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João Távora

CDS: a refundação

Proposta apresentada e rejeitada no Conselho Nacional do CDS de 30 de Março em Leiria por doze conselheiros nacionais  subscritores da carta a propósito de votações parlamentares em matérias ditas “fracturantes”, inéditas na história ao arrepio das posições definidas pelo partido, sustentadsa na sua carta de princípios e no seu programa político;

 

PROPOSTA

 

Apresenta-se o seguinte projecto de acção política de carácter geral, visando a urgente clarificação da estratégia do Partido em três pontos cruciais:

1- O CDS e os seus Deputados devem empenhar-se na promoção da dignidade humana e na afirmação do direito inviolável à vida, desde a concepção até à morte natural, nomeadamente contrariando propostas de legislação que liberalizem o aborto e que permitam a eutanásia ou o suicídio assistido.

2- O CDS e os seus Deputados devem empenhar-se em promover os direitos do filho (e não o “direito ao filho”), para quem devem ser procuradas as condições óptimas de existência, vendo a procriação medicamente assistida como um método subsidiário de procriação ao dispor de casais com problemas de fertilidade e contrariando nomeadamente as propostas de legislação que consagrem aquela como um método alternativo de procriação ou a maternidade de substituição.

3- O CDS e os seus Deputados devem empenhar-se em contribuir para a aceitação do facto (biológico e ontológico) de que a dualidade da «maternidade» e da «paternidade» são importantes em todas as etapas do crescimento da criança, nomeadamente votando contra as propostas de lei que permitam a filiação de crianças por “dois pais” ou “duas mães”.

A carta

Exmo. Senhor

Presidente do Conselho Nacional do

Dr. António Pires de Lima

Largo Adelino Amaro da Costa, 5

 1149-063 LISBOA

C/c ao Presidente do CDS

Drº Paulo Portas

 

 

Lisboa, 29 de Fevereiro de 2012

 

Exmo. Senhor Presidente do Conselho Nacional

Nos últimos tempos temos assistido, com estupefacção , a comportamentos inexplicáveis de deputados do CDS a propósito de votações parlamentares em matérias ditas “fracturantes”, sobre as quais, é bom lembrar, o Partido tem posição definida, sustentada na sua carta de princípios e no seu programa político. Com efeito:

Primeiro, o Partido concedeu liberdade de voto aos deputados na votação dos quatro projectos sobre Procriação Medicamente Assistida, e na votação do projecto apresentado pela deputada Isabel Moreira (PS), que consagrava a PMA como técnica alternativa de prociração e não como técnica subsidiária, verificou-se que 3 deputados do CDS se abstiveram e um votou mesmo a favor.

Mais recentemente, na votação sobre o projecto de lei sobre a adopção de crianças por casais do mesmo sexo, passe o paradoxo, o Partido, muito bem, não concedeu liberdade de voto aos seus deputados, impondo a rejeição de todas aquelas iniciativas legislativas, por visarem a consagração de soluções jurídicas flagrantemente violadoras dos princípios por que nos batemos e que propusemos aos portugueses em tempo oportuno.

Porém, com grande surpresa, enorme perplexidade e justo desagrado, verificou-se que um dos nossos deputados votou a favor de um dos projectos e um outro, desconhecendo-se também por que bulas, resolveu abster-se.

 

Entendemos que posições dissonantes na bancada parlamentar do CDS, em matérias que são tão caras ao nosso eleitorado e tão claras na nossa matriz fundacional, fragilizam, e muito, as posições políticas assumidas pelo CDS e, sobretudo, a percepção que a comunidade pode fazer da diferença específica do nosso partido. Somos um partido de valores e não de humores. Fundamos as nossas propostas em princípios e estamos empenhados em defender o nosso modelo de sociedade do precipício para que nos empurram. A falta de sintonia dos nossos deputados é absurda para uns e motivo de gáudio para todos quantos contam com a permissividade ou tibieza alheias para fazerem passar uma agenda que todos os experimentalismos sociais consente.

