Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

João Távora

Modernidade

(...) “sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins (vida, liberdade e felicidade), cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la” – (...) “Nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela [nação] não emane expressamente”.

Aclamação do Rei D. João IV, assento das cortes de Lisboa - 1641

O legado

Como católico português e europeu, confrontado com a complexa crise dos refugiados, reconhecendo a potencial ameaça duma “invasão” tão súbita de tão grande número de forasteiros de cultura tão diferente da nossa - os terroristas já cá estavam -; a constatação da emergência humanitária daqueles seres humanos em aflição não me permite quaisquer dúvidas quanto à hierarquização de valores em jogo: a Europa tem de encontrar maneira de socorrer aqueles desafortunados, afirmando com orgulho o seu legado que é o cristianismo.
Uma Páscoa Feliz para todos os meus amigos.

Paixão

jesus416.jpg

Sexta-feira Santa para os cristãos é tempo de oração, de penitência e introspecção. Se com Jesus partilhámos quarenta dias no deserto, hoje com Ele nos dispomos mais logo a padecer na Via Sacra, um exercício espiritual e físico que se faz revivendo o trajecto seguido por Jesus carregando a cruz, que vai do Pretório até o Calvário no caminho da crucificação. Eu todos os anos participo nesse ritual, juntando-me às orações das gentes do Vale de Acór – instituição católica da margem sul que há mais de 25 anos abriga e trata toxicodependentes - numa inspiradora procissão que serpenteia pelas ruas do Bairro do Pica-Pau Amarelo em direcção à Igreja Matriz do Monte da Caparica. Esta é uma caminhada densa que cada um faz entregando a sua História, as suas angústias, as suas faltas e desejos. No final, já noite escura, prostrados perante Jesus Cristo humilhado, vilipendiado, crucificado e morto num banho de dor lancinante, podemos recordar o seu deseperado apelo: “Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste?" eco de uma solidão tão profundamente humana. Nascera assim como o mais pobre dos homens trinta anos antes em Belém, aquecido pelos animais numa manjedoura e reverenciado por pobres pastores. 

Acontece que é também na rendição a um destino ou verdade que se esconde um singular atalho de libertação. Quando paramos de lutar contra os nossos medos e dores, acumulados até à exaustão com os ferimentos duma fuga interminável que perdeu sentido e direcção. Para nos encontrarmos em descanso na profundidade da nossa mais recôndita consciência, numa entrega incondicional ao Criador. “Nas tuas mãos, entrego o meu espírito”. Parece-me que chegamos à maturidade quando descobrimos que é este desprendimento a única saída dos imensos becos que edificamos a cada dia. Que não somos donos do nosso destino, e que só assim actua em nós o perdão redentor que nos vai devolver a vida, a esperança, um amanhecer, um Homem que se renova. O homem novo que se liberta do sepulcro em que se deixou enclausurar, claustrofóbico, egocêntrico, confundido.
A penitência é rejeitada pela modernidade que renega a culpa e o sofrimento, e promove o orgulho, a ilusão da auto-suficiência e do "amor próprio", a fuga para a frente. Sem dar conta que o mal não é um fenómeno exterior a cada um de nós, que a libertação do Homem é um caminho pessoal na aceitação de si próprio inteiro, com todas os falhas, feridas e muita lama nos pés. O mundo seria bem melhor se todos conseguíssemos ressuscitar no Domingo da Páscoa do Senhor. Coisa que não é possível sem a Sexta-feira Santa.  

Um sorriso de esperança

assuncaocristas3.jpg

A chegada de Assunção Cristas à liderança do CDS enche de expectativa uma Nação desgastada e desiludida que clama por uma renovação significativa no estilo e no discurso político, e que há muito entendeu não ser possível um “tempo novo” com os problemas e vícios antigos. Assunção Cristas traz para o espectro político um perfil inédito que possui um profundo significado: uma mulher inteira, jovem mãe de família que não prescinde dum brilho próprio muito feminino, alguém que emergiu para a vida partidária pelos seus méritos profissionais, pela determinação e inteligência com que defendia as causas em que acredita, mesmo que contra o discurso do politicamente correcto. Sem vergonha das suas convicções humanistas e católicas, com um discurso fluente e afectuoso, ela conseguiu unir o partido e rodear-se de uma jovem e renovada equipa, cujo génio e capacidade de trabalho esperam-se reflectidos quanto antes num dinamismo de propostas e ideias que catapultem o CDS para um novo patamar de afirmação, urgente, tendo em conta os dramáticos desafios que esperam os portugueses. Para já Assunção irradia um atraente sorriso de esperança, que não é coisa pouca na política dos nossos dias.

 

Publicado originalmente no Diário Económico

Desculpem qualquer coisinha...

MRS_rei.jpeg

 Pelo que me foi dado ver, Marcelo Rebelo de Sousa fez um bom discurso, agregador e motivador – requintado até, do ponto de vista literário. Mas o discurso e a festa da aclamação – um ritual de renovação muito ansiado por conta das tensões sociais vividas nos últimos seis anos de brutal ajustamento - é a parte mais fácil. Uma economia extremamente débil, uma dívida astronómica, as idiossincrasias do semipresidencialismo e a perniciosa forma de organização do nosso Estado, são factores que a breve trecho irão contaminar o mandato. As coisas são o que são, não há D. Sebastião que nos salve, e rapidamente os portugueses voltarão sentir falta duma figura unificadora que os represente no topo da pirâmide, como primo inter-pares.

Não faz as coisas por menos...

- A catequista disse que os pais têm que vir!!! (Festa do Perdão). - Amanhã vai a mãe contigo meu querido, eu não posso. Tenho a Assembleia Geral, uma reunião muito importante da Real Associação de Lisboa, o pai tem de apresentar um documento que as pessoas vão votar contra ou a favor. - Então amanhã vamos ter Rei?

Deus os perdoe

Bloco-Esquerda.jpg

A propósito da "conquista enorme da adopção crianças por casais gay", o Bloco de Esquerda engendrou uma paródia de mau gosto com a imagem do Sagrado Coração de Jesus. É perturbador reconhecer que esta estética tem a adesão duma burguesia urbana e niilista (que não sabe que é) profundamente ignorante. No fim como consolo oferecem-lhes a eutanásia. Trata-se de um discurso ancorado no ódio e no preconceito, que visa a fractura social. Acontece que, com uma taxa de divórcios acima dos 70%, um inverno demográfico de consequências incalculáveis, as pequenas comunidades e o modelo de família natural em acelerado processo de extinção, a sociedade caminha para uma atomização sem precedentes. As pessoas isoladas e desprotegidas, sem sólidas pertenças comunitárias, estarão cada vez mais expostas aos caprichos dum monstruoso poder central – menos livres. Este fenómeno não é independente do empenho colocado na laicização da sociedade, da religião sitiada na esfera do privado, e a sua prática na condição de subcultura marginal. Inquietam-me os festejos destes bárbaros alucinados à volta dum incêndio que a cada dia arruína mais os alicerces daquela que se foi tornando a nossa casa comum ao longo dos séculos.

 

Publicado originalmente no Diário Económico