Lisboa numa manhã de Maio (crónica)

A manhã estava radiante e, passeio a baixo, os verdejantes plátanos - que este ano andam histéricos - choviam desesperados os seu pólenes ao vento. Guiado pela paisagem, aproveitando a “galeria” de estátuas, edifícios e monumentos que percorremos, tento explicar aos miúdos a corrente de História e de vidas ancestrais que vêm dar a nós. Que somos parte dum todo.
Entramos pela Rua de Sta. Marta, com as suas modestas casas e mansardas de “gelosias” corridas. Com os seus “lugares”, mercearias e preguiçosos sapateiros; talhos e tabernas, rua que dava vida e serventia aos opulentos prédios da rasgada Avenida liberal e burguesa.
No Largo da Anunciada, ao lado da Igreja de S. José, um prédio finalmente recuperado sempre vai dar em mais um hotel… bom para a concorrência?! Pelo menos está restaurado ao fim de vários anos de intermináveis obras. Continuamos a descer e, recuando na História, chegamos aos Restauradores. Ironia dos tempos, a rapaziada entusiasma-se com a “parada” das vacas coloridas que, espampanantes, atraem as objectivas das câmaras dos turistas felizes. Estes, em conjunto com os africanos e demais imigrantes, são nos dias que passam os "indígenas" destas paragens... Que ambiente! E que bonita cidade afinal partilhamos.
Do Rossio explico aos miúdos algumas épocas que vislumbramos. O D. Maria do Garrett, o altivo Convento do Carmo… e não podemos ir mais longe, que se faz tarde para o nosso objectivo primeiro!
Chegados à Igreja de S. Domingos, o órgão toca música barroca. Esta Igreja, com origem num mosteiro dominicano fundado no reinado de D. Sancho II, impressiona-me pela sua carga histórica. Percorremos o corredor central e… percorremos centenas de anos de História, de celebrações, tragédias e contradições. Dos homens. Da nossa Igreja e da nossa cidade. De um povo caminhante, quantas vezes errante.
Parece-me que todos captamos a mensagem que aquelas paredes de pedra queimada nos contam.
Do meu lugar, cá em baixo, "lembrei-O" da minha família e amigos. Sem esquecer o meu País. Que sempre haja caminho… E que a História nunca acabe, afinal.