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João Távora

Dia mundial da poupança, ou dia nacional da racionalidade

 

Neste dia mundial da poupança foram vários os artigos, entrevistas, alvitres e juízos sobre o modo como podemos aforrar e economizar os nossos parcos recursos financeiros. Nesse discurso reconhece-se uma pedagogia dum certo retorno ao essencial, repetida sob diversas formas e perspectivas, numa abordagem em que, face às circunstâncias depressivas da economia portuguesa, faltou ressalvar o essencial: o consumo em si não é coisa ruim, o que falta essencialmente é a promoção de racionalidade e critério. Recomendar aos portugueses comerem em casa em vez de irem ao restaurante, incentivar-se mecanismos de troca de bens reutilizáveis são boas soluções de recurso, mas a estratégia levada ao extremo significa uma fatal paralisia da economia. Se é fundamental que os portugueses sejam mais previdentes na gestão da economia doméstica ou empresarial, também é importante a procura e descoberta de novas e criteriosas soluções num mercado que irá mais cedo ou mais tarde adaptar-se à dura realidade: pressente-se já não só alguma redução de “margens”, mas tentativas criativas de marketing tendo em vista novas prioridades e perfis de consumo. O cliente já não procura apenas a relação qualidade / preço, mas vê-se obrigado a ponderar a relação necessidade/potencialidade de cada produto / serviço. No entanto persistem por aí marcas, serviços e produtos sustentando inflacionadíssimas estruturas físicas e humanas além de tão dispendiosos como descalibrados orçamentos de comunicação. 
Perante a grave crise que atravessamos, a palavra de ordem neste Dia Mundial da Poupança deveria ter sido: despenda com inteligência, consuma nacional, na qualidade adequada pelo valor que esta realmente merece. Esse sim seria um decisivo incentivo ao profissionalismo de mérito, a empresas e mercadorias com valor acrescentado produzidos com inteligência e recursos racionalizados. Gastar bem é a melhor forma de poupar, e carpir é decididamente a mais estúpida forma de desbaratar energias.

 

Publicado também aqui.

A tirania do jornalismo amestrado

 

Entre referências ao dúbio comunicado do Secretariado Nacional do PS sobre as declarações de Passos Coelho em Assunção na Cimeira Ibero-Americana  nos noticiários radiofónicos das 17 e das 18,00s fui esta tarde mimoseado por duas vezes com uma palavrosa incitação ao ressentimento e insurreição popular pelo reverendo Louçã, a estrela da tarde na TSF e Antena 1 em disputa ombro a ombro com os relatos da bola.

O desproporcional protagonismo dado pelas rádios e televisões ao Bloco de Esquerda, um partido marginal representante de pouco mais de 5% dos eleitores constitui uma aviltante e gratuita agressão aos restantes portugueses. Jerónimo de Sousa que se cuide, e o novo presidente da ERC Carlos Magno a quem já por algumas vezes ouvi reclamar sobre o assunto que passe das palavras aos actos.

O ajustamento

Por mim nada tenho contra os funcionários públicos, alguns dos quais estimo francamente porque um dia me foram genuinamente úteis ou porque são meus amigos pessoais. As únicas coisas que me preocupam na “classe”, são: 1) a excessiva protecção no emprego que adultera as regras dum salutar mercado de trabalho, 2) de onde vem o dinheiro para pagar tamanha corte, 3) a sua tremenda influência politica, (jamais deixam a eleição do seu patrão em mãos alheias). Coisa pouca para quem tem uma casa e quatro filhos para criar numa economia em implosão. 
A mais de resto até se percebe porquê o Cavaco, o professor Marcelo e outros diligentes políticos da nossa praça serem tão extremosamente críticos quando se fala de despedimentos, cortes nas regalias da função pública e das empresas estatais. Temem ter de tomar posição numa “guerra civil”: um verdadeiro regalo que levavam por tabela e lá se iam as aspirações políticas para as calendas. Um ajustamento definitivo.
Eu por mim volto ao início da conversa: o meu pai foi um digno empregado da biblioteca da Assembleia da República (imagine-se!), não há Estado sem funcionários públicos, e eu como não sou anarquista, tenho-lhes muito respeito, admiro e gosto de alguns, principalmente dos meus amigos. 
Mas nós lá em casa Graças a Deus nunca usufruímos do subsídio de morte, há muito que não temos horários, não recebemos nem pagamos subsídios de Natal ou de Férias. Fuçamos cada mês para ter vencimento, viver com dignidade e pagar as contas todos os meses. O trabalho não cai do céu, conquista-se com ciência, muita garra e sem indignação, que afinal faz tão mal ao fígado. 

Ironia do destino

Não há muitos anos noticiava-se e discutia-se nos fóruns nacionais, europeus e mundiais o perdão da dívida de… Moçambique, Guiné, Etiópia, Gana, Guiana, Honduras, Madagascar, Mali, Mauritânia etc. … por razões humanitárias.

