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João Távora

A vida das coisas

Sim, é um facto que os bens materiais nos podem desfocar das coisas importantes. Há dias recebi o meu carro novo, reluzente cor de prata e às vezes até dou por mim armado em parvo a espreitá-lo à janela. Como uma criança e o seu brinquedo novo, muito desejado. Como o carro é um pouco maior que o meu velhinho Rover (que a minha filhota pequena teve tanta pena de ver partir para mãos estranhas, quem sabe até "infiéis"), ainda não lhe “tirei as medidas”, e vai daí, tem acontecido suar aflito com receio de raspar a reluzente chaparia numa coluna ou parede traiçoeira. E as primeiras pegadas das crianças nas costas dos assentos impecáveis... E eu hoje de coração na boca a estrear a viatura ali para os lados da Alcácer aos solavancos no caminho de cabras com que se acede à casa da minha irmã...
Raios! ...acontece que tenho “saudades” que a omnipresente carripana adquira a necessária "patine" e de caminho a sua importância real...
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(Que se lixe aquela corrosiva caca de pássaro no capot!)

Encontros com Lisboa

Gosto de sair do escritório para "distâncias a pé". Passo a passo na calçada, aproveito para olhar a cidade, as casas, viajar na história escondida nas velhas cantarias, portas e fachadas. Sob o azul brilhante do céu, embalo-me com o movimento das pessoas e do trânsito animado, em circunstancial mas sincera cumplicidade.
Um dia espero voltar para a minha terra. Mas pergunto-me se então sentirei Lisboa assim com este mesmo olhar saudoso de... “exilado”?
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Imagem daqui

Orgulho straight


Tenho andado um pouco fora cheio de trabalhos e chego hoje aqui e encontro esta chinfrineira toda com um link e uma “não referência” ao meu nome e tudo. Que honra Daniel (vénia), vindas daí assim, as suas escarretas quase que são troféus! O seu desprezo sempre me dá bom estatuto – se a Câncio um dia calha fazer-me um link, no mínimo habilito-me a ser escorraçado pelos meus amigos!
Mas voltando à vaca fria (sem ofensa) o que fica é a impressão de que o Daniel (vénia), anda com problemas de identidade (ideológica, espero), e já não sabe como abocanhar tudo o que mexe à sua direita (quase toda a gente na legítima posse dos seus direitos cívicos). Mas deixe estar, força com a cruzada (?!), acenda um charrinho e ponha-se assim na rua, na marmelada, que eu não olho. Mesmo emparelhado com Angelina Jolie deve ser assim (que nojo!) uma “coisa linda de se ver”. É que isto de grandes intimidades afectivas em público fazem-me um pouco de confusão. No cinema até pode ser bonito, e mesmo assim, se estiver acompanhado com os miúdos fico um pouco atrapalhado. Parvoíces de conservadores.
Mas, quando já não houver mais temas fracturantes, talvez eles inventem finalmente a “causa” dos “feios”. Então talvez daqui a uns anos o presidente Zé nos arranje em Lisboa um clube especial para gente assim... Então eu prometo ir lá jogar consigo um dominó. Em paz, sem preconceitos ou marginalizações, que aqui entre nós eu também não sou nenhuma beleza.
De resto, caro Daniel (vénia), deixo-lhe este conselho que talvez o ajude: arranje um psiquiatra, não lhe vai resolver nada, mas ainda “parece” moderno “e assim”, e arranja alguém que o oiça por menos de 60.00€ à hora.
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PS: Ainda não lhe disse que tenho amigos gays, mas não perca a esperança.

