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João Távora

De joelhos para mudar a História

 

Como aqui refere Fernando Alves, com a habitual ambiguidade dos “Sinais”, a sua crónica matinal da TSF, de facto um grupo de católicos desde Junho de 2009 promove “um milhão de terços por Portugal”, iniciativa que vem “incendiando” várias igrejas do país em oração comunitária. E acredite o cronista que os joelhos são de facto a mais poderosa arma dos cristãos, pois a demanda duma prece profunda e crédula envolve o Homem na mais profícua relação interpessoal: com Jesus Cristo. Ao contrário do que aparenta àqueles que não crêem, é com este Amor que as mais profundas angústias humanas se colocam sob uma mais sã perspectiva. É resultado deste Amor que Deus interfere verdadeiramente na (nossa) História. Não tenho dúvidas de que os cristãos possuem o mais poderoso recurso para enfrentar as adversidades com que somos ameaçados nestes conturbados tempos. É com os joelhos no chão que nos redimimos e libertamos. Porque como escreveu Alberto Caeiro “(…) eu sou do tamanho do que vejo / E não do tamanho da minha altura...".

Aníbal Cavaco Silva

 

Ponto prévio: por uma questão de objecção de consciência abster-me-ei na disputa presidencial de Janeiro. Dito isto, gostava de dizer que considero Cavaco Silva simboliza o lado idílico daquilo que a república tem para nos oferecer: a ascensão duma pessoa de origem social modesta e geograficamente periférica ao topo da hierarquia do Estado. Em última análise esta ascensão personifica a consumação do mais alto desígnio duma democracia, bandeira antes tão querida duma Esquerda que hoje é dominada por uma casta aburguesada e pretensiosa que adivinha em Cavaco as suas envergonhadas origens rústicas, um Portugal real que desprezam por complexos sociais. Depois, parece-me injustificado o rancor ao presidente corporizado por uma certa direita que projecta as suas frustrações para a pessoa do presidente, quando o problema quanto muito está na natureza do cargo, que considero basicamente inútil. Bem que eu gostaria de perceber em que se consubstancia esse famigerado “magistério de influência”: imaginem os problemas de consciência e hesitações com que o José Sócrates se foi debatendo de cada vez que saia dos seus encontros em Belém…
Por estas razões confesso que me custa ter de aturar o circo que agora se levanta, as polémicas estéreis e promessas vãs, os recursos e energias inúteis que este País à beira da falência se prepara para desbaratar. O Presidente da república é cargo de fraco valor simbólico, um árbitro recrutado a uma das equipas a quem houve a sensatez de retirar o apito e os cartões para não chatear muito. De resto espera-se que esta farsa insana pela nossa saudinha se decida à primeira volta, pois que se houver segunda eu emigro.

O Dia Internacional do Homem

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A razão da obscuridade desta efeméride é para mim fácil de entender: ao contrário das mulheres que espontaneamente assumem uma identidade de classe, um arquétipo assumido, nós os homens, para lá duma obsessão pelas mulheres bonitas e do incómodo que partilhamos a tratar a pilosidade facial com desmaiada frequência, pouco mais temos comum. Antes pelo contrário, saudavelmente divididos olhamos com reserva para qualquer outro macho que se aproxime. Foi assim individualistas que conquistámos o Poder, apoiados em restritos núcleos de leais "irmãos de armas" em noitadas, futebol, inconclusivas tertúlias e outras diletâncias.Não é fantasia nenhuma, existe mesmo um Dia Internacional do Homem, que se celebra no dia 19 de Novembro de cada ano. A ideia peregrina segundo a Wikipédia nasceu dum tal Jerome Teelucksingh do Trinidad e Tobago, que logo obteve o apoio da ONU (que pouco mais tem para fazer) e “vários grupos de defesa dos direitos masculinos da América do Norte, Europa, África e Ásia” (que devem ser todos homossexuais)!

As mulheres, ao contrário, ficam bem juntas, em manifestações contra as cintas e soutiens, em excursões à casa de banho, em grupos de auto-ajuda ou organizações feministas, nem que seja em legitima defesa da proverbial grunhice masculina. As mulheres são de facto um segmento politico, sociológico e de mercado, uma classe à parte, verdadeiramente identitária: está-lhes no sangue. Conheço quatro irmãs, filhas dum distinto marialva saloio à moda antiga, que cresceram sob o terror de virem a ter um irmão. Esse irmão que nunca chegou a existir, ainda hoje é vilipendiado e odiado pelas quatro senhoras, hoje bem casadas e extremosas mães de filhos (!), por causa da mera hipótese desse moço que não chegou a ser, poder um dia ter sido o Varão mimado, companheiro de caça, cúmplice de farras do seu saudoso pai. Uma ingénua conjectura de quem não conhece o estranho bicho que vive em nós… e a imanente ruptura ontológica entre um pai e um filho.

