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João Távora

O embate da cruel realidade

A quimera do dinheiro fácil, patrocinado por uma magnânima federação europeia ou pela promessa dum futuro oásis económico erigido pelos nossos intrépidos netos ou bisnetos desfez-se  em meia legislatura. Veja-se como nuestros hermanos agora decidiram suprimir três ligações de alta velocidade, que que desde Dezembro último ligavam diretamente Toledo, Cuenca e Albacete, por simples falta de procura.
Este como outros iminentes reajustamentos de projetos faraónicos ou falências de Estados, assim como a subsequente depressão do Dr. Mário Soares e dalguns cândidos sobreviventes do Maio de 68, não se devem às fracas lideranças europeias e muito menos a um malévolo complot da senhora Merkel. Devem-se simplesmente ao inconciliável mosaico de distintas nacionalidades europeias, e a simples questões de básica aritmética. Não entender a diferença entre solidárias federações de Estados como os da América ou da Alemanha, com a utopia dum projeto federal duma Europa, composta por irredutíveis e idiossincráticas nações com séculos de História, se não for ingenuidade é estupidez.

Quando o assessor de imagem é a notícia...

 

Passou algo despercebida a notícia do dia, um furo do jornal i, novidade da estação, quem sabe o mais profundo golpe no destino, tal como o conseguiriamos prever: o celebrizado "Luís fico melhor assim ou assim", o maior especialista de spin do gabinete de Sócrates vai apoiar António José Seguro. Significa isto que a “máquina” não pára, muda só "o boneco". Que certamente ficará melhor assim… ou assado. O consumidor é que sabe.

Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades

 

Por estes dias de permente conversão de prioridades, em que o segundo cargo da Nação é assumido por uma mulher feminina e inteligente, em que viajar de avião em classe económica se torna fashion, destaco o novo ministro da Segurança Social, ex-presidente do grupo parlamentar do CDS (e aqui entre nós ilustre membro do Conselho Monárquico da Causa Real) o Luís Pedro Mota Soares, um verdadeiro gentleman que promete manter a sua elegante e económica Vespa 125 como meio de transporte preferencial para pequenos percursos. </p

A desregulação moral

 

Economia Moral e Política de Vitor Bento publicado pela fundação Francisco Manuel dos Santos, foi por estes dias um dos meus livros de cabeceira. Este pertinente ensaio (pena que a edição tenha tantas gralhas) faz uma despretensiosa reflexão sobre as ligações entre economia, moral e política, por exemplo, na óptica da desregulação dos mercados e do recentes escândalos que abalaram e hoje marcam as debilitadas economias ocidentais. Este assunto fascina-me, na medida em que, nos mercados operam pessoas e as suas escolhas, e a tese deste economista com mestrado em filosofia, vem de encontro da minha apreensão a respeito do emergente modelo cultural no ocidente: eminentemente hedonista e relativista, depois de ter despachado Deus e a religião como empecilhos às liberdades, nele se relegam as questões morais para o foro das opções subjetivas individuais.
De uma coisa estou eu certo: jamais haverá uma sociedade boa sem pessoas boas, cujas ações objectivamente aspirem a um bem maior (santidade) em detrimento das suas pulsões ou proveitos imediatos.

Danos colaterais

 

O mais pequenote ainda dá saltinhos de alegria quando chego a casa: por estes dias vive afogueado num virote com a sua trotinete nova, que só falta dormir com ela. 
Levamos uma vida a educar os miúdos tão amorosos, primeiro nos baloiços e nos jogos nas brincadeiras, depois nas tarefas e nas obrigações, a desafia-los à plenitude, ao amor, a confiarem e a questionarem, a entregarem-se e relacionarem-se, superarem-se, afirmarem-se, questionarem-se, resistirem e rebelarem-se… sem darmos conta que seremos nós, os pais, os primeiros em quem os filhotes queridos ensaiarão integralmente o que lhe fomos ensinado.