Faz-se notar que o CDS, nestas matérias, teve sempre posição definida e o seu grupo parlamentar votou sempre em conformidade com a posição oficial do partido. A liberdade de voto traduziu-se, pois, na introdução de uma não explicada novidade na estratégia parlamentar do partido. Mas a questão determinante não é a da liberdade de voto em si. Desde logo porque o Partido nunca precisou de disciplina para votar, em bloco, contra a agenda "fracturante” do Bloco de Esquerda, da ILGA e demais franjas do espectro político. Por outro lado, porque no CDS sempre houve, e bem, espaço para opiniões particulares nestes e noutros temas. Mas isso sempre se traduziu na possibilidade dos deputados lavrarem declarações de voto e nunca na possibilidade de votarem frontalmente contra as posições do Partido.

A questão é relevante, não só pelos danos políticos já causados, mas também porque estão já anunciados novos debates sobre questões da mesma natureza. Torna-se, pois, importante que o partido clarifique a sua estratégia nessas questões.

Em face do exposto, entendemos que a estratégia do partido deve ser clara: os deputados do Partido são, sobretudo, representantes do CDS e devem preocupar-se em votar, se necessário recorrendo à disciplina de voto, de acordo com as posições oficiais do partido, dando assim um sinal de confiança aos eleitores que sufragaram um programa e uma carta de princípios que são conhecidos.

 

Atento o exposto vimos solicitar que, ao abrigo do disposto no número 2 do artigo 19º do Regimento do Conselho Nacional, seja incluído na ordem de trabalhos da próxima reunião do Conselho Nacional o seguinte ponto da ordem de trabalhos:

- Linha estratégica do partido, designadamente nas chamadas "questões fracturantes".

Solicitamos ainda que a presente carta seja remetida a todos os Membros do Conselho Nacional, juntamente com a convocatória.

Por fim, esclarecemos que esta comunicação não requer a convocatória de um Conselho Nacional, para o qual não temos competência estatutária, esgotando-se no pedido de inclusão deste ponto na ordem de trabalhos do próximo Conselho Nacional que venha a ser convocado.

Aceite os nossos melhores cumprimentos,

Os membros do Conselho Nacional

 

Fernando Camello de Almeida

Filipe Anacoreta Correia

Filipe Matias Santos

Gonçalo Vassalo Moita

João Osório

José Gagliardini Graça

João Lencastre e Távora

José Manso Preto

Miguel Saldanha Alvim

Pedro Melo

Pedro Pestana Bastos

Pedro Sampaio Nunes

Rui Castro

Tiago Pestana de Vasconcelos

Uma carga de trabalhos

 

Como pai dedicado, amanhã enfrento um desafio hercúleo: falar da minha profissão à sala de aula dos 4 / 5 anos do meu filhote. Incompreensível para muitos adultos, explicar aos petizes o que é consultoria de marketing e comunicação é uma causa ingrata, quando não perdida; mais ainda se tivermos em conta “concorrência” como a do pai do Liam que é piloto da Nato, ou do Gonçalo que é "arranjador" (electricista, presumo) e outro ainda que “trabalha no Google” (engenheiro de sistemas). Resta-me a consolação dum dos progenitores que me precedeu ser funcionário da Direcção Geral dos Impostos. 

Mas não juguem os meus amigos que eu deixo os meus créditos em mãos alheias: pró que der e vier, vou artilhado com computador e projector, e em caso de desespero distraio-os com o site da Disney. Ah, também levo uma pequena recordação para a criançada: uma latinha com terra com sementes de petúnias para fazer propaganda à Primavera. Basta misturar água... e acho que vão gostar.

Velhos são os trapos

 

Há livros que nasceram velhos, uns quantos que não têm idade, e aquele terceiro género que são os que nos fazem velhos. Motivado pela entrevista de ontem de Pedro Mexia a Miguel Esteves Cardoso na Revista do Expresso fui à estante repescar o meu exemplar d’ A Causa das Coisas de 1987 para o emprestar ao meu enteado. Fiquei chocado com o que a crueldade do tempo fizera a tanta contemporaneidade: para lá do pó e das páginas queimadas por mais de vinte e cinco outonos, até a capa da autoria de Jorge Colombo denuncia as minhas rugas e cabelos brancos.
Nessa onda de revivalismo não resisti a aventurar-me por outros recantos das minhas estantes. Folheei uma encardida edição do princípio dos anos 70 do Principezinho de Saint Exupery que escondia uma comovente dedicatória do meu pai. Mesmo ao lado de A Condição Humana de André Malraux e de O Inverno do Nosso Descontentamento de John Steinbeck que foram percurso da minha diáspora existencial. Mas isso são já outras viagens para as quais nunca desisti de seduzir a minha prole, num desafio à inquietação da dúvida que convida à procura da Verdade.

