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João Távora

Liberdade de género

Na reportagem "O paradoxo da Igualdade" que aqui partilhei há dias, faz-se referência a um estudo que demonstra que nos países mais desenvolvidos e livres - como é o caso da Noruega, as mulheres assumem mais profissões e actividades tradicionalmente femininas (jardins de infância, hospitais lá, assistência social, etc.) do que em países como o Paquistão ou a Índia em que elas são condicionadas pela necessidade de sobrevivência. Afinal o Igualitarismo sucumbe perante a Liberdade de Escolha que confirma os estereótipos. Acontece que o género é essencialmente uma condição biológica, mais do que cultural - facto que não nos retira a responsabilidade de continuar a luta pelo que falta para uma plena igualdade de direitos entre homens e mulheres.

O que este episódio dos blocos de actividades da Porto Editora nos esfrega na cara é uma história velha que se repete e em que os actores são os mesmos: radicais que querem impor uma "igualdade" à conta da nossa liberdade. 

Os Homens são de Marte, as Mulheres de Vénus

 

Nestes tempos de delirante aceleração e trapalhada é urgente reclamar aos poetas uma homenagem à feminilidade, à menina, à mulher sensível e poderosa. 
Que não se envergonhe jamais a mulher de ser romântica, de ser feminina, de gostar de flores, da magia sedutora da maternidade - que é um poder absoluto, enfim, de ser profundamente diferente do homem. Também eu desejo uma sociedade em que a feminilidade tenha cada vez mais preponderância, em que as mulheres marquem cada vez mais a sua presença. Uma sociedade que assim se tornará certamente mais justa e harmoniosa. Nestes tempos em que a mulher se prepara para alcançar uma inevitável preponderância, era importante que ela não desistisse de o ser.
Isso sim, seria uma catástrofe, o fim do mundo.

(este texto também é uma homenagem à minha mulher)

 
 

Mais desventuras do Ventura

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Não sei se é do conhecimento dos leitores, mas anda agora na moda um tipo de programas de TV de debate sobre futebol em que os representantes de cada um dos “grandes”, alguns figuras públicas que deviam ter alguma vergonha na cara, analisam as jogadas polémicas da jornada, não através dum exame objectivo, mas sem qualquer laivo de razoabilidade e usando uma berraria insana, pretendendo impingir uma perspectiva fictícia que favoreça as cores do seu clube, nem que para isso tenham que mentir descaradamente. Patéticos, parecem crianças a discutir o tamanho do carro do pai. Curiosamente é esta a origem do André Ventura, personagem que ontem à noite na TVI 24 ouvi a reclamar a re-instauração da pena de morte e da prisão perpétua em Portugal. Como se em Portugal fosse o faroeste, antro da criminalidade mais hedionda e impune; e como se os países em que a pena de morte é contemplada na lei fossem exemplares oásis de paz. O que mais me custa engolir é que este discurso de ódio de André Ventura, que ignora a realidade pacífica em que vivemos, que se suporta de exemplos limite, de chocantes e hediondos crimes em paragens indeterminadas e impossíveis de verificação mas que servem bem para acicatar os sentimentos mais básicos de revolta e alarmismo, tem aceitação em muita gente… O crime compensa: está visto que Ventura atrai audiências e por isso as imbecilidades por si proferidas são notícia todos os dias.

Pela minha parte, aprendi com o meu Pai a orgulhar-me de pertencer a um dos primeiros países a abolir a pena de morte, um marco civilizacional que eu julgava perfeitamente adquirido. Nada é adquirido, e sabemos bem como o ódio medrou e venceu, na Revolução Francesa, na Alemanha Nazi ou nas tiranias comunistas. É estranho perceber que haja quem, sem pudor, apenas tendo em vista uns minutos de fama (e umas eleições autárquicas), assuma um discurso tão reaccionário. E choca-me perceber que entre muitos dos meus correligionários haja hesitação em condená-lo.

