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João Távora

História de Algibeira (8)


Nos finais do século XIX, a partir de Alcântara, localidade rural para lá da antiga estrada da circunvalação (artéria que delimitava a cidade), usava-se dizer "ir a Lisboa", aquando se empreendia uma viagem à Baixa, ao Bairro Alto ou ao Passeio Público. Por exemplo, em 1870 a Junqueira era um destino de veraneio para a burguesia e fidalguia abastada da cidade.

É a vida…

É constatar através dos monumentos e toponímia das nossas cidades como a história tudo perdoa, integra e relativiza. São vários os tiranos, oportunistas ou simples velhacos que conquistaram impunemente o seu pedestal na história. Sebastião de Carvalho e Melo, Costa Cabral ou Afonso Costa, para não ir mais longe, disso são exemplos.
Eu que não sou de intrigas, e não estarei cá para o comprovar, suspeito que bastará mais uma ou duas gerações para a “nomenklatura” do Estado Novo recuperar ou conquistar as suas tabuletas nas ruas, rotundas ou fontanários das nossas terras. É a vida...

A honestidade intelectual e o respeitinho

A esquerda e a direita de facto existem e, na sua fórmula moderada e racional, encontram-se normalmente ao centro da vida real. Sim; o povo de esquerda e o povo de direita têm ambos os seus esqueletos nos armários e os seus tabus. Personalidades, mais ou menos perversas ou incompetentes, que à boleia das suas ideologias ou causas conduziram politicas extremadas, cometeram erros estratégicos e proporcionaram trágicos desfechos. Por exemplo, hoje, a direita responsável não pode deixar de afirmar o seu incómodo com a estratégia e as politicas internacionais canhestras seguidas pela administração Bush. Já a esquerda deveria assumir séria apreensão para com o deficit de sensibilidade democrática de Hugo Chavez, já para não falar do trágico e hediondo Fidel Castro. De resto, é olhar sem preconceitos a história e seus protagonistas para humildemente percebermos que ambos os lados da “trincheira” têm razões para corar de vergonha. E que o ar apenas será respirável enquanto imperar o equilíbrio e a razão.
Daí que, quando nos posicionamos num dos campos da contenda, por imperativos sociológicos ou culturais, se torna urgente o uso da honestidade intelectual na análise dos factos e dos protagonistas. O risco é o de promovermos organicamente o crime, a impunidade e a repressão, com o prejuízo para as vítimas e para o lento processo civilizacional. Princípios são princípios e contam para os dois lados. O respeitinho é de facto fundamental.

A civilidade só quando convém

Tão lamentáveis quanto compreensíveis são as manifestações de regozijo e festejos populares a respeito da morte de Augusto Pinochet. Entendo essa reacção irracional por parte de um povo ressentido que sofreu de perto e na pele os desmandos do ditador. A mesma tão primária atitude já não é compreensível quando provinda dos costumeiros moralistas da esquerda liberal (ou das outras).

Saudações leoninas


Uma oportuníssima blasfémia do JCD:

Dois regressos à normalidade, Liedson e o Benfica. Liedson acertou como acertava dantes. O Benfica também. Não é todos os dias em que em cada 3 remates se marcam dois golos. Apetecia-me fazer o velho trocadinho do "Nada para o Benfica, Naval nada" mas não faço, porque os meus amigos benfiquistas irritam-se muito sempre que se brinca com estas coisas.

Compras de Natal

Faz parte do protocolo natalício, a compra de presentes é uma questão tão exterior quanto inevitável. Assim, de forma a chegarmos vivos e mentalmente saudáveis àquilo que verdadeiramente interessa na efeméride, a minha mulher e eu fizemos durante o fim-de-semana o grosso das compras para os (muitos) sequiosos sapatinhos. Esta é uma árdua tarefa que requer algum planeamento já que ambos possuímos famílias grandes, traduzidas em dezenas de sobrinhos, progenitores e demais parentes de forte proximidade (coisa própria de ciganos, pretos e de alguns intrépidos latinos). Estrategicamente com a ausência das nossas crianças, fizemos nestes dias duas grandes investidas em espaços comerciais que surtiram os resultados desejados: umas boas sacadas de presentes que estão agora guardados em cima do armário alto à espera da emocionante hora da distribuição. Com estas produtivas incursões mercantis, resolvemos as listas quase todas, não sem antes vivermos momentos de conflito interior perante as ansiedades de alguma mais difícil escolha ou simples frustração diante do inacessível.
“Coração que não vê, coração que não sente”, bem diz o povo. É por isso que eu não gosto de circular em centros comerciais, principalmente em lojas de gravatas, livrarias, lojas de som e de música. Daí que a FNAC seja para mim um local de algum stress e perdição. Esta loja tem quase tudo o que eu necessito para pensar que sou feliz. Chegados aí já carregados de mil sacos, namorei longamente uma edição em vinil do último álbum de David Gilmour, e quase cedi à tentação de substituir o meu velho Nokia com (imagine-se!) mais de seis anos. Finalmente não resistimos à tentação da comprar o "Até onde se pode ir?”, último romance de David Lodge, pecado que a minha mulher e eu, sem perdão, não prescindimos de cometer a cada nova edição deste divertido escritor britânico. Assim perdidos, também escolhemos para embrulhar a fotobiografia da nossa última rainha, o “Amélia Rainha de Portugal”, por Fernando Nobre. Trata-se de um elegante livro de mesa para o qual prometi arranjar espaço de vaidoso destaque na mesa da sala. Também carregámos o saco com o volume nº 25 da Enciclopédia Verbo Sec. XXI, e ainda não vejo chegar a hora de conhecer tudo o que há para saber sobre Zebras, ou sobre algum histórico Zuzarte.
Já agora, um conselho aos retardatários: quem não gosta de gente a mais e de muitos encontrões, bichas para pagamentos e criancinhas a choramingar, aconselho-os vivamente a enfeirarem no Saldanha onde os espaços são arejados e elegantes, as lojas bonitas e as pessoas cordatas. Tudo o que é preciso.