Os abutres a salivar

Na diminuição de 5,3% da receita fiscal nos dois primeiros meses deste ano face ao período homólogo do anterior, veja-se que que se regista uma quebra de 6,7 por  cento sobre o ISP e o IVA, que é o imposto mais importante em termos de receita teve 1,1 por cento nos primeiros dois meses do ano. De ressalvar que esta variação ainda não é afectada pelos aumentos das taxas em várias classes de produtos (a restauração, por exemplo), que só terá efeito  nas receitas do Estado a partir do segundo trimestre.

Os abutres que salivam pela pele de Victor Gaspar esquecem-se que um dos objectivos fundamentais para o ajustamento financeira do país passa uma redução substancial do deficit na balança de pagamentos, ou seja por uma redução substancial do consumo privado, que recai fundamentalmente em produtos importados.

Entretanto os mercados, começaram a recuperar a confiança na dívida portuguesa. Ontem, pelo quarto dia consecutivo, a pressão sobre os juros da dívida caiu, atingindo níveis de Novembro de 2010, cinco meses antes de Portugal recorrer ao FMI. Mas isso não interessa nada, pois não?

O espectáculo não pode parar

Quando hoje em pleno horário de trabalho eu descia o corredor lateral da Avenida da Liberdade, um pouco a baixo do Cinema S. Jorge  deparei-me com um engarrafamento e desvio do transito, por causa de umas aparatosas filmagens para cinema (presumo). É assim a Lisboa dos nossos dias, em que metade das fachadas estão ocas e se aguentam literalmente por arames: pouco mais do que um exótico cenário de cinema. 
Para o Rossio confluíam outros figurantes para outra encenação: o comício do Sr. Manuel Victor e seus capangas de emprego vitalício que não passará ao cinema mas alimentará os telejornais e as manchetes e editoriais de amanhã. O espectáculo não pode parar.

A Era do Pai

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A maior “revolução” operada na sociedade contemporânea, subtil e orgânica, é aquela que acontece na relação entre o pai e os filhos. Maior do que as conquistas femininas nas suas carreiras, de ministras, deputadas, dirigentes ou simplesmente nos estádios de futebol.

Os sinais de mudança começaram há alguns anos e o meu pai ainda esboçou algum esforço, em desajeitadas mas sinceras expressões de afecto e cumplicidade. Mas a rigidez dos “papéis” estava-lhe demasiado impregnada. Assim como a solidão.

A maior “revolução” dos tempos modernos é a assunção da plena paternidade. Sim! hoje, conhecemo-nos cedo, com a ajuda da pele e de uma cumplicidade morfológica. Com muitas canções, lenga-lengas, fraldas, banhos de banheira,  de mar e de mundo. 

Alcançado tudo isto, que venha a vida toda, os papéis, os "terrores" das adolescências, separações e outras tempestades. Deste modo por certo resistiremos às provas do desamor, e sairemos todos mais realizados e mais fortes... o que já não é pouco. 

Dedicado aos meus filhos e à memória do meu Pai.

O livro infantil e o reino do relativo

  

Sem querer ser injusto com as honrosas excepções, o facto é que o panorama editorial do livro infantil apresenta-se por estes dias pouco menos do que deplorável. Acontece que nos últimos trinta anos qualquer pretendente a escritor acha que sabe contar histórias às crianças. A tarefa tornou-se facilitada a partir do momento em que estas deixaram de requerer um enredo, muito menos uma moral para ensinar. Para não incorrerem no risco de serem eliminados pelo índex do politicamente correcto, os livros infantis deixaram de ter uma trama com bons e maus, heróis ou cobardes muito menos qualquer amostra de emoção. Esterilizados, quando os assuntos se limitam à lavagem dos dentes ou a promover saladas de alface, contemplar fadas com antenas e purpurinas ou relatar um passeio com a mãe à sapataria, ninguém se aleija e os miúdos aborrecem-se como perus em véspera de Natal; a melhor garantia de que crescerão com pavor dos livros. Alguns autores mais afoitos entretêm-se a confundir os infantes em exercícios de desconstrução dos clássicos, em que o Lobo é uma mansa vítima da crueldade dos caçadores, e a avó do Capuchinho uma campeã de caraté retirada dos jogos electrónicos. 

