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João Távora

Há vida para além do PSD

Já esgotei a minha paciência de cidadão responsável para a novela das “directas” social democratas, agora aguardo serenamente pelos capítulos finais. O Francisco Almeida Leite que me perdoe, mas no DN já só leio as gordas (e os subtítulos, não vá escapar-me algum acontecimento relevante). O nosso Pedro Correia que desfrute esta oportunidade dourada para exercer o seu ódio de estimação ao PSD, que eu já não quero mais saber. Fascina-me a disputa politica, mas a partir de um certo nível da sua orgânica, se as questiúnculas não envolvem directamente os meus afectos, passam a constituir apenas ruído de fundo. Se acontecer qualquer coisa mesmo importante, eu vou dar por isso, tenho a certeza.

Entretanto temos aí uma galopante crise na economia mundial, que deveria estar já a alterar a escala das nossas preocupações.

Onde pára a polícia?



Na sequência do assalto à esquadra de Moscavide, os polícias “exigem mais segurança dentro das esquadrasnoticia o DN de hoje. Se o problema é de recursos humanos, eu sugiro que a PSP recorra ao outsourcing para colmatar a lacuna do sistema: para as zonas mais problemáticas poder-se-á avençar uns "seguranças da noite", da branca do Porto ou da negra de Lisboa. Certamente estas criaturas, se escolhidas a dedo, serão conhecedoras dos gangs e delinquência local e negociarão com facilidade a paz e segurança dentro de portas. Por outro lado, se por mero acaso algum desafortunado for condenado por algum crime, basta transferir o seu posto de trabalho para dentro da cela.

Para as esquadras localizadas em lugares mais pacíficos, penso que bastará um "Securitas" sentado a uma secretária a limar a unha. Este será um tremendo elemento dissuasor, para mais se for apoiado por um daqueles tradicionais sistemas electrónicos: uma câmara de vigilância e um alarme ligado à central, que quando activado soará em simultâneo... na esquadra da polícia, para um eficaz e pronto socorro.

Domingo

Evangelho segundo São João 14, 15-21

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco: Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece, mas que vós conheceis, porque habita convosco e está em vós. Não vos deixarei órfãos: voltarei para junto de vós. Daqui a pouco o mundo já não Me verá, mas vós ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. Nesse dia reconhecereis que Eu estou no Pai e que vós estais em Mim e Eu em vós. Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele».


 


Da Bíblia Sagrada

Devoção e água benta...

Passou ontem o trigésimo quarto dia de S. Vinticincodabril. As cerimónias e celebrações, como habitualmente, realizaram-se nos salões e templos do regime, onde foram entoados diversos cânticos revolucionários do século passado. As habituais homilias solenes foram proclamadas de norte a sul do país.  Os tempos e as santas realizações da revolução foram recordadas entre lágrimas e suspiros nostálgicos dos mais devotos “democratas”.

A prédica mais esperada foi proclamada no hemiciclo de S. Bento pelo Sr. Presidente, que com as suas extraordinárias revelações e sábias advertências não desmereceu as expectativas do público. Depois disto, a crédula pátria não será mais a mesma, pelo menos a contar de segunda-feira que é quando começa mais uma espinhosa semana de trabalho.

As costumeiras procissões e desfiles saíram à rua, mas nota-se-lhes hoje menos brilho do que outrora, nos tempos áureos da função. Os consagrados também já foram mais, mas no cortejo da avenida as suas preces e ladainhas continuam a fazer-se ouvir alto e bom som. Os mais crentes ainda clamam pela promessa do socialismo, a derradeira redenção do povo verdadeiramente unido.

Por esta altura, os pregadores regimentais propagandeiam as suas profissões de fé sobre a insofismável felicidade popular conquistada às trevas da opressão pela revolução dos cravos. Nas escolas e liceus, os mestres da história regimental aproveitam o ensejo de conversão: papagueiam uma tabuada de lugares comuns de uma história maniqueísta e instrumental com as suas ignorantes criancinhas.