A desventura do Ventura

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Lançar umas quantas imbecilidades para a comunicação social rendeu a André Ventura um protagonismo inusitado nesta campanha para as eleições autárquicas de Outubro próximo, de que o candidato do PSD à Câmara Municipal de Loures é sem dúvida nenhuma a grande revelação. Confesso que não sigo os debates de futebol e talvez por isso este candidato, de quem se fala ter outras ambições dentro do PSD, tem-se revelado para mim uma má surpresa. Certo é que o personagem, com o seu discurso securitário e racista, granjeou enorme atenção por parte dos média, e de caminho cativou muita gente do meu círculo de quem eu imaginava mais algum critério de avaliação. As pessoas andam zangadas…
Mas no meu entender mais grave que o juízo proferido sobre todos os ciganos, foi a defesa da “prisão perpétua para os delinquentes”, algo que me parece inadmissível para um democrata-cristão, que defende a dignidade do recluso porque “todo o Homem é maior que o seu erro”. Que estas patacoadas, à maneira dum taxista com o grão na asa satisfaçam a exigência do eleitor e substituam um programa politico e uma estratégia de gestão de um concelho como o de Loures é que ainda tenho dúvidas. Mas o certo é que o comentador benfiquista já ganhou o primeiro desafio: está nas bocas do mundo e quando abre a boca tem logo uns quantos microfones à frente. Tiro-lhe o meu chapéu!

Algumas notas sobre a espuma destes dias de brasa

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A soberania...

…não deveria ser apenas uma arma de arremesso para quando o País é financeiramente intervencionado por incúria da governança. A notícia hoje destacada no Expresso de que um contingente militar espanhol atravessou a fronteira em apoio aos bombeiros que acorriam ao grande incêndio de Pedrógão Grande à revelia do Estado português deve-nos deixar apreensivos. A entrada de forças armadas estrangeiras num estado soberano, por uma questão de principio deve obedecer a rígidos protocolos.  Instado pelo mesmo semanário o ministério da defesa não esclareceu a situação. Dá ideia de que estamos entregues aos bichos, é o que é.

Menos mal

No contexto da tragédia do ataque terrorista em Barcelona, parece um sinal de bom decoro a presença sem polémicas separatistas do Rei Filipe VI e do primeiro-ministro Rajoy na manifestação de repúdio e pesar ocorrida na Praça da Catalunha. Já os movimentos anti-turismo não se fizeram notar, ultrapassados que foram na proporção da força aplicada pelos radicais islâmicos com quem comungam alguns dos intuitos.

A piada da semana

Finalmente uma nota sobre a entrevista de António Costa à revista do Expresso, uma bela borla para um toque de charme no tiro de partida para a rentrée política. Nela o primeiro-ministro afirma que não disputa popularidade com Marcelo, dizendo sem se rir que “quem toma medidas difíceis são os governos”. Não estaria certamente a referir-se às suas “reversões”, mas sim ao governo de Passos Coelho que teve de assumir o resgate de um país em bancarrota, a cumprir um pesado programa austeridade e de duras reformas para recuperar o crédito internacional.

 

Quinze de Agosto

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 Rubens

(1577-1640)


Magnificat

 

A minh'alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador
Pois Ele me contemplou na humildade da sua serva
Pois desde agora e para sempre me considerarão bem-aventurada
Pois o Poderoso me fez grandes coisas

Santo é Seu nome!

A Sua misericórdia se estende a toda a geração daqueles que o temem
Com o Seu braço agiu mui valorosamente
Dispersou os que no coração tem pensamentos soberbos
Derrubou dos seus tronos os poderosos

Exaltou os humildes, encheu de bens os famintos
despediu vazios os ricos
Amparou a Israel Seu servo para lembrar-se da Sua misericórdia
A favor de Abraão e sua descendência
Como havia falado a nossos pais.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
Como era no princípio, agora e sempre.

