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João Távora

Semana "à Paulo Bento"

Nesta SEMANA “à Paulo Bento” – o feriado de Todos os Santos confere-lhe uma risca ao meio – desejo à equipa do Sporting toda sorte do mundo logo à noite na “batalha” de Munique. A rapaziada bem merece.

"Escolhas" - Uma questão de agenda?

Equívoca me pareceu a posição do professor Marcelo Rebelo de Sousa quanto à questão da despenalização do aborto, ontem nas suas “escolhas”. Ficou bem sublinhado o facto de o aborto ser matéria de referendo graças à sua iniciativa em 1996. Tudo bem; estamos-lhe gratos. Mas quanto ao assunto, eu ontem esperava uma sua posição mais… afirmativa. Hoje ao reler o resumo das suas “escolhas” no DN confirmei pelo texto a sua clara abstenção.
Entendi que aceita a pergunta a referendar como boa. Mas o que ficou a zumbir no meu ouvido foi que o professor considera precário o prazo das dez semanas de gestação na “humanitária tolerância” à mulher que aborta… E pareceu-me ouvir confirmada a minha tese de que o governo Sócrates consegue preencher a difícil agenda 2007, com mais ou menos legítimas manobras de diversão, entre a campanha para o referendo e a presidência da UE. Acho pouco.
Não conheço a agenda do professor, mas acho pouco.

Sinais dos tempos

Eu fico chateado, lá isso fico: a “festa” do Halloween está aí para ficar. Entre os miúdos definitivamente já faz parte do calendário. Suspeito até que a minha filha pequena, orgulhosa, na terça-feira vai construir e trazer do colégio uma máscara “horrenda”. Comigo surtirá por certo todo o feito. É que eu fico (secretamente) horrorizado com estas invasões “barbaras” dos “S. Valentins”, das “bruxas” e quejandos. No restaurante aqui em baixo já anunciam uma ementa temática para a celebração. O “consumidor” integrou a nova “tradição”?
Experimente-se sondar numa escola do 2º ciclo os significados atribuídos às datas 31 de Outubro e do dia seguinte (dia de Todos os Santos)…
São os danos colaterais da implacável e liberalíssima globalização.
E qualquer dia ainda escrevo sobre a aberração do anafado Santa Claus que hoje, qual insaciável Narciso, abancou definitivamente nas palhinhas dos nossos presépios…

E esta graçola?!

Um homem está a conduzir o seu carro, quando a certa altura percebe que se perdeu. Dá conta de outro homem que passa por perto, encosta ao passeio e chama-o:

- Desculpe, pode dar-me uma ajuda? Prometi a um amigo encontrar-me com ele às 14h, estou meia hora atrasado e não sei onde me encontro.
- Claro que o posso ajudar. O senhor encontra-se num automóvel, entre os 38 e os 39 graus de latitude norte e os 9 e 10 graus de longitude oeste, são 14 horas, 23 minutos e 42 segundos, hoje é quarta-feira e estão 27 graus centígrados.
- O senhor é informático?
- Exactamente! Como é que sabe?
- Porque tudo o que me disse está correcto do ponto de vista técnico, mas é inútil do ponto de vista prático. De facto, não sei o que fazer com a informação que me deu e continuo aqui perdido.
- Então o senhor deve ser um gestor, certo? - responde o informático
- Na realidade sou mesmo. Mas... como percebeu?
- Muito fácil: não sabe nem onde se encontra, nem para onde ir; fez uma promessa que não faz a menor ideia de como vai cumprir e agora espera que outro qualquer lhe resolva o problema. De facto, encontra-se exactamente na mesma situação em que estava antes de nos encontrarmos, mas agora, por um qualquer estranho motivo a culpa acaba por ser minha!

Piada recebida por e mail, de autoria incógnita.

NÃO

Por uma vez, aqui no Corta-fitas afirmo: NÃO concordo com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.
Por uma questão de princípios, não consigo deixar de me chocar com a despenalização de um acto que, com mais ou menos atenuantes, considero criminoso. Mais, receio pela herança que vamos deixando aos nossos descendentes: um mundo em regressão civilizacional que vai cedendo paulatinamente ao relativismo individualista e ao novel moralismo hedonista.
Sendo estas as minhas convicções, jamais me demitirei dos meus direitos e obrigações de cidadania.
Mas não aqui no Corta-fitas. Pareceu-me do elementar bom senso não fazer deste meu privilegiado espaço de comunicação partilhado um campo de batalha de uma questão tão sensível.
Mas estarei aqui em frente, noutra praça pública, no blog do não, um projecto de um conjunto de cidadãos livres e conscientes - a maior parte bem conhecidos da blogosfera. Assim, convido desde já, adversários ou partidários, a visitarem-nos regularmente, para uma sã e democrática discussão onde esperamos prestar sempre homenagem à inteligência e à civilidade.