Domingo

Evangelho segundo São Lucas 1, 5-17

Nos dias de Herodes, rei da Judeia, vivia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era descendente de Aarão e se chamava Isabel. Eram ambos justos aos olhos de Deus e cumpriam irrepreensivelmente todos os mandamentos e leis do Senhor.
Não tinham filhos, porque Isabel era estéril e os dois eram de idade avançada. Quando Zacarias exercia as funções sacerdotais diante de Deus, no turno da sua classe, coube-lhe em sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no Santuário do Senhor para oferecer o incenso. Toda a assembleia do povo, durante a oblação do incenso, estava cá fora em oração.
Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas o Anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias, porque a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, dar-te-á um filho, ao qual porás o nome de João. Será para ti motivo de grande alegria e muitos hão-de alegrar-se com o seu nascimento, porque será grande aos olhos do Senhor. Não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo desde o seio materno e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Irá à frente do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de preparar um povo para o Senhor».

Da Bíblia Sagrada

Casamentos de conveniência

Essa coisa dos homossexuais como persistentes vítimas já foi chão que deu uvas. Antes parecem-me em boa forma, e "recomendam-se" todos os dias. Aliás, na maior parte das vezes, as pessoas são é perseguidas por si próprias, pelos seus medos e fantasmas. A maior parte das vezes, são os olhos de cada um que exorbitam o preconceito alheio, parece-me. E isso, não se resolve com casamentos. A palavra “casamento” que eu saiba refere-se a “casal”. Casal, pela etimologia da palavra significa a união de um homem e uma mulher, mesmo sem um "rancho de filhos" - coisa de pretos e católicos. De resto, a promoção destas confusões e demais relativismos levam-nos aonde? É este, afinal, o novo rumo do Socialismo? São estas as novas causas, com a eutanásia e o aborto livre?
Eu, por mim, sei muito bem o que é uma família. E é muito mais do que um par de enamorados. Mas que venham então os inevitáveis cerimoniais de união entre homossexuais, consumados no Salão Nobre da câmara, ou num cartório mais próximo, com o Dr. Costa e a Dra. Brito como padrinhos. É o preço de 4% do eleitorado na vertigem da corrida ao município. Para mim dou isso de barato, desde que a canalha jamais entre em minha casa a pôr e a dispor. Falo dos novos jacobinos, obviamente, não dos homossexuais, que esses não têm culpa nenhuma de tanta hipocrisia.

Domingo

Evangelho segundo São Lucas 7, 36-50

Naquele tempo, um fariseu convidou Jesus para comer com ele. Jesus entrou em casa do fariseu e tomou lugar à mesa. Então, uma mulher – uma pecadora que vivia na cidade – ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com perfume; pôs-se atrás de Jesus e, chorando muito, banhava-Lhe os pés com as lágrimas e enxugava-Lhos com os cabelos, beijava-os e ungia-os com o perfume.
Ao ver isto, o fariseu que tinha convidado Jesus pensou consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia que a mulher que O toca é uma pecadora». Jesus tomou a palavra e disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa a dizer-te». Ele respondeu: «Fala, Mestre». Jesus continuou: «Certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Como não tinham com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles ficará mais seu amigo?». Respondeu Simão: «Aquele – suponho eu – a quem mais perdoou». Disse-lhe Jesus: «Julgaste bem». E voltando-Se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não Me deste água para os pés; mas ela banhou-Me os pés com as lágrimas e enxugou-os com os cabelos. Não Me deste o ósculo; mas ela, desde que entrei, não cessou de beijar-Me os pés. Não Me derramaste óleo na cabeça; mas ela ungiu-Me os pés com perfume. Por isso te digo: São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama». Depois disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados».
Então os convivas começaram a dizer entre si: «Quem é este homem, que até perdoa os pecados?». Mas Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz».