Uma coisa linda de se ver

 

O Sporting está mesmo de volta e é um caso de sublime exultação neste país deprimido, não só por terem atendido à táctica há muito preconizada pelo nosso Duarte Calvão de transferirem o Yannick Djaló para as revistas cor-de-rosa, mas porque a direcção contratou meia dúzia de grandes talentos não se sabe bem com que dinheiro. Depois são as circunstâncias e um treinador de invulgar sensatez, Domingos, (Pinto da Costa deve estar a bater com a cabeça nas paredes) que têm distribuído “felicidade” a rodos ao plantel, unido que ficou pelo cimento daquele jogo épico contra a Lazio no mês passado. É ouro sobre azul quando cada suplente utilizado é um caso de sucesso em campo: Matias Fernandez brilhante a substituir Elias, Carriço cumpriu e marcou ontem nas vezes de Onyew, Bojinov entrado a 16 minutos do fim marca dois golos… E depois é aquele extraordinário Capel, irradiante de fulgor e invulgar velocidade e técnica. É o nosso novo “mochilas” a pôr o estádio a cantar, na velha tradição de Iordanov, Diniz e outros marrecos talentosos que conquistaram pela porta glória os corações leoninos. Assim a bola é uma coisa linda de ser ver!

Uma boa notícia: o Mundo não acaba amanhã!

 

Por estes dias em que a poeira assenta desvendando uma assustadora crise com dolorosas consequências para todos, convém não perder de vista a racionalidade, como resposta à mais funesta das afeições: o Medo, que tudo destrói. Racionalidade e solidariedade são as únicas atitude viáveis para se encontrarem saídas para os problemas que vamos enfrentar. Na certeza que o mundo não acaba amanhã, e que a Vida encontra sempre um novo caminho para fruir. É assim há milhares de anos. É do mais amargo caos que nasce uma nova alma, para quem não se afundar agarrado à própria desgraça e aos seus velhos paradigmas. E desculpem-me a sobranceria, mas com os meus intensos 50 anos eu sou testemunha disto mesmo.

As cabeças e o cepo

 

Suspeito que Cavaco Silva nunca julgou vir a exercer um mandato como este que lhe saiu na rifa. Porventura julgou que os seus currículo, idade e queixo empertigado lhe confeririam estatuto suficiente para gerir a presidência como “habitualmente”. A vida como habitualmente é coisa finada. Acontece que o seu mandato está armadilhado, não só pelas contradições da arquitectura do semipresidencialismo tuga, mas por um estado de emergência que conduzirá o País, de ajustamento em ajustamento, a um ensurdecedor ambiente pré-revolucionário. Conceda-se que a prestação de Cavaco não é pior do que a do seu comovido antecessor, de tão boa imprensa. O Dr. Sampaio é um caso paradigmático de como uma série de aleatórias coincidências da agenda política elevam um advogado não particularmente talentoso ao cadeirão de Belém, atribuindo-lhe o direito a umas indulgentes referências nos rodapés da História e a uma tela a óleo pendurada nos corredores do palácio.
Ontem, Cavaco, velha raposa keynesiana, penhorado filho dos tempos dos fundos sociais e de coesão que o catapultaram, não resistiu à tentação de se demarcar do amargo destino que nos espera e dos actores que se vêem obrigados ao trabalho sujo de controlar os danos deste caótico fim de festa. No fundo, Cavaco também nos vem acenar que há vida para lá do deficit: um conhecido vício socialista e um vírus impregnado nos reposteiros de Belém. Para já, tirou a cabeça do cepo, mas está indelevelmente marcado como déspota de “Versalhes”.
Já tínhamos vislumbrado os abutres a pairar em volta desta nossa Nau adornada, e sabemos como os ratos são sempre os primeiros a escapar. De resto, honradez não é uma qualidade de “direita” ou de “esquerda”, é simplesmente rara.

Ai Europa, Europa!

Entretanto leio uma paradigmática entrevista a um casal de ingleses Mike e Angie Pepperman na última página do Diário de Notícias: "penso que qualquer pessoa na Europa sabe o que se está a passar em Portugal, na Grácia... A verdade é que vocês estão a sofrer muito mais do que nós, no Reino Unido, mas a crise económica está a afectar toda a gente. Por causa disso é complicado ajudarmo-nos uns aos outros. Do ponto de vista do Reino Unido, estamos preocupados com a ideia de enviar dinheiro para a zona Euro, quando não temos grande vontade de o fazer." O casal é Inglês, mas podia ser alemão, belga ou francês. Como já aqui referi em tempos, A União Europeia, de quem por estes dias dependemos para respirar, foi construída a partir do telhado, à custa da propaganda dos burocratas Bruxelas, e à revelia dos seus mal-agradecidos povos. Hoje constata-se que não passou dum prodigioso wishful thinking travestido de realidade por conta do dinheiro sacado às gerações futuras. 

Indignado estou eu com a herança socialista!

 

 

Milhares de indignados entoam Grândola Vila Morena frente ao parlamento. São os mesmos do costume, identificados com estrelas, foices, martelos e outros apetrechos que conhecemos bem de outros fatídicos Carnavais. Nada de novo, apenas a certeza de que não me representam.

Acontece que situação financeira do país é explosiva. Mais de metade vive do Estado falido, e em núcleos urbanos sem sustentabilidade humana, dependentes de sofisticados sistemas de distribuição. O descalabro do sistema está por um fio, e os políticos que dele vivem têm que ter muito cuidado ao escolher cada cm onde colocam o pé. Seguro que se cuide, antes de atirar achas para afogueira da Esquerda Radical. Daqui a um ano pode não estar cá para contar como foi.

 

Imagem daqui

 

 

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