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João Távora

Uns reis felizes


A vitória do troféu europeu de futebol ajudará certamente à consolidação do grande reino da Espanha tal como a conhecemos hoje. Um orgulho contra todos os separatismos. Eu, por mim, sofro de inveja... duas vezes.

Bicicletas em Lisboa


 


Não me entusiasmam muito as noticias que por aí circulam anunciando projectos de ciclovias para a cidade de Lisboa. Antes preferia conhecer desenvolvimentos quanto aos prosaicos problemas da limpeza ou do estacionamento caótico na cidade. Por mais politicamente correcta que seja a ideia, trata-se quanto a mim de uma caprichosa veleidade provincianamente importada das eficazes e planas cidades europeias.


Acontece que Lisboa, cidade bela e charmosa apesar de arruinada, à conta das suas inúmeras e radicais colinas é tudo menos apropriada para esse salutar meio de transporte. Lembro-me bem  quando outrora circulavam mais bicicletas na capital, elas eram maioritariamente utilizadas pelos amoladores e pelos estafetas da Marconi:  os primeiros limitavam-se a empurrá-las indolentemente assobiando no pífaro, os segundos arrastavam-nas empoleirados nos eléctricos ou nos autocarros. A avisada regra desses ciclistas era respirar um pouco, fosse a subir a Calçada do Combro, a Avenida da Liberdade ou  percorrendo a 24 de Julho.

Morei uma vida inteira em Campo d’Ourique e sei bem como era ingrato sair do bairro na minha linda bicicleta verde metalizada. Sob pena de ter de me esfalfar a voltar para casa, era-me impossível descer abaixo do Jardim da Estrela e o bom senso impedia-me de me aventurar mais abaixo do que a Meia Laranja por mais sedutor que se me apresentasse aquele fantástico  declive. Reconheço que optando por um percurso ali pelas Amoreiras pudesse chegar até ao Campo Pequeno sem prolongados ou abruptos desníveis. Acontece que nada me atraía para essa zona da cidade, os meus interesses situavam-se noutros pontos bem mais acidentados.

Às vezes ponho-me a pensar de onde até onde se pode ciclar por Lisboa sem se ter pernas e pulmões à Joaquim Agostinho. Haverá por certo alguns percursos possíveis, mas que simplesmente não vão dar a lado nenhum. A única solução que vejo será  ter-se um Jeep ou uma carrinha no destino escolhido para se recolherem as bicicletas e assim os ciclistas voltarem  para casa em paz, sem o perigo duma fatal apoplexia, que é algo que nenhum atleta amador deseja.

Excesso de história


Acontece com as pessoas, acontece com as famílias, acontece com os povos. O excesso de história é causa de entropias fatais, de decadência, de extinção.  Agarrados a velhos mitos e traumas, cultivam desavenças e incompatibilidades pueris. Qual amargo solteirão que não se liberta de vazios rituais e trôpegas manias, é atraído para o abismo da estéril solidão. Sem futuro nem esperança, mistificam um passado glorioso, e esperam um improvável messias, uma miraculosa lotaria que os  resgate da ameaçadora decadência.


Cheios de história, feitos e conquistas ancestrais, as pessoas, as famílias ou todo um povo, almejam direitos e honrarias vitalícias. Com excesso de história não se conformam com os ingratos deveres rotineiros, repugnam-lhes as pequenas maçadas e as mais básicas práticas de subsistência. Alienados, impotentes para com a realidade, assim se esvai toda a motivação e a auto-estima, o gosto pela vida, enfim. Isto acontece com os povos, com as famílias e até com as pessoas.

 

Domingo

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo 

 


Eu já estou oferecido em libação

e o tempo da minha partida está iminente.

Combati o bom combate,

terminei a minha carreira,

guardei a fé.

E agora já me está preparada a coroa da justiça,

que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia;

e não só a mim, mas a todos aqueles

que tiverem esperado com amor a sua vinda.

O Senhor esteve a meu lado e deu-me força,

para que, por meu intermédio,

a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada

e todos os pagãos a ouvissem;

e eu fui libertado da boca do leão.

O Senhor me livrará de todo o mal

e me dará a salvação no seu reino celeste.

Glória a Ele pelos séculos dos séculos


 


Da Bíblia Sagrada

Tire a mãe da boca *

O verdadeiro problema de Portugal, maior do que todos os seus “desgovernos”, é os portugueses. Salvo honrosas excepções, genericamente somos gente matreira, irresponsável, preguiçosa e por consequência deprimida.

Exceptuando os anos de António Guterres (que está reformado graças a Deus), desde que me conheço que oiço falar em “crise”: há séculos que todos os estudos e estatísticas teimam revelar o nosso país bem no fundo de quase todas as tabelas.

Ora parece-me que aquilo de que Portugal precisa, mais do que bem intencionadas reformas “ortopédicas”, é de uma mudança radical de mentalidades. Que começa pela assumpção de cada um da responsabilidade que o próprio tem pela sua vida, pelo seu projecto, pelo seu país. Com ambição, com vontade, sem desculpas. Há séculos que vivemos a responsabilizarmo-nos uns aos outros pelos nossos insucessos. Responsabilizam-se os ministros, responsabilizam-se os empresários, responsabilizam-se os empregados, responsabilizam-se as elites e os trabalhadores, responsabilizamos o clima, a religião e a vizinha do lado.