Da Bíblia Sagrada

Nomes e apelidos

Por conveniência social, desde pequeno me habituei a um atitude de prudente discrição quanto aos meus apelidos e ascendência. Sempre promovi o meu nome de baptismo como prioritária forma de tratamento, para uma mais sã sobrevivência numa sociedade de ressentida bimbalhada ou provincianos bajuladores. Precocemente contactei com esta “mui republicana” cultura, por ocasião da minha passagem pela cinzentíssima escola primária da câmara onde adquiri uma epidérmica embirração ao tratamento pelos apelidos. Não raro o meu nome se tornava alvo de jocosas ou imbecis provocações, as mais das vezes algo antipáticas e subtis agressões às quais (por força das instintivas defesas) rapidamente me tornei indiferente. Curioso é constatar que os preconceitos provinham mais comummente dos zelosos e cinzentos funcionários do regime, (professores ou contínuos) do que das cruéis criancinhas com quem eu ombreava em busca de um lugar ao sol, se possível a jogar à bola.
Vem esta conversa toda a propósito de uns comentários (nem sempre censurados) que têm surgido ultimamente, pretendendo que o nome do Sebastião José seja motivo de chacota para mim, um simples Távora. Então, permitam-me por uma vez abordar aqui questões de genealogia, ciência de que percebo pouco, mas o suficiente para saber que possuo tanto sangue Távora quanto Carvalho e Melo. Para isso bastou o casamento dos meus pais. Para não ir falar de outras mais antigas ligações entre as duas casas (a celebre história do "Bichinho de Conta"). De resto, quanto às ditas provocações, apetece-me dizer que pior que o mau gosto, só mesmo a ignorância.
De resto, talvez se os portugueses dedicassem tanto tempo a conhecer descomplexadamente a história da sua família, a sua "primeira tribo", quanto a bisbilhotar ressentidamente a vida dos outros, fosse a maneira de evoluirmos como povo. A auto-estima constrói-se com a pertença e o conhecimento, não com a ignorância ou efabulação.

A agenda da história – quem a conhece?

Discordo da suposta tendência contemporânea para a poligamia, referida pela Cristina Ferreira de Almeida aqui em baixo, já que essa característica parece-me ser antes uma ancestral genética e cultural tendência humana. Esta propensão poligâmica foi sempre ao longo da história mais ou menos regulada, mais ou menos reprimida. Agora, já concordo que, circunstancialmente, a cultura anarco-liberal vigente, vem, de há algumas décadas para cá, metodicamente destruindo os mecanismos e instituições de auto-regulação. Tudo isto em nome duma pseudo liberdade individual, com que se promove uma global anarquia de costumes, sempre em favor do mais forte, das relações de consumo, em ordem à satisfação imediata do instinto (mais ou menos) predatório e egoísta do individuo. Estas são actualmente as forças motrizes da nossa civilização (aliás nada republicanas – não há gente mais puritana do que os republicanos de gema) que receio cedo entre em retumbante decadência.
Quanto à agenda, concordo que a questão do regime para já não tem grande cabimento. Mas por mim, e por muitos outros monárquicos que conheço, mais à esquerda ou mais à direita, por puro patriotismo e amor à causa, não deixaremos de espreitar uma hipotética oportunidade de questionar o regime... que manchado de inocente sangue, foi implantado pela força da baioneta e da tirania. E vai festejar (?!) cem anos. Não tarda nada.

Precioso silêncio, preciosa música

É comum nos dias que passam, nos escritórios, estabelecimentos ou transportes públicos, encontrar o pessoal ouvindo toneladas de megabites de musiquitas e cançonetas de “fones” nas orelhas ou simplesmente em regime de partilha forçada. Questiono-me então o que faz esta gente quando porventura desejar verdadeiramente o deleite de escutar música. Teve o desejo tempo de medrar, sem o espaço de um precioso silêncio? O que é que se está a “tapar” na alma quando se perde a capacidade de ouvir o silêncio?
Pensando bem, se conseguir uma oportunidade, este fim-de-semana ainda vou sentar-me em frente às colunas a ouvir rodar... o Concerto para Violino de Beethoven (que o meu pai considerava o melhor deste compositor) e... numa onda revivalista, o álbum Magical Mystery Tour dos Beatles. A ver se dá!

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