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João Távora

Esperanças

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Assunção Cristas, com um discurso indómito e desempoeirado, brilhou pública e decisivamente numa noite de Janeiro de 2007.

Aconteceu na campanha do referendo ao aborto numa conferência no Hotel Tivoli organizada pelo “Blog do Não”, em que participei. O resto da história já sabemos: adoptada por Paulo Portas que não é parvo nenhum, a ministra da agricultura hoje aproxima-se incólume do fim duma dificílima legislatura, tendo pelo meio sido mãe pela quarta vez – como uma parábola sobre uma pessoa inteira. Inoportuno nesta fase, o tema da sucessão no CDS também não pode ser tabu. 

Porque o desafio na recuperação do seu espaço, que se esconde nos seus princípios fundadores, conservadores e democratas cristãos, revelar-se-á hercúleo.

Se Assunção perceber que o espaço do CDS se espelha nas suas próprias convicções humanistas e católicas, se a Assunção tiver a coragem de abrir mais o partido aos militantes, tenho esperança que conseguirá resgatar um eleitorado desapontado, após Paulo Portas.

 

Artigo publicado originalmente no Diário Económico.

Crueldade verde

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Vem-se acentuando de há umas semanas para cá, na minha rua e no jardim em frente ao meu escritório: choupos, plátanos e demais arvoredo numa desavergonhada fúria reprodutora exponenciada pelo vento, expelem carradas de pólens que tornam o ar difícil de respirar. Como num cenário apocalíptico, enquanto se escutam anúncios de anti-alérgicos nas rádios e televisões, muita gente já só vem para a rua de máscara na cara. Consola-nos que por uma vez é a verdejante natureza a culpada de tão incómodo fenómeno e não a ganância do cruel homem branco ocidental. Já para não falarmos da digestão das vacas e dos bois que produzem gás metano em barda que é responsável pelo efeito de estufa. O melhor é não se falar muito deste assunto, se não os Verdes ainda nos proíbem de comer bitoques.

Progresso...

As pessoas que nasceram em 1850, viveram nas cinco décadas seguintes o maior salto tecnológico da história: nasceram com cavalos, carroças e lamparinas, mas chegaram a 1900 com o automóvel, o avião, a fotografia, a luz eléctrica, o telefone e a música gravada. Pelo que se verificou de seguida, em termos comportamentais, o homem não progrediu nada. 

Coisas de família

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Ontem um amigo meu presenteou-me com esta pequena mas interessante brochura cheia de rererências familiares, publicada em 1945. Trata-se de uma colectânea de impressionantes relatos e notas pela pena do Rei Dom Miguel coligidos pelo seu indefectível partidário o 6º Marquês de Abrantes, D. José de Lancastre, a propósito do assassinato do Marquês de Loulé em Salvaterra a 28 de Fevereiro de 1824.

A edição de 1945 é da responsabilidade de D. João de Almeida, corajoso resistente monárquico que veio a casar com D. Constança Telles da Gama, Senhora que nos anos de ferro da 1ª republica se celebrizou no incansável e heróico socorro aos matratados presos políticos - circunstância em que terá conhecido o seu marido. Curiosamente a assinatura com que autografa a dedicatória na contracapa é um "João" com um "C" maiúsculo sobreposto ao "J", um delicado e comovente sinal de cumplicidade para com a sua mulher, como era costume na época entre pessoas de educação requintada.

 

Nota: Post dedicado ao meu primo e amigo de longa data Augusto de Almeida.

As migrações vistas do espaço

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“Seres humanos de todo o mundo uni-vos” é a palavra de ordem que sobrevém da desafiante crónica de Henrique Monteiro no Expresso de Sábado, a propósito da tragédia daqueles que, pelas nossas migalhas, morrem às portas da Europa fugidos da miséria. O cronista perora contra as fronteiras, afinal os diques da nossa cultura e fortuna, que afinal são "construções abstractas que não se vêm do espaço". Sim, a questão das migrações "não deveria ser de controlo, mas de partilha". Bonitas palavras, bem fáceis de escrever, tão difíceis de praticar. O problema é que vivemos numa contingência gravitacional bem terrena que nos atira para o chão: até que ponto escancarar as fronteiras da Europa no mediterrânio serviriam tal intenção? Descendo à terra madrasta, até que ponto o português (e o hemisfério norte em geral) estará desposto a aceitar um brutal ajustamento, na persecução de um corajoso projecto de distribuição e reequilíbrio da riqueza entre o norte e o sul? Se a coisa já é o que é quando para a sobrevivência dum estilo de vida (o do Euro), numa democracia em pré falência como a nossa, nenhuma corporação está disposta a ceder privilégios e o banzé quase degenerava em guerra cívil...

Se o empreendimento e a riqueza são fruto do compromisso, uma mistura equilibrada entre ordem e liberdade; vistos do espaço os portugueses têm muita sorte e pouco que se queixar – choram de barriga cheia, refastelados no sofá do mundo a comer pipocas a teorizar sobre a pobreza. E as migrações, vistas pela televisão ou do espaço, são assunto fácil de resolver.