Amém.

A onda terrorista

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Com meio país em chamas descontroladas não é com espanto que vejo na televisão Patrícia Gaspar a porta-voz da desgraça oficial que nos coube em fado, no velho choradinho da culpa dos pirómanos. Afinal a culpa é dos pirómanos responsáveis pela ignição de 90% dos incêndios, não é do clima, do ordenamento da floresta ou das políticas de prevenção. Trata-se de uma onda terrorista, segundo Marta Soares. Um discurso irracional que convida o pessoal escolher a sua teoria da conspiração e montar umas milícias populares, contra os empresários da madeira queimada ou do aluguer dos helicópteros que pagam os incendiários, contratados a troco de um maço de tabaco e uma garrafa de vinho num recanto da tasca da aldeia. É a fuga para a frente do poder impotente confrontado com a sua proverbial incompetência. Já todos sabíamos que a culpa do nosso triste destino sempre foi dos privados, das bruxas e dos maluquinhos. Contra esta insanidade não há nada a fazer, o que é muito conveniente.

Ganhámos um jogo de treino

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É no mínimo preocupante quando uma equipa que tem ambições de vencer o campeonato faz mais de metade do seu primeiro jogo com um adversário que almeja a manutenção, empastelado no meio campo com baixíssima produção atacante, perdida numa experiência de última hora. O Bruno Fernandes no lugar de Podence, desaparecido nos mesmos terrenos de Adrien, foi um enorme equivoco que nos podia ter custado o empate na primeira parte. Com a equipa assim encolhida o futebol leonino claramente só desemperrou já na segunda parte com Podence à solta no último terço do terreno – o miúdo traz velocidade e rebeldia fundamental naquela zona do campo. É preocupante que Jorge Jesus teime em fazer experiências como se não estivesse em competição, mas está-lhe na massa do sangue protagonizar “surpresas” para mostrar que existe, que é ele que manda. Não havia necessidade - está claro para todos que é ele que manda - e podia ter corrido muito mal. 

À parte dessa inquietação, e para além de não termos sofrido golos, é de destacar o extremo esquerdo Acuña, que exibe uma generosidade excepcional a defender, umas ganas bestiais a atacar e um faro de golo raro. Temos Leão para atacar o título. Só espero que não percamos o Gelson Martins.

 

Texto publicado originalmente aqui

SOS Turismo

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O Instituto Nacional de Estatística divulgou ontem os números relativos à actividade turística em 2016 em Portugal que espelham o sucesso deste sector de actividade económica: as receitas do turismo cresceram 10,2%, significando um total de 12,7 mil milhões de euros de exportações, que correspondeu a um aumento de 10,7% na oferta, onde se inclui hotéis, turismo rural e alojamento local, correspondendo o peso deste último a 11% do total nacional em dormidas.

Tudo isto significaria apenas boas notícias não fora os problemas que se antevêem com a massificação do Turismo nos maiores destinos turísticos da Europa como é exemplo o caso de Barcelona de onde nos chegam sinais de falência do modelo de negócio. Se é certo que há um aproveitamento político pelos movimentos de extrema-esquerda cuja intenção é tão só a contribuição para um caos que favoreça o crescimento da insatisfação popular, esse facto por si alerta-nos para a fragilidade desta indústria que se sustenta fundamentalmente na paz social… e no bom acolhimento. Um caso preocupante é aquele recente que li algures do apedrejamento de um autocarro panorâmico de turistas por um grupinho de radicais em Barcelona. Um artigo publicado hoje no Expresso enumera uma quantidade de problemas que esta cidade enfrenta, quando as consequências da invasão turística parecem estar a tornar-se numa ameaça real à tranquilidade dos seus habitantes, que já entendem o Turismo como o segundo maior problema da cidade, depois do desemprego. E cá pelo burgo, quem andar atento às redes sociais apercebe-se de uma onda crescente de insatisfação de muitos lisboetas com aquilo que entendem como uma invasão, principalmente oriunda de residentes ou frequentadores de zonas mais emblemáticas da cidade.
Como liberal que sou, isso não me impede de constatar que a prazo teremos um problema grave a enfrentar. Recomendam-se políticas contra a gentrificação dos centros das nossas cidades e a sua consequente descaracterização e abandono (fenómeno que antecede em muito o crescimento do turismo), e preocupa-me a costumada incapacidade dos governos agirem preventivamente com reformas que nos salvaguardem de futuros problemas previsíveis. Políticas de regulação terão de ser empreendidas quanto antes, por forma a preservar a oferta turística existente, diversificando-a e valorizando-a de modo a aumentar o seu rendimento, em vez do seu número. A aposta deverá ser na qualidade no lugar da quantidade. O turismo é uma actividade económica demasiadamente importante para deixarmos que, a prazo, se autodestrua.