Uma cidade em ruínas

Ontem, na rua onde trabalho, um enorme aparato rodeava o prédio logo abaixo, com bombeiros, protecção civil, televisão, repórteres e mirones. É apenas mais um prédio do início do século XX a cair de podre. Um caso entre centenas de outros em Lisboa, fruto da paralisia do mercado de arrendamento e especulação imobiliária.
Nalgumas cidades europeias, as autoridades preocupam-se com os imprevisíveis ataques terroristas. Já os lisboetas, cercados por autênticos “castelos de cartas” em betão, rogam secretamente à clemência dos elementos para que não despertem um dia para uma verdadeira tragédia.
Prédios em ruína deprimem-me. São sinais explícitos de morte numa Lisboa cada vez mais deserta e decadente. Uma enorme dor de alma.

Gestores de bancada

É um facto relativamente recente e vem na sequência da revolução operada na gestão financeira dos clubes de futebol. Hoje em dia, no café ou na rua, o povo comenta animadamente as notícias das contas dos seus clubes do coração. Numa qualquer tasca do Bairro Alto ou café em Amarante, além da jornada desportiva são esgrimidos argumentos como a cotação das SADs, aumentos de capital, activos, passivos, custos com pessoal, produtividade, etc. etc.
Agora resta-nos aguardar com esperança que estes entusiasmados adeptos e conscientes gestores, apliquem nas suas vidas e profissões os princípios que anseiam ver cumpridos nos seus clubes de futebol. Anuncia-se assim um novo realismo nas negociações com o patronato, o fim das greves irresponsáveis, um reforço das noções de produtividade e uma consciente e positiva adesão aos objectivos da empresa.
Que bom, prenuncia-se para breve um país de sucesso!

Ir à bica e a boa vida

Aquela máquina apresentada pela Isabel ali em baixo dá um café a saber a conservantes, e aqueles “preparados” têm uns aromas mais próprios para rebuçados. Sou eu que o digo porque já provei algumas "drageias" daquelas. O assunto já foi motivo de acesa discussão com amigos e em família. As opiniões divergem, mas aquilo definitivamente não me apetece. Além de sair cara cada pastilha, quando tomo café em casa, gosto daquele de saco, e se tiver visitas até o faço “de balão”. Cada coisa no seu sítio!
Depois, não me tirem o passeio para o café, na esplanada ou lá dentro, no Paredão ou na Garrett, com o jornal ou um bom livro, sozinho ou em boa companhia. Ir ao café é um ritual imprescindível para o meu equilíbrio, mesmo que seja “à pressa” e ao balcão. É uma boa maneira de começar o dia, comentar com o Sr. Camilo as últimas “da bola” ou do bairro. Nisto de máquinas (caras!) já me basta a Bimbi nova lá em casa, por quem (!) eu morro de ciúmes. Aquela treta de mil euros, que só faz um litro e meio de sopa de cada vez, agora domina a culinária doméstica. Agora é que ninguém mais quer saber dos meus prosaicos petiscos calóricos, gordurosos e tradicionais. É ver a criançada fazer lasanhas e outras habilidades com molho branco e tomatada, todas contentes com a mãe babada a ver.
Depois do "cinema em casa" querem-nos vender a bela da "bica em casa". Já soube de uma companhia de teatro que vai ao domicílio, e com a Internet também já podemos trabalhar e pagar os impostos a partir de casa. Enfim, com um montão de euros e boa tecnologia podemos sobreviver emparedados. Mas eu gosto mesmo de sair para ver a paisagem, o povo, e respirar outros ares.
E agora acabo, com a vossa licença, que vou lá abaixo tomar a “bica” e ver como param as modas.

Mais fôlego para a TSF

Dizem-me para estar atento à “bem esgalhada” campanha de publicidade da TSF que hoje se inicia. Logo pela manhã, pego no DN com direito àquela falsa e irritante 1ª página que costumo deitar fora sem ler. Só que desta vez chama-me a atenção a promoção do comentador da “Direita” generosamente eleito por esta estação, o Dr. Santana Lopes.
Claro que vou continuar convictamente sem sintonizar esta “democrática e plural” estação radiofónica. Vá lá, concedo que quando calhar vou ouvir o Fernando Correia e o Manuel Pedro Gomes, que no que concerne ao tratamento da informação desportiva são verdadeiras mais-valias.