Serviço público

A 17ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA) abre hoje, 20 de Outubro.
Até ao dia 5 de Novembro, com sol ou chuva, frio ou calor, é um programa obrigatório para todos. Para os pais, os filhos, todos juntos, a sós ou em grupo, se encontrarem com uma arte e artistas “maiores”. No Fórum Luís de Camões, a cem metros da estação do Metro Amadora-Este na Brandoa. A não perder.

Ai vida boa!!!

A não perder, para sorrir e rir às gargalhadas. Para ler, reler, recitar, contar aos filhos e à sogra, emprestar aos amigos, levar para o trabalho para ler às escondidas: hoje nas bancas o mais cómico e divertido álbum do Lucky Luke - Os Rivais de Painful Gulch - os campónios narigudos contra os campónios orelhudos – lembram-se?
De referir que este livro integra uma equivoca colecção editada com o jornal Público – a maior parte dos títulos escolhidos são medíocres criações de Morris, a solo ou em má companhia, na tentativa de explorar o moribundo filão que foi este clássico herói da BD Franco-belga. Definitivamente, se o corpo do Lucky Luke pertence ao desenhador Morris, a alma pertenceu sempre ao argumentista René Goscinny (1926-1977). E sem alma não há vida.

A traulitada geral

Devo ter entendido bem: sobre o debate da despenalização do aborto que se vislumbra, para já, temos os hipócritas e os outros. Estes e aqueles vão iniciar uma desgarrada batalha retórica de onde ninguém sairá impune.
Para lá da mulher e do bebé desfavorecidos pela má fortuna deste capitalismo hedonista, que todos construímos e do qual todos somos cúmplices, o debate sobre a despenalização do aborto que se avizinha parece rumar rasteiramente para a demagogia, para os processos de intenções e para o insulto gratuito. O circo vai começar, eu já vi este filme, e confesso que não me apetece nada.
A traulitada geral que se avizinha funcionará como arma de diversão, e o governo de Sócrates por um curto período reconquistará a sua esquerda natural. E eu que não tenho nada a ver com isso, hesito agora em cavar a minha trincheira.
Mas o que me apetece é emigrar.

O grande desafio

"Naquele tempo, quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” Jesus disse: “Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe!” Ele respondeu: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. Jesus olhou para ele com amor e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” Mas, quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus!” (…)

(Evangelho de Jesus Cristo segundo S. Marcos).


Quis o destino que eu nascesse sem quaisquer bens terrenos. Os poucos bens que possuo hoje, chegado ao auge da minha maturidade, são perecíveis ou não têm valor digno de nota. Apesar disso identifico-me dramaticamente com o homem rico retratado no desconcertante evangelho deste Domingo que passou. De resto, parece-me que apenas numa leitura simplista podemos interpretar esta “riqueza” feita dos tais bens materiais. Nesta leitura deparo-me antes com um homem cheio de dispersão (sem religião – “re-ligação”, unidade) de tal forma comprometido com tralhas, vaidades ou efémeros fetiches, que recusou (escandalosamente) um convite, ali directo, pelo próprio Jesus palpável e visível, qual felicidade eterna sem distâncias ou intermediações.
Eu por mim, gostava de atingir a sabedoria despojada do Rei Salomão. Qual era a verdadeira riqueza do Rei Salomão? Eu por mim, sonhei com um templo, uma capela ou um pequeno espaço de oração, rectangular e minimal, e chão pleno de areia do deserto. Paredes brancas, mais nada. À frente, o altar, uma pequena Arca (fraqueza minha), símbolo inspirador do mistério do santíssimo sacramento. Arca que encerrasse verbetes com todos os nomes dos Santos nossos heróis antepassados. Lá dentro, nessa Arca fantástica, permaneceria uma vela acesa, símbolo do sopro da vida que nos foi legada por Deus criador. Seria esta uma “banda larga” na minha relação com Nosso Senhor.
Este ano tenho o privilégio de dar catequese na minha paróquia a um grupo de inquietos e rebeldes adolescentes do 9º ano do Catecismo. São miúdos sedentos de respostas a emergentes, caóticas e desconcertantes dúvidas. Julgo que os posso entender bem, já que fui o mais “ingrato” dos adolescentes. E remeto-os ao diálogo livre e à reflexão. No caminho do conhecimento de uma radical liberdade interior. No caminho exigente para a felicidade que advém da relação e da entrega. Tento transmitir este legado, um difícil desafio por certo, nestes vorazes dias.
De resto aceito a realidade de uma Igreja plural. Às vezes chocantemente plural. Não pretendo ser juiz na estética, ou inquisidor das intenções da cada crente, corrente, prática ou tendência. Fazer caminho na relação com Deus é do foro individual, e recuso a má fé, integrando-me organicamente na minha comunidade, assumindo a doutrina e dogmas da minha religião. E jamais me demitirei da transmissão de uma mensagem que para mim serve a libertação interior e a felicidade, quase sempre diferida, mas verdadeira.

Com amizade dedico este texto ao meu camarada de blog João Villalobos. Sobre o Santuário de Fátima, escreverei noutra ocasião.

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