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João Távora

Novo-riquismo, pobre povo


Ainda a respeito deste texto de ontem sobre a notícia do DN em que a jornalista Patrícia Viegas, em detrimento da substância do discurso da rainha Isabel II, contrapunha ao programa de austeridade anunciado o luxo nos rituais da abertura do novo parlamento inglês, pergunto-me onde pairam estas zelosas consciências republicanas quando confrontadas com os exacerbados gastos com os “eventos”, modernaços rituais fashion de propaganda à nossa pindérica república. É que, sem reciclagem possível, afinal são gastos milhões em cenários feéricos, K-lines, lazers e truques pirotécnicos. E que dizer dos astronómicos despendidos no hemiciclo e da Assembleia com toda a sorte de traquitana tecnológica comprada por grosso cuja utilidade caduca em poucos anos?

Finalmente, nunca será demais relembrar que o site da Comissão do Centenário da República foi adjudicado por ajuste directo por cem mil euros (100.000,00): quem conhece os preços do mercado, entende o escândalo a que me refiro. Todo este despesismo não é mais que uma expressão da nossa mesquinhez, do novo-riquismo desta hipócrita e diletante república. De resto a profunda pobreza do nosso país e ignorância do nosso povo permanece um drama sem resolução à vista.


Na imagem: exemplo de uma tão dispendiosa quanto inútil e redundante operação de marketing a propósito da mais completa vacuidade política: o Tratado de Lisboa.

 

Publicado originalmente aqui

São verdes, não prestam

 

Talvez sob o patrocínio da Comissão Nacional para as Celebrações do Centenário da Republica do Dr. Santos Silva, o Diário de Notícias titula hoje que a “Rainha pede cortes no meio do luxo” a propósito do discurso na sessão inaugural do parlamento inglês. Este aleivoso título é ilustrado com uma imagem de pompa e circunstância de Isabel II à chegada a Westminster. Num pequeno texto a negrito em baixo pergunta-se, numa tentativa de ironia, se a casa real britânica que cujo orçamento de 2009 foi de 48,2 milhões de euros este ano também vai apertar o cinto.

Espantoso é todo este preconceito alimentado neste país sempre “na crista da onda”, esbanjador e à beira da falência, que pretende, quem sabe, direcionar a ancestral mesquinhez e ressabiamento luso, para os imperialistas da Velha Albion, a mais antiga, estável e prospera democracia do mundo. A rainha deslocou-se numa carruagem dourada usando uma tiara com três mil diamantes preciosos, salienta a jornalista Patrícia Viegas, sem explicar que todos estes artefactos pejados de simbolismo, pertencem ao Estado, e que nestes ancestrais rituais se identifica todo aquele povo empreendedor e orgulhoso. De resto não é feito nenhum estudo comparativo entre os 48,2 milhões e os custos de outras chefias de Estado europeias, como por exemplo a portuguesa: a presidência da república custa a cada português nada menos que o dobro do que custa a cada Britânico a sua Monarquia. A diferença é ainda mais gritante se a comparação for feita em percentagem do PIB (valores Wikipedia para 2007): 0.0115% do PIB em Portugal, 0.0023% do PIB no Reino Unido. De resto, não falemos de eficácia, sobre isso estamos conversados.

 

Fontes: The British Monarchy e Ministério das Finanças, Direcção Geral do Orçamento

 

Agradecimentos a Luís Bonifácio