Pisar o risco
A blogosfera proporcionou-me durante os últimos anos, o prazer de opinar, de dizer livremente o que me passava na alma, quantas vezes arriscando no arame os limites da exposição pessoal. Um risco por vezes mal calculado: talvez quem como eu escreve por gosto, nem sempre domine bem o bichinho exibicionista que lhe anima a alma irrequieta. É mais forte do que eu: não resisto ao risco contínuo.
Depois, num dos meus últimos rabiscos no Corta-fitas, eu proclamava a promoção de pensamentos e propostas antagónicas, contra o afunilamento das ideias, estranguladas pelo discurso politicamente correcto, ou pela sufocante agenda dos operadores encartados do regime. Arrisquei e perdi. Aliás parecem-me manifestamente exagerados os anúncios do fim das velhas etiquetas “direita” e “esquerda”, úteis epítetos para concepções diferentes de organização social e de valores existenciais em confronto desde sempre. Talvez essas nomenclaturas sejam devidamente valorizadas quando a participação eleitoral um dia descer abaixo dos 30%...
Nos dias que passam (apesar de tudo cada vez mais interessantes), há um meio por excelência onde se pode experimentar verdadeira liberdade e diversidade: é na Internet e nos blogues onde pela sua natureza orgânica se contraria a realidade virtual produzida pelos media tradicionais tendencialmente avassalados ao sistema que os sustenta. Uma redentora realidade que George Orwell (que adivinhou quase tudo) não soube prever.
Portugal deixou de olhar para o céu à procura de horizontes e passou a olhar para o chão á procura de migalhas... Frase lapidar esta, dum meu companheiro de causas que eu tanto gostaria de contrariar. Numa nação sonolenta e desapegada do futuro, em que para gáudio dos poderes e corporações instaladas a abnegada prática da cidadania é letra morta, parece-me urgente recuperar o risco da utopia e a assunção do conflito de ideias. Uma letra viva e agitada que resgate as gentes do medo de existir... de pensar e de agir. Afinal de contas o que é que de pior nos poderá acontecer?
Bem vindos ao Risco Contínuo