Antes que isto vire para o sério, convém sublinhar que esta veleidade do Dia Internacional do Homem para além de significar um preocupante sinal de decadência de género, está condenada ao falhanço por tratar-se duma verdadeira mariquice. Afinal de contas qual é a semelhança, a causa comum por exemplo entre mim, o Daniel Oliveira, o Senhor Artur da mercearia, o Arcebispo de Cantuária e o Cristiano Ronaldo? Para o bem e para o mal somos todos géneros bem distintos a puxar cada um para o seu lado. É assim que o Dia Internacional do Homem está condenado ao fracasso, pela simples razão que enquanto um homem for homem, esse dia será quando e como cada um deles quiser.

Uma noite longe da crise

 

Enquanto os analistas económicos e políticos peroravam nas TVs, a minha noite de Domingo  foi memorável com o concerto de Lloyd Cole no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra. O cantor, poeta e compositor, apresentou-se com Mark Schwaber (na guitarra e no bandolim) e Matt Cullen (na guitarra e no banjo), músicos que participaram na gravação do novo álbum "Broken Record" numa formula 100% acústica. As reservas iniciais causadas pelo facto provaram-se injustificadas pelo virtuosismo e engenho colocado nos arranjos. Quanto a Lloyd Cole, de modo sóbrio e anti-estrela demonstrou grande forma com a sua singular voz insinuante e arrancando da guitarra acústica os seus inconfundíveis jargões de forma irrepreensível. De resto aconselho vivamente a audição os seus últimos discos "Music in a Foreign Language", "Antidepressant" e "Broken Record" que enterram definitivamente qualquer saudosismo dos "Commotions".

A culpa poligâmica

 

Chegados a este Estado de tragédia nacional, surgem os inevitáveis julgamentos e inventariação de culpados, pois que tamanha hecatombe não assenta bem num só (des)governo. Claro que numa análise profunda e isenta, as “culpas” alcançam o fundador da Pátria, D. Afonso Henriques e a sua desmesurada ganância de poder. Assim se relativizam as responsabilidades daqueles que em treze dos últimos quinze anos, (des)governaram a rés publica, inspirados na máxima do inenarrável presidente Sampaio “há mais vida para além do deficit” - com que este cuidou de desautorizar as veleidades da Dra. Manuela Ferreira Leite).

Mas eis aqui a minha patriótica contribuição para este magnânimo julgamento, chamando ao banco dos réus aqueles que durante os últimos anos cuidaram de assassinar politicamente qualquer oposição ás fantasias de José Sócrates. Refiro-me ao mais poderoso lóbi do regime, refiro-me ao 4º poder, à comunicação social amestrada com a sua promíscua cultura cortesã para com o Poder da Esquerda em geral e para com a máquina de propaganda socialista em particular. Foram estes senhores e os seus jornais que impunemente patrocinaram seis anos de negação da realidade, entretidos com as Causas fracturantes e demais contra-informação. Os jornalistas que por estes dias se contorcem habilidosamente entre os pingos da chuva desiludidos a vociferar contra os mercados, a conjuntura internacional e a ausência duma Europa solidária (para connosco, claro), são dos mais responsáveis pelo descalabro a que chegámos. E já que não são escrutinados eleitoralmente talvez devessem ser julgados por crime de delito comum, por cumplicidade na previsível falência da nossa economia através de publicidade enganosa. São co-responsáveis pela pobreza e angústias que se virá multiplicar em muitas casas e famílias portuguesas, desamparadas do manto protector do Estado socialista. Os senhores a que me refiro têm nomes e bilhetes de identidade, e só por leviandade ou pura mitomania dormem descansados. Ou será por convicções políticas?

Uma extorsão aviltante

 

Ontem "eles" conseguiram surpreender-me pela brutalidade das medidas fiscais anunciadas. Mais do que uma descarada afronta às reivindicações da direcção do PSD de quem secretamente anseiam um chumbo, o seu projecto de Orçamento Geral de Estado constitui um violentíssimo murro no estômago da classe média portuguesa e um rude golpe nas micro e pequenas empresas: conjugando este feroz aumento da carga fiscal à previsível retracção da economia muitas delas não sobreviverão. Nesta negra paisagem, permanece e certamente sobreviverá um oásis: as empresas, institutos e organismos ligados ao Estado, que, ávidos, cuidarão de queimar os milhões extorquidos aos contribuintes. Uma vez mais os donos do Estado não se atreveram a afrontar a sua anafada e gananciosa corte, uma pseudo-fidalguia do regime. Eu não tenho palavras para a revolta que sinto. E José Sócrates dorme descansado?

