O mercado dos horrores
Lembro-me quando na minha inocência infantil, a mais plausível perversão do mundo era um joelho arranhado no recreio, ou a trágica orfandade do Bambi numa sala de cinema. Tive a sorte de nascer num meio estruturado. A vida no entanto, com o tempo, tratou de me desvendar toda uma sorte de macabras ignomínias, toda uma degradante paleta de horrores, sempre em chocante confronto com a grandeza e divina genialidade humana.
A obra do Diabo, definitivamente, não precisa de assessoria mediática. Com a nossa animal apetência para o voyeurismo, o macabro é uma fonte inesgotável de negócio, e um sucesso editorial sempre garantido. Do cinema até à literatura de faca e alguidar, vários são os “suportes” da próspera indústria do horror, da obscenidade. Pelo menos para o nosso anafado e confortável modo de vida, já que as desgraçadas vítimas não devem achar piada nenhuma reverem-se nas suas rotineiras fatalidades.
Mas como em matérias de desgraças a realidade supera muitas vezes a mais histérica ficção, a Comunicação Social logo se revelou o mais bem sucedido suporte desse "produto". Quanto mais aberrante melhor. Haverá sempre por aí um Homem Elefante ou uma família de tarados para desvendar ao ávido público. No princípio, as notícias “de horror” eram publicadas em desinibidos jornais especializados, como uma espécie de pornografia popular tolerada. Hoje, o eterno filão é explorado despudoradamente e qualquer doentio caso de violência doméstica facilmente ganha estatuto de “tema de fundo” num diário ou semanário de referência: a mãe que serrou os filhos aos bocados, a criança sequestrada pelo vizinho, o "respeitável" economista que afinal é pedófilo, o irmão que esventra o irmão... E o interminável caso Maddie. E à noite, se não me cuido, ainda sou apanhado por um psicólogo no canal de notícias que pretende aconselhar os incautos progenitores como explicar às criancinhas aqueles fenómenos psicossociológicos. Não vão os meninos começar a desconfiar da mãe, recusarem-se ir à mercearia do Sr. Aníbal, ou ao Jardim Zoológico com o tio José.
Sob o liberalíssimo império do mercado, o voyeurismo, a notícia de sangue e a depravação, rende monstruosos dividendos e emprego a muita gente. Nesta lucrativa cultura do pavor, promove-se a perspectiva do moscardo, que desvendará sempre a partícula de excremento na mais idílica paisagem.
Sem discernimento ou sentido crítico para optar com liberdade, uma enorme plateia, alienada, assiste impávida ao degradante espectáculo diário. Com o tempo, mudarão os protagonistas desta hedionda telenovela, um reality show da miséria humana. Até que todos acreditem mesmo que o mundo é afinal uma enorme e depravada pocilga, e que tudo o resto não é mais do que uma gigantesca conspiração para nos fazer acreditar que vale a pena sermos melhores, amarmos mais e sermos felizes.
A obra do Diabo, definitivamente, não precisa de assessoria mediática. Com a nossa animal apetência para o voyeurismo, o macabro é uma fonte inesgotável de negócio, e um sucesso editorial sempre garantido. Do cinema até à literatura de faca e alguidar, vários são os “suportes” da próspera indústria do horror, da obscenidade. Pelo menos para o nosso anafado e confortável modo de vida, já que as desgraçadas vítimas não devem achar piada nenhuma reverem-se nas suas rotineiras fatalidades.
Mas como em matérias de desgraças a realidade supera muitas vezes a mais histérica ficção, a Comunicação Social logo se revelou o mais bem sucedido suporte desse "produto". Quanto mais aberrante melhor. Haverá sempre por aí um Homem Elefante ou uma família de tarados para desvendar ao ávido público. No princípio, as notícias “de horror” eram publicadas em desinibidos jornais especializados, como uma espécie de pornografia popular tolerada. Hoje, o eterno filão é explorado despudoradamente e qualquer doentio caso de violência doméstica facilmente ganha estatuto de “tema de fundo” num diário ou semanário de referência: a mãe que serrou os filhos aos bocados, a criança sequestrada pelo vizinho, o "respeitável" economista que afinal é pedófilo, o irmão que esventra o irmão... E o interminável caso Maddie. E à noite, se não me cuido, ainda sou apanhado por um psicólogo no canal de notícias que pretende aconselhar os incautos progenitores como explicar às criancinhas aqueles fenómenos psicossociológicos. Não vão os meninos começar a desconfiar da mãe, recusarem-se ir à mercearia do Sr. Aníbal, ou ao Jardim Zoológico com o tio José.
Sob o liberalíssimo império do mercado, o voyeurismo, a notícia de sangue e a depravação, rende monstruosos dividendos e emprego a muita gente. Nesta lucrativa cultura do pavor, promove-se a perspectiva do moscardo, que desvendará sempre a partícula de excremento na mais idílica paisagem.
Sem discernimento ou sentido crítico para optar com liberdade, uma enorme plateia, alienada, assiste impávida ao degradante espectáculo diário. Com o tempo, mudarão os protagonistas desta hedionda telenovela, um reality show da miséria humana. Até que todos acreditem mesmo que o mundo é afinal uma enorme e depravada pocilga, e que tudo o resto não é mais do que uma gigantesca conspiração para nos fazer acreditar que vale a pena sermos melhores, amarmos mais e sermos felizes.