É tempo de deixarmo-nos de pieguices e de cada um encher o peito de ar e fazer-se à vida com ambição e responsabilidade. É tempo de incutirmos princípios, aspirações e força de vontade aos nossos miúdos, dar-lhes o exemplo. Ensinar-lhes que eles são os primeiros e últimos responsáveis pela sua vida e pelo seu sucesso. Que o único verdadeiro poder que detêm é sobre os seus comportamentos e atitudes.

Por patriotismo, devíamo-nos todos deixar de tretas e juntos mobilizarmo-nos para uma  enorme campanha pela auto-responsabilização e motivação dos portugueses. Só com uma profunda reforma dos portugueses acredito que algum dia possamos sair  do buraco. O resto são balelas, politiquices e pura perda de tempo.


 


* "Tire a Mãe da Boca” é o título de um ensaio e de um antigo programa radiofónico da autoria de João de Sousa Monteiro.


 

Pai de família


 


Quando em qualquer contexto me adjectivam como “pai de família”, sinto um misto de orgulho e decepção, já que a paternidade para mim, mais do que um papel é um "estado" sem mérito, tão inevitável quanto eu ser homem ou ter olhos azuis. Depois, é a minha  traiçoeira imodéstia que aspira a distinta adjectivação, como se tal fosse importante ou influísse na realidade da minha existência.

Por fim até aceito o relevo desse meu traço: acreditem que o mais despudorado e horrível dos filmes de terror, por mais elaborado nos efeitos ou perverso no argumento, pouco me amedronta comparando com uma qualquer cena de drama familiar com crianças à mistura. As mais inocentes histórias de família com mortes ou desaparecimento de miúdos são para mim um suplicio total. E das mais sofisticadas nem se fala: não me esqueço como me contorci de sofrimento com algumas cenas de "Babel", de Alejandro González Iñárritu, quando a Amélia a baby sitter perde as criancinhas algures na fronteira mexicana, ou com as trágicas desventuras de Yussef e Ahmed nas montanhas de Marrocos. Simplesmente insuportável.

 

António de Almeida


Fumar ou não fumar




Duas iniciativas legislativas aparentemente não relacionadas entre si merecem alguma reflexão: estou a referir-me à lei do tabaco entrada em vigor no início do presente ano e às alterações que o governo pretende introduzir no código do trabalho. Imagine-se alguém que tendo desempenhado as suas funções sem qualquer problema até 31 de Dezembro passado, fumador inveterado, cujo local de trabalho é por exemplo um 6º andar, impossibilitado de fumar nas instalações onde exerce funções, se desloca durante um dia de trabalho umas cinco ou seis vezes à rua, estamos a falar dum médio fumador, dez minutos cada cigarro, mais elevador, subir e descer, irá gastar cerca de hora e meia diária com o seu vício, agravadas pela quebra de ritmo, pelo que será previsível uma baixa de produtividade de tal trabalhador.


Será legítimo que a sua entidade patronal, face à quebra de produtividade do seu empregado, o vá penalizar em termos salariais, podendo inclusive ponderar a sua substituição por outro isento de hábitos tabagísticos? Será exigivel à entidade patronal continuar a suportar os custos e actualizar se possível o salário de tal trabalhador quando o mesmo já não apresenta os resultados anteriores? E se tais resultados eram absolutamente necessários à sobrevivência da empresa? Ficará esta amarrada à manutenção deste funcionário, obrigada a contratar um terceiro para fazer parte das tarefas que o primeiro até aqui assegurava? E se a empresa apenas conseguir honrar um dos compromissos salariais?


Permitirá o código do trabalho, a bem da sobrevivência económica duma empresa, discriminar alguém apenas por ser viciado em cigarros? Despedido o trabalhador, iremos todos enquanto sociedade suportar os custos do subsídio de desemprego a tal cidadão, e ainda onerar o SNS com consultas de desabituação tabágica, acrescidas da despesa que a SS irá realizar na comparticipação dos medicamentos?


De todo este problema que aqui apresentei, o qual poderá estar a ocorrer num qualquer escritório perto de nós, qual terá sido a variante da equação capaz de causar todo um drama? Porque se a empresa decidir tolerar o hábito do seu funcionário sabemos as multas em que incorre e quem são os ninjas de serviço prontos para a acção, bem como os rostos que irão justificar tal actuação.




António de Almeida (do blogue Direito de Opinião)

Domingo

Evangelho segundo São Mateus10, 26-33


 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos:

«Não tenhais medo dos homens,

pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se,

nada há oculto que não venha a conhecer-se.

O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia;

e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados.

Não temais os que matam o corpo,

mas não podem matar a alma.

Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.

Não se vendem dois passarinhos por uma moeda?

E nem um deles cairá por terra

sem consentimento do vosso Pai.

Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.

Portanto, não temais:

valeis muito mais do que os passarinhos.

A todo aquele que se tiver declarado por Mim

diante dos homens

também Eu Me declararei por ele

diante do meu Pai que está nos Céus.

Mas àquele que Me negar diante dos homens,

também Eu o negarei

diante do meu Pai que está nos Céus».


 

 

 


Da Bíblia sagrada

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