A despótica república

A notícia que saiu dia 12 de Outubro na página 19 do Correio da Manhã (sem versão online) foi-me dada ontem ao telefone pelo seu pai atónito: Sebastião, acabara de voltar para casa proibido de participar numa sessão sobre o Centenário da República na Escola Secundária de S. João do Estoril por envergar uma t-shirt azul como a da fotografia. Este acto de descarado despotismo só se compreende na velha óptica republicana que por um ideal que acreditam sagrado e indiscutível se condiciona a liberdade de escolha e de expressão às pessoas. Da minha parte até percebo a cautela destes zelosos milicianos do regime: da minha experiência em escolas onde se promoveram debates francos e abertos sobre a monarquia e república, foi surpreendente a adesão e o entusiasmo dos alunos, sempre rebeldes, pela opção monárquica, ou simplesmente pela desmontagem da propaganda dos poderosos. Força Sebastião! Força Sebastiões!

 

PS: Para os interessados este modelo de camisola encontra-se à venda aqui

Bem vindos ao clube

 

Na verdade, os cerca de setecentos mil cidadãos que constituem a classe do funcionalismo publico em Portugal, com o seu proeminente poder de influencia eleitoral, só agora aterrou na crise que assola o país real há quase dois anos. O congelamento ou corte entre os três e dez por cento na escala dos seus vencimentos, se outra virtude não tiver, tem a de que coloca diante dos seus olhos, para que servem e como se podem gastar os cerca de oitocentos milhões de euros que serão poupados à sua custa em 2011. É muito salutar que todos os portugueses fiscalizem e se inquietem com a orgia que há trinta anos vem crescendo despudoradamente à custa duma economia cada vez mais frágil e dependente. Por exemplo, aconselha-se que essas contas se façam a começar numa atenta visita a este sítio.

Pela Pátria

 

1 - Como era de esperar uma “vaga de fundo” conservadora não surgiu e José Ribeiro e Castro, um político que admiro pelo trabalho e coragem na assumpção da diferença, desistiu da veleidade duma candidatura às presidenciais. E fez bem: definitivamente não é duma "presidência" que os católicos precisam, mas sim duma intensificação da sua intervenção no terreno, através do associativismo e organizações cívicas, e duma mensagem mais assertiva do seu património ideológico, nomeadamente no parlamento e nos media. Tudo o mais são quimeras, dispêndio de latim, energias e recursos materiais. Para corta-fitas bastamos nós.

 

2 – Literalmente entalado no colete-de-forças do calendário constitucional, ameaçado à colagem com a mais incompetente governação das últimas décadas, Pedro Passos Coelho estrebucha compreensivelmente contra o cruel destino que se lhe depara: ter que deixar passar um orçamento tão impopular quanto inevitável. A alternativa é um ano de caos político e desordem financeira, um “quanto pior melhor” principio revolucionário que não é cultura do seu eleitorado, e cuja factura não deixaria de ser cobrada nas eleições intercalares, sob os auspícios do FMI. Assim sendo, nestes dias que nos separam da votação do OGE recomenda-se à direcção de PPC algum bom senso e uma consequente atitude de recato e moderação. Pela Pátria, se isso os interessar para alguma coisa.

Um outro centenário

 

João António Gomes de Castro, meu avô e padrinho, nasceu faz hoje cem anos. Filho único de famílias com tradição burguesa e liberal, cedo ficou órfão do pai, tendo crescido no Portugal conturbado do princípio do século. Bancário de profissão e monárquico militante, foi um cidadão do seu tempo: fundou a editora Gama para publicação dos grandes doutrinários da monarquia, foi um dos primeiros portugueses com brevet de aviação civil, e acompanhou S.A.R. no exílio D. Duarte Nuno de Bragança na viagem ao Brasil em que se celebraria o noivado com D. Maria Francisca de Orleães e Bragança. Casou com Maria da Assunção Daun e Lorena, uma mulher fascinate de quem teve sete filhos. Na Avenida da Liberdade em que crescera, no coração do império como alguém chamara, constituiu uma das casas mais luminosas de Lisboa dessa época: muito ouvi eu falar os amigos dos meus tios e avós dos saudosos serões bem-humorados de conversa fácil e erudita, um mundo encantado que eu ainda vislumbrei em pequeno. O 25 de Abril apanhou o meu avô João numa acelerada decadência física causada por uma doença incurável. A revolução ainda teve o condão de lhe avivar a ingénua esperança no restabelecimento da monarquia, por via do sufrágio universal.

Hoje lembro com saudade o Avô João de fato elegante, lenço branco no bolso do casaco, cabelo com gel e cheiro a lavanda.

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