Na edição infantil o pior ainda é a ilustração: os artistas licenciados que por aí brotam como cogumelos desfrutando da imperante concepção relativista de "arte", convenceram-se que com a estilização do rústico desenho infantil (que é o estágio em que estagnaram) “interagem” em liberdade com as criancinhas. Um pouco como se dirigissem a elas na sua linguagem “gugu dada, papa, tutumimimimi”, sem a noção do ridículo com que são encarados pelo interlocutor. Assim qualquer borrão de cores garridas com uma boca escancarada pode ser considerado um protagonista duma “não história” infantil em promoção no escaparate da livraria. Mas não desespere, não precisa de recorrer a um alfarrabista ou importar da Amazon “O Capuchinho Vermelho” com desenhos de Walt Disney, ou uma antiga fábula ilustrada por Beatrix Potter: com persistência, lá escondido no fundo da prateleira encontrará certamente algum livro de jeito para o seu catraio. Que os há, há, apesar de ignorados pela intelligentsia.

 

Relações e afectos

 

 

Não posso estar mais de acordo com Neil Young quando afirma que o som que as novas gerações consomem é o pior de sempre, criticando o formato MP3 cuja compressão áudio, como sabemos, elimina grande parte do verdadeiro som captado numa boa gravação.  
Se estou certo que a solução ideal é a gravação e a reprodução analógica, como intenso consumidor de música, não fui insensível aos bons argumentos do disco compacto, solução à qual aderi apesar de manter o meu gira-discos em plena forma e actividade. O que eu  já não me conformo quanto ao CD é com aquelas manhosas caixas de plástico em que a maior parte deles surge embalado; um objecto repugnante que se deteriora em três tempos. E como podem ser elegantes e criativas as soluções cartonadas! Isto não é questão de somenos importância para um melómano; pela minha parte não prescindo de ver materializada a música num objecto físico. É que sabe mesmo bem regalar o olhar, agarrar e acariciar aquilo que amamos…

Uma única utopia: Portugal

 

 

Somos uma Nação mal habituada ao decadente vício da autofagia. Não sei se podemos atribuir esse handicap, como afirma Henrique Raposo, ao “Instinto queirosiano” de que se impregnam as elites indígenas e que bloqueia a assunção de qualquer coisa de positiva sobre Portugal, mas uma coisa parece evidente: a aposta na promoção e dignificação dos símbolos e instituições nacionais seria um bom negócio para o País. Um projecto que pela intrínseca alteração de paradigma, exige um profundo consenso e empenhamento de todos os que “podem”, um penoso trabalho e investimento no longo prazo. Acontece que esta é a única fórmula limpa de o Estado se fortalecer sem onerar o contribuinte. Apesar de tal coisa ir contra a lógica mediática do conflito gratuito e dos resultados imediatos, esta é a única maneira de se viabilizar uma comunidade identitária, de motivar as pessoas a vestirem uma camisola da qual se possam orgulhar e pela qual possam bater, na sua cidade, família ou no trabalho.
Nos últimos duzentos anos as fracturas e a desconstrução permanente dos nossos símbolos, instituições e da nossa própria História, conduziram os portugueses à descrença, à desconfiança e à apatia generalizada. Uma mentalidade derrotista e sebastiânica que se traduz em trágicos resultados para a economia, e a prazo nos condena à extinção.
Levantar hoje de novo o esplendor de Portugal é um projecto premente para a nossa sobrevivência e uma utopia em que vale a pena investir e pela qual vale a pena lutar.  

 

* Fotografia de Homem Cardoso para o livro Navio Escola Sagres

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