Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

João Távora

A implosão do socialismo

 

Essa teoria de que "há uma geração injustiçada pela falta de expectativas de melhoria de vida em relação à antecessora" constitui uma terrível falácia politicamente instrumental. Em primeiro lugar, pela simples razão de que “uma geração” não é uma entidade corpórea, não tem sentimentos, mérito ou expectativa; em segundo lugar porque não consta que ela se tenha reunido num café para emitir um manifesto. O que existe são indivíduos, pessoas, com sentimentos, formação, capacidades, ambições próprias. Por isso é expectável que muitos delas prosperem em relação aos seus pais... se nós lhes dermos esssa liberdade.
Ou seja, mais importante do que constatar que a dinâmica económica global pressiona um determinado ajustamento percentual no preço do trabalho, é saber se os indivíduos que entram no mercado têm espaço e dependem do seu próprio mérito para alcançarem as suas ambições e objectivos. Ou seja, pelo facto de se vislumbrar um “empobrecimento” em termos genéricos, é mais do que nunca dever dos governantes proporcionar às gerações emergentes um mercado de trabalho em que todos e a cada um acedam com iguais direitos e deveres, e por exclusiva força do seu mérito. Isso exige uma economia independente "cunhas" de “mercês” do Estado e liberta dum sindicalismo arcaico que se limita a defender os privilégios de duas gerações agarradas aos seus "direitos". A implosão do socialismo, uma nova constituição... uma utópica revolução cultural.

Edisom Home Phonograph


Um presente de anos impar recebido há dias. Portátil, (fecha-se como uma mala com pega e só pesa 25 kg) é suporte de gravação e leitura de som, um portento teconológico Edisom Home Phonograph. Após limpeza e lubrificação, vi-me forçado a substituir a correia de transmissão (em cabedal) com mais de 105 anos. O aparelho fabuloso: tirando a correia e o diafragma, o mais é feito para chegar à eternidade, tudo maciço, desde a madeira ao ferro e ao aço. Como se pode verificar o aparelho está impecável, e reproduz magnificamente registos do tempo da monarquia.

O brinquedo provém da família da minha mulher. Daí que o restauro e audição dos diversos cilindros, seja um misto de divertimento, voyeurismo, e... arqueologia sonora! Quem não gostaria de conhecer a voz e umas frases dos seus antepassados? O registo sonoro tem potencialmente mais interesse que o fotográfico. Já não quero saber mais de FLAC ou Blu-ray nem das colunas Bowers & Wilkins!

 

Temas:

 

La vie parisienne - Garde Republicaine (?)

Le Voix de Chêines - Weber 1903

Fausto - M. Baer 1903

Le Clariom - (?)

O 6º poder


Marcelo Rebelo de Sousa é um autêntico fenómeno. Consegue reunir a um tempo os seus admiradores, curiosos e detractores religiosamente todos os Domingos em frente à televisão. Com a opinião rigorosamente instalada ao centro do senso comum é o oraculo do regime, o sexto poder. O que faz correr Marcelo? Tudo o que atrás referi não são razões de sobra?


Imagem: Expresso

A liberdade de perder a liberdade

 

 

A liberalização do cultivo e venda de cannabis, não sendo um "assunto tolo", emerge curiosamente nas notícias em Agosto, reconhecido mês de leviandades e imprudências. Certo me parece que a dinâmica adolescentocrática dominante é imparável, e que mais tarde ou mais cedo teremos os tais “clubes sociais” do Bloco de Esquerda para fruição dumas boas “pedradas” em “quantidades controladas”.
Nos anos setenta também simpatizei com a ideia. Orgulhava-me até da autoria dum belo graffity sobre o assunto na Avenida Infante Santo. Já então pessoa de convicções, deixei de ir às aulas para me passear pelas margens, crente de que o Mundo se moveria pela força dos meus desejos e expectativas. A coisa não podia acabar bem.
Não foi tarde de mais que entendi que assim como uma família até consegue suportar um “excêntrico” no seu seio, demasiados excêntricos arruínam uma família. Suspeito que o mesmo suceda com uma cidade ou com uma civilização. Progressivamente vim-me apercebendo como é mais fácil desregular do que ordenar, como dá menos trabalho condescender do que educar, como é mais acessível contestar do que decidir. E de como nesta tão antiga e desesperada busca da felicidade, em determinados momentos, algo parece indicar-nos a urgência de se retroceder por necessários equilíbrios e contrapesos.
Os movimentos culturais dos anos cinquenta e sessenta no Ocidente fizeram algum sentido ao por em causa poderes e instituições demasiadamente rigidas e tendencialmente hipócritas. Mas acontece que com a água suja do banho foi-se o bebé pela janela abaixo. A ganância dos mercados e o voto a qualquer preço, a abolição da culpa e a ilusão do facilitismo baniram a Autoridade para um refúgio envergonhado. Mas acontece que amo demasiadamente a liberdade, para concordar que em seu nome ela própria seja hipotecada a quem quer que seja.
É nesta perspectiva que me parece que a liberalização da venda e cultivo da cannabis é mais um passo para a desregulação social. Que, por capricho de uns poucos serve para fragilizar os mais fracos, convidando-os a acomodarem-se na sua ilusão de prazer em guetos higiénicos que criem emprego (directo e indirecto) e paguem impostos. A favor da normalização da anomalia (Alienação) e extinção das expectativas sociais (pressão) pelo mérito e pela excelência.
Na história da humanidade, quase sempre a perversão pareceu-nos prevalecer sobre a virtude. Para além de tal ser uma ilusão, imperdoável mesmo será desistirmos de assumir a nossa posição na contenda. 

