e durante o PREC, em FM (um pouco para lá dos 108 MHz), podia-se espantosamente sintonizar as transmissões da Polícia Militar. E testemunhar assim todo um mundo louco que se desconstruía. Enquanto medrava a minha ansiosa adolescência, veio o rock n’ roll do Programa 4 da RDP. O João David Nunes, o Punk Rock, o programa Dois Pontos com os álbuns inteirinhos, o Em Órbita para ouvir música antiga e… as tabelas de “tops”. Foi nessa época que descobri a MPB nos Cantores do Rádio do José Nuno Martins. Tudo isto em FM Estéreo, transmitido com os emissores de Bornes, Braga, Faro, Gardunha, Guarda, Lamego, Lisboa, Lousã, Monchique, Porto e Valença (!). Era a gloriosa alvorada do FM num país que, arquivada a revolução e a aventura marxista, despertava para o mundo. Virou-se então a vida da rádio para o Rock em Stock, com um Pão com Manteiga ao Fim-de-Semana, e o rock em português. Já entrados nos anos 80, às vezes de noite ouvia o Café Concerto de Maria José Mauperrin. Foi então que descobri as margens da cultura musical urbana, Brian Eno, Ryuichi Saakamoto e os Telectu de Jorge de Lima Barreto, entre outras doces intelectualices.
Finalmente por alturas do “boom” da liberalização da rádio, ainda me deixei cativar pela Correio da Manhã Rádio. Uma fantástica rádio digitalmente programada que me fornecia musica às toneladas. Sem palavras, sem parar. Para gravar, namorar ou estudar. Foram os meus tempos de Lloyd Cole, The Smiths e das luzidias pérolas da editora 4 AD.
Em 1988, numa trágica e inesquecível manhã de Agosto, com o Chiado em chamas, descobri a TSF. A notícia em rajadas, tipo matraca, que por muitos anos consumi com gosto.
De então até hoje oiço a rádio quase exclusivamente para fins informativos, no automóvel. Ouvir música tornou-se um ritual mais raro e quase solene. Momentos especiais arrancados à rotina familiar e com música escolhida com o meu critério e dependente da minha disposição. Mas é certo que continuo um aficionado da boa telefonia que no meu carro por momentos ainda descubro.

Portugal dos pequeninos

Não sei o que querem dizer aqueles que afirmam que o fenómeno Grandes Portugueses é “só” um programa de televisão. Estão a enganar-se a si próprios ou a mais alguém? Quem é esta gente que se entretém com qualquer escabrosos Reality Shows à semana, e ao Domingo aprova a liberalização do aborto? São os mesmos que depois votam Oliveira Salazar o “melhor português de sempre” por SMS ou na Internet?
Vivemos definitivamente num país modernaço, sem xailes ou coletes, mas com perfume caro e unhas de gel… onde se usam gravatas de marca e telemóveis da terceira geração. Mas perigosamente inculto e esquizofrénico.

Domingo

(5º da Quaresma)

Evangelho segundo S. João 8,1-11.

Jesus foi para o Monte das Oliveiras.
De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar.
Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?»
Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar.
Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra.
Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles.
Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?»
Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.»
Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»

Da Bíblia Sagrada

Se o Sr. Eng.º não for Engenheiro...

Em coerência com o que aqui escrevi há algum tempo a respeito dos títulos académicos e quejandos, não ficarei mais contrariado se o Sr. Pinto de Sousa não for Engenheiro de verdade. Mesmo que de tão prestigiada universidade. O importante é o empenho e a qualidade da pessoa em si, e sobre isso mantenho que, eng.º ou não, as minhas expectativas são muito baixas. Mas acho que covém que a malta não cometa a indelicadeza de o começar a tratar por Sô Zé…

Bom de ler



Só agora consegui ler A Queda do Império Romano – O fim da Civilização de Bryan Ward-Perkin da Alêtheia Editores. A investigação com o pragmatismo dos números e a leitura de um arqueólogo. Gostei do estilo de escrita simples e luminosa. Que desmistifica as interpretações politicamente correctas da História "New Age". É também um alerta sobre a fragilidade das organizações sociais sofisticadas... Como a nossa.

O regicídio, a propaganda e a RTP

Soube hoje que a RTP prepara uma série de seis episódios sobre o rei D. Carlos, de cujo cruel assassinato se assinala em 2008 cem anos. Como é que a televisão vai tratar o monarca e o seu período histórico?
A leitura da História, sabemos todos, dificilmente se desliga das modas e preconceitos conjunturais relativos à época em que ela é escrita. Mais, sabemos bem como são tratados os acontecimentos e os seus protagonistas quando se pretende simplificar a mensagem, tendo em vista os grandes públicos, menos preparados. A História serve quase sempre de propaganda. Basta constatar os preconceitos e o simplismo com que é abordada a Igreja e o papel do clero medieval nos manuais escolares para o ciclo preparatório. Sinais dos tempos, herdeiros da triunfante estética marxista no século passado.
O argumento desta série “O Dia do Regicídio” está a ser escrito por Filipe Homem Fonseca e Mário Botequilha, senhores de quem não conheço obra. Antes, reconheço a dificuldade de transcrever para um guião novelesco uma realidade social e politica tão complexa. Espero o mínimo de rigor e honestidade na abordagem romanesca do trágico e decisivo evento histórico. Espero que se apresentem os factos fundamentais sem desvios ideológicos. Mesmo tendo em conta o dramático desfecho, que compromete essencialmente os percursores do inquestionável regime, da bandeira, sob a qual vivemos. Esperemos que o regime vá perdendo os complexos e a História possa ser mais assumida. Em banda larga, horário nobre e aos olhos de todos.

Quantas vezes pode um partido morrer?

Lamento a algazarra e o mau aspecto com que se reveste a tomada de poder no CDS. Ao estilo de assalto “à pirata” responde-se com uma estratégia de “terra queimada”. Sei que é fácil falar quando se está do lado de fora, mas o facto é que o espectáculo é degradante. Só que Portugal continua adiado…
Enquanto isso, os partidários do rotativismo regimental rejubilam com a morte da direita portuguesa. Provavelmente uma vez mais confundem o seu desejo com a realidade.
Enquanto Portugal continua adiado… sem estratégia e sem oposição.

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