 

Fotografia minha.

Mais uma crónica na Estação Tola

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Se há altura do ano em que a conversa fiada e a especulação sobre a bola é legítima e até recomendável é nesta época estival, também conhecida como tola, em que as equipas se preparam e os adeptos se enchem de expectativas para as competições que tardam em recomeçar. Na verdade por estes dias o calendário futebolístico inicia-se cada vez mais cedo, um fenómeno que também vem acontecendo com o ano lectivo que roubou o mês de Setembro aos nossos miúdos que nem sonham como era ocioso e estruturante o longo Verão dos seus pais. Este ano o Campeonato Nacional que modernamente se chama “Liga” (os portugueses são peritos em mudar os nomes às coisas convencidos que dessa forma as mudam) começa na primeira semana de Agosto, entrando pelas nossas férias adentro, quando os adeptos deviam estar, não nas bancadas dos estádios, mas à beira-mar a ler preguiçosamente novidades sobre reforços milagrosos e as tácticas inexpugnáveis que dizimarão os adversários, atrasando a leitura do clássico que estava prometida para estas férias. 

Mas a verdadeira e grande novidade da época futebolística que se avizinha é sem dúvida o vídeo-árbitro. Este novo actor, mais do que revolucionar o futebol que passará a ter mais uma ou outra paragem inócua, que estou convencido trará mais justiça e transparência à disputa, acima de tudo promete incendiar ainda mais a indústria do comentário futebolístico em grande expansão nos canais da televisão por cabo. A coisa promete, pela simples razão de que muitas das decisões dos árbitros, mesmo com a ajuda do vídeo, continuarão a ser subjectivas e falíveis, dependendo da perspectiva (da cor da camisola) do observador: o milímetro a mais ou a menos do fora de jogo indefinido, a bola na mão ou a mão na bola dentro da grande área - ou a milímetros do seu limite; já para não falar da apreciação à intensidade do contacto do defesa que derruba – ou não - o atacante e da (in)justiça do consequente castigo máximo. Com a agravante das decisões de agora em diante provirem de uma análise ponderada. Por isso não vão faltar teorias da conspiração e toda a sorte de condenações e pressões sobre… o vídeo-árbitro. Se é previsível que o uso das tecnologias irá beneficiar a justeza das decisões em campo e o futebol atacante em geral, o vídeo-árbitro passará ele próprio a ser mais um inevitável protagonista do espectáculo, condenado umas vezes, exaltado outras tantas, em debates insanos por essas televisões afora.
Pela parte que me toca, continuarei a privilegiar o espectáculo do futebol dentro das quatro linhas, onde ele possui uma inegável e entusiasmante beleza. O seu prolongamento será feito à maneira antiga, ao vivo e com alma, à boa conversa ao balcão do café com os vizinhos, ou com os amigos numa aprazível esplanada. Venha daí então o campeonato que desta vez é que vamos ganhar.

 

Publicado originalmente por simpático convite no blogue Delito de Opinião