Inveterado emocional como sou, na quarta-feira deitei-me com um amargo de boca, incomodado com a tragicomédia que foi o desfecho do Portugal vs. Sérvia. Tudo correra mal, e o pior ainda era o humilhante comportamento do treinador. Admiro quem logo no dia seguinte friamente opinou, julgou e escreveu, enquanto eu fiquei literalmente amuado. Privilégio(?) de quem não é colunista ou jornalista.
Scolari, nos dias da minha vida, foi o seleccionador que mais longe levou as cores da equipa nacional de futebol. Scolari, de facto, anteontem excedeu-se, cometendo uma argolada grave. Aborrecida para a débil imagem da minha tribo e comprometedora para os objectivos desportivos da rapaziada da bola. De caminho, a sua imagem ficou bastante chamuscada: imagino o que no dia seguinte o caçula do treinador ouviu no colégio... E compreendo que algumas marcas estejam a fazer contas de cabeça à rentabilidade da imagem do nosso ex-prazenteiro seleccionador. Ele, que afinal foi o melhor que eu conheci à frente da selecção nacional nos meus quarenta e seis anos de idade. O único que, por exemplo, com olímpica indiferença, ultrapassou os lobbies clubistas e outras máfias domésticas - com os resultados que se conhecem.
Tudo isto é uma chatice, um aborrecimento, eu sei. Mas não é mais do que isso, é futebol; e por mim, que não sou presidente da UEFA, o Sr. Scolari está mais do que perdoado. Espero que a justiça desportiva não seja severa e que ele possa voltar quanto antes a sentar-se no banco a liderar os seus rapazes. E dessa forma dar-nos mais algumas alegrias com as cores republicanas, no único uso onde ganham alguma graça. Para que no fim, seja qual for o resultado alcançado no europeu de 2008, Filipão se despeça da demanda portuguesa com merecido orgulho e dignidade.