Os media uma vez mais deram reverente testemunho destas celebrações e solenidades. Para uma plateia tão catequizada como acrítica que afinal tirou o dia para ir passear...

Sunset Boulevard


 

Era vê-lo ontem à entrada do Conselho Nacional, rodeado de flashes e objectivas, caminhando lentamente, deleitado e complacente para com as perguntas ansiosas dos repórteres. Santana Lopes não ama o palco, não ama o povo, ama o público. E comunga com os media uma mútua atracção, tão fatal quanto estéril. Produto duma época, duma cultura leviana e narcísica, Santana não resistirá à perspectiva de umas semanas de aceso protagonismo mediático. Negligente quanto aos fins, mas apostado a chegar aos meios: espelho meu, espelho meu...

Os meus livros

Cresci no meio de livros, pequenos, pesados, grandes ou leves,  de todos os géneros formas e feitios. Experimentei-os feitos de pano, em papel e até pergaminho, quando o meu pai mos deixava apalpar para  satisfação da minha curiosidade. Habituei-me a viver com eles, empoleirados nas estantes do escritório e ao longo do corredor lá no 3º andar de Campo d’ Ourique. Até na casa de banho se formava uma pequena biblioteca de circunstância com pilhas de “patinhas”, “argonautas”, “vampiros” e “selecções”.

Foi na Avenida da Liberdade, na casa dos meus avós, que descobri o armário dos Tintins, no quarto do meu tio, ausente no ultramar. A minha vida nunca mais seria a mesma. Recordação remota é a dum fascinante livro de mesa, que se escondia no armário da grande sala da avenida, em papel sedoso e pesado, com fotografias e ilustrações do Parque da Gorongosa, que ficava lá nas áfricas, para onde os meus tios iam prá guerra. Então perdia-me na savana africana, entre coloridas fotografias de leões e gazelas, enquanto a televisão imponente e pesada transmitia a mira técnica entre duas aulas da telescola.

A determinada altura, os meus pais estabeleceram prémios por objectivos, atribuídos à leitura de livros “sem bonecos” da Virgínia de Castro e Almeida, Condessa de Ségur ou Enid Blyton, aos quais por preguiça eu ainda resistia. Fazia-me muita impressão a rapidez com que o meu pai devorava todo o género de livros, a toda a hora. Hoje ainda tenho dúvidas se os lia na diagonal ou salteado, pois era vulgar encontrá-lo tempos depois afincado de novo ao mesmo romance ou ensaio que despachara numa hora.

Sou dos que lêem os livros devagar, não sei se por jeito ou falta dele. Estou condenado a escolher bem as minhas leituras, pois o “meu tempo” é um bem muito escasso. Nunca alcancei uma fórmula de leitura rápida que satisfizesse a minha compreensão. Facilmente me perco entre duas linhas dentro da história, na senda dum fugaz pormenor, ou duma recordação espicaçada. Também me zango com os livros, desisto, troco-os e traio-os quando me entediam ou fazem sofrer. Mas termino-os quase sempre e tenho dificuldade em me desfazer deles: um drama para quem mora numa casa de subúrbios, atravancada de gente e respectivas tralhas. E que falta nos faz aquele sentido prático dos que inventaram os paperback, aqueles livros descartáveis de que os bifes se "esquecem" nos hotéis... pois afinal onde é que guardamos uma boa leitura?

Novo fôlego

Com alguma probabilidade de vir a ser politicamente “imolada”, considero que a atitude patriótica de Manuela Ferreira Leite ao candidatar-se à liderança do PSD constitui a pior notícia para José Sócrates e Paulo Portas nos últimos tempos. Quem dava por defunto o partido de Sá Carneiro e Aníbal Cavaco Silva terá que reconhecer que a Fénix renasce na Primavera. Melhores tempos e muita animação se adivinham para a indigente vida politica nacional. O País agradece.

 

Post dedicado ao meu saudoso amigo Duarte Calvão, blogger perdido em combate algures em S. Mamede.

Em nome da Liberdade

O que significa a indiferença global, perante esta carta de