Não digam que vêm daqui

 

 

Vou contar-vos um segredo: a par da exigente tarefa de educar (no sentido ortopédico do termo), do silêncio, da solidão e do tédio, todas elas experiências fundamentais na formação do carácter, brindar as cabecinhas das crianças com boas memórias é uma importantíssima tarefa a que os pais são chamados a empreender.
Acontece que uns quantos momentos felizes na infância podem a prazo salvar uma vida confrontada com o desespero. Umas memórias felizes constituem o mais valioso legado que podemos deixar aos nossos filhos. Falo de um património imaterial e afectivo como as festas em família, os passeios, as férias na praia ou no campo, uma ida ao circo ou ao cinema com os primos e amigos, falo de muita partilha de rituais e momentos marcantes, vividos em cumplicidade e sentido de pertença. Mais do que grandes artifícios ou destinos de emoções tão fáceis quanto descartáveis, essas recordações são uma laboriosa construção em que nos cabe o papel de engenheiros: preencher os rituais de significado, fazer que as relações com as pessoas, lugares e acontecimentos ganhem densidade e raízes nas suas existências. Esse é um trabalho de sapa em que os miúdos nos exigem coerência e verdade: eles são os primeiros a desacreditar na fancaria dos afectos e das fúteis ligações. Com as pessoas, com os lugares e com os acontecimentos. Nas suas memórias só guardarão o que seja fecundo de espanto e significado. Eles não sabem ainda, mas as suas marcas de felicidade poderão um dia ser a sua redenção. 

Cabem todos no romance

 

Coisa insólita, ontem aconteceu-nos à minha mulher e a mim ficarmos em casa só com o nosso caçula de cinco anos. Com tanta liberdade decidimos até petiscar uns camarões cozidos na varanda, coisa que entusiasmou de sobremaneira o pequenote que às tantas declarou: - “ó pai eu já sei, isto é um jantar romântico com pouca luz e música de amor”. 

A conversa que assusta

Sem uma eficaz promoção e valorização do mérito individual a democracia é uma via directa para a decadência dum povo, que entre outras coisas, não poderá ambicionar muitas "medalhas".

Medalhas

 

Nem a fraude de quarenta anos de determinismo socialista justifica a rabugice generalizada por causa das medalhas falhadas por uns quantos mais ou menos abnegados atletas nas Olimpíadas de Londres. Acontece que não depende disso nem a glória da Pátria nem a saída da crise – coisa que, desculpem-me o incómodo, é mesmo coisa séria. Eu sei que as pessoas nesta época estival têm alguma tendência para a frivolidade e facilmente caem na armadilha de projectar as suas frustrações num triplo salto falhado, num tiro ao lado ou corrida perdida por atletas anónimos a quem nunca ninguém, nem os jornais desportivos, prestou a mínima atenção.
Eu sei que o Estado há quarenta anos vem investindo avultados milhões de euros com auspiciosas infra-estruturas desportivas, dignas de filmes americanos ou da velha propaganda dos países da cortina de ferro: como cogumelos despontaram nas cidades, vilas e aldeias ginásios, pistas, piscinas, campos de futebol, de basquete, de Beisebol (é verdade – é em Abrantes!) de voleibol ou polivalentes, com a vã promessa de gloriosos amanhãs que tardam cantar. Mas acontece que assim como o betão não substitui a vontade, inspiração e crer dum povo, também não resolve a espinhosa contrariedade das probabilidades estatísticas. De resto os mais atormentados com o fenómeno bem podem consolar-se com o facto de até à data a Áustria, ditosa pátria da música, não ter obtido nenhuma medalha, e os suíços que produzem cronómetros como ninguém apenas ontem terem alcançado a primeira.