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João Távora

Terra queimada

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As posições que vão sendo assumidas pelos principais actores da indústria do comentário político, desvalorizando o facto inédito de um ex primeiro-ministro se encontrar detido em prisão preventiva acusado de crimes graves, missão em que a jornalista Clara Ferreira Alves se assumiu como ponta-de-lança, diz-nos muito sobre o que aí vem no debate politico em anos de eleições. Esse é o chão em que vai correr a narrativa subjacente ao discurso socialista: onde começa e onde acaba a disputa, e se são ou não os políticos todos iguais. E vai ser curioso verificar como a facção daqueles que convenientemente acham que ninguém se destaca da nebulosa podridão, são os mesmos que, reclamando uma justiça incapaz de punir os poderosos, jamais perderam a oportunidade de lançar as mais odiosas suspeitas e assassinatos de carácter sobre os seus opositores. A esses cuja retórica sempre se alimentou do pântano e da insidia, convém agora fazer passar a mensagem de que "somos todos iguais” na política. E ai daquele que se atrever destacar da putrefacção geral. Estranho instinto de sobrevivência que os impele para o suicídio…  

Uma saída de emergência

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 Julgo não exagerar se afirmar que o filme Interestellar, o prodigioso resultado deste épico de ficção científica dirigido pelo realizador Christopher Nolan, está ligado também à magistral banda sonora de Hans Zimmer, já consagrado nestas andanças de músicas para filmes. De resto a obra que suspeito resultará num clássico, coloca de forma magistral o mito da adopção do Universo infinito no lugar do limitado e escuso planeta Terra como casa materna da humanidade. O filme lembrou-me várias vezes o meu saudoso Pai, historiador que nos intervalos das suas investigações embrenhadas em documentos arcaicos e pesados volumes impressos, consumia gulosamente e deixava espalhados pela casa romances de ficção científica, cuja temática estou convencido constituía um escape de uma realidade material que tanto o atormentava.

Bodes expiatórios

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 O mundo é aquilo que cada um de nós faz dele e cada vez acredito menos nos sistemas e ideologias, que o mais das vezes servem de expiação para as pessoas que na sua sombra se isentam de responsabilidades e se escusam de pôr mãos à obra dentro do seu perímetro de influência. Se é verdade que um bom regulamento não isenta de perversidade os protagonistas, já uma comunidade de pessoas criteriosas e auto exigentes resultará certamente numa sociedade mais justa e fecunda. A histriónica berraria com que nos deparamos no espaço público, parece-me resultar mais de um exercício de catarse de existências frágeis e frustradas do que outra coisa qualquer. Não é um problema de lideranças e como é bom de ver o “progresso” não resolveu coisa nenhuma. Porque a haver salvação, ela está unicamente dentro de cada um de nós.

(E desculpem se me repito, tenho a nítida sensação que desde comecei estou sempre a escrever a mesma coisa)

Na minha aldeia

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 Não sei se é por ter crescido lá, mas sempre que revisito Campo d' Ourique, mesmo não sendo um bairro antigo, sinto que como mais em nenhum outro sítio de Lisboa ali as pessoas são mesmo antigas. Pelo menos tanto quanto as minhas recordações. Quando passo em Campo d’ Ourique ando mais devagar e com os sentidos mais atentos. Atrevo-me a pensar que distingo os residentes dos forasteiros: a mãe que regressa a casa com os filhos da escola, o professor reformado na esplanada do café, as amigas quarentonas a tomar um chá, a senhora velhota que agora usa bengala. Aquele bairro de vida densa, cheiro próprio e sonoridades urbanas é a minha aldeia: as suas gentes são-me familiares.