Por falar em esperança

 

Enquanto decorrem as negociações (em recato) para um governo que nos salve do abismo e os socialistas lambem as feridas duma zaragata de seis anos, gozamos por estes dias umas raríssimas tréguas e inaudita serenidade política que desconfio se irão estender à estação tola. A realidade tombará ribombante lá para o mês de Setembro, mas entretanto folgam as costas, caiem as visitas no sitemeter na justa proporção em que se enchem as praias.
Entretanto  neste período de deliciosa irrealidade que vimos gozando desde o dia 6 de Junho, desfruto com prazer os sinais da bonança, estado que por norma intervala com a tempestade: um tempo luminoso e ameno que sara qualquer tristeza, as promissoras contratações do Sporting que até Setembro empolgam o mais céptico adepto, o retorno da elegante eloquência da Ana Lourenço à SIC notícias, uma mini gelada numa tasca do Camões depois duma dura reunião, já para não falar do chegar a casa a tempo de ler o jornal i na varanda soalheira. Assim, para já para já, que mais pode um homem desejar? De resto um bom cristão é por inerência optimista, que em caso extremo caminha confiante ao encontro das feras no circo romano. 

Vícios privados

 

Numa das minhas recentes incursões na Amazon tropecei na reedição remasterizada de Adventures In Modern Recording dos Buggles de Trevor Horn, precisamente aqueles burgueses plastificados de Video Killed the Radio Star, protagonistas do arranque da MTV. Tropecei, caí, recebi pelo correio e esta manhã sozinho em casa, com a ajuda de muitos decibéis, desavergonhadamente deleitei-me a ouvir este álbum de melodiosas banalidades perdidas no tempo. Hoje como há trinta anos num acto de inconfessável prazer solitário.
Sempre tive os meus secretos devaneios pop, gulodices incompreendidas pelo meu círculo de eruditos amigos, cuja conversa nesta matéria não jamais descia abaixo dum Peter Gabriel, JJ Cale, Patty Smith ou Maria Bethânia. Secretas fraquezas com que desconfio afinal todos nós retemperávamos de tempos a tempos os nossos apetites musicais mais primários.  

Água na fervura

 

Os resultados eleitorais de 5 de Junho trazem consigo a perspectiva de alguma normalidade política, que não vende jornais nem promove as audiências, mas que é fundamental para o trabalho que a situação exige... e muito saudável para as nossas vidas: por mais que as grandes causas empolguem monótonas existências, nenhum país aguenta em constante campanha eleitoral. Agora há que ultrapassar uma espécie de depressão pós-stress, as cismas que o sol de Verão certamente ajudará a relativizar. De resto, como bem sabemos a resolução da crise e o mundo melhor começa no que cada um de nós faz com a sua própria vida. 

Curta crónica duma grande campanha

Tenho que aqui confessar, a par do sentimento de alívio de ver destituída a ruinosa troupe de José Sócrates, uma certa desilusão com os resultados do CDS: sem grandes euforias, eu esperava a eleição de mais dois ou três deputados, nomeadamente em Leiria e no Porto. 
Este desfecho releva-nos para algumas realidades que julgo serem incontornáveis: a tendência bipolar do sistema político nacional, as débeis estruturas territoriais dum pequeno grande partido como o CDS, e Last but not least, a sua matriz suportada em honrosas Causas tendencialmente minoritárias: historicamente os sólidos valores cristãos nunca granjearam grande popularidade.  Definitivamente o sufocante Centrão não é o nosso espaço.
Reitero no entanto aquilo que aqui afirmei há dias: dadas as circunstâncias, fez-se uma espantosa campanha eleitoral… e o partido conta com um grupo parlamentar com valores de excelência. Os meus parabéns e votos de coragem a todos, que a hora é de pôr mãos à obra para recuperar Portugal.

O voto e a rua

Com as manifestações editoriais do Público sempre sabemos ao que vamos: por exemplo o jornal apoiou o aborto, o casamento gay e hostilizou Cavaco Silva. Nessa mesma linha, hoje esse jornal insurge-se contra o apelo ao voto de Cavaco Silva, relevando que a democracia admite outras formas de participação. O facto é que o presidente não disse que quem não vota a seguir tem de ficar calado; disse que perde legitimidade de se queixar do governo, coisa do domínio do bom senso. Interpretar outra coisa é um abuso politicamente enviesado. Sabemos muito bem como uma certa comunicação social a par duma minoria parlamentar da extrema exquerda, acalenta o secreto desejo de fazer de Lisboa uma fervilhante Praça Tahrir. Para seu azar tem que se contentar com meia dúzia de ganzados na Praça do Rossio.

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