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João Távora

Crónica de balanço

Cheguei aos blogues há pouco mais de três anos pela mão do Duarte Calvão que me convidou a integrar o  Corta-fitas, um blogue de profissionais da escrita, maioritariamente jornalistas, que veio a tornar-se uma das referências da blogosfera nacional. Foi com eles que desenvolvi o gosto por esta vertiginosa escrita e por isso ficar-lhes-ei para sempre grato: prezo-lhes não só a coragem de me terem acolhido, mas o escorreito estilo com o qual tentei aprender. Assim, a blogosfera proporcionou-me o prazer de opinar, de dizer livremente o que me passava na alma, quantas vezes arriscando no arame os limites da exposição pessoal. Um risco por vezes mal calculado devido ao carácter imediatista deste meio e o bichinho exibicionista que afinal anima o meu irrequieto espírito. 

Como me acontece na leitura, na música e em tantas coisas na vida em que sou lento a envolver-me, na escrita tendo a mastigar hesitante a forma e o conteúdo antes de publicar, coisa que na Internet está à curta distância duma tecla. Jamais deixei de tremer ao carregá-la: mais do que a um suposto perfeccionismo, tal deve-se em parte à minha insegurança, sentimento que definitivamente constitui um traço do meu carácter. O facto é que quando nos aceitamos como somos, conquistamos o mais valioso património humano: a liberdade. 

De resto, a idade não me aligeirou as paixões, os medos ou as dores, só me ensinou a aceitá-las e resolvê-las com mais e mais rapidez: nas minhas actividades, como profissional ou chefe de família, sou hoje impiedosa e profusamente chamado a agir e decidir muito mais do que alguma vez julguei ser possível. E quem me conhece não adivinha os tumultos por que perpassa a minha alma. Para sobreviver, com a graça de Deus, fiz-me bom aluno da vida... e conquistei o amor duma mulher maravilhosa e uma família de que me orgulho e sou pertença a tempo inteiro. É desse meu mundo que vem a energia e a vontade de continuar a abordar reagir com todo o fôlego contra o curso da história, que qual imensa rocha se mantém naturalmente imutável e insensível ao meu protesto. Resta-me a esperança de que tanta exigência e inconformismo tenham-me ajudado a aperfeiçoar a mim próprio,  e que o leitor seja comigo bem mais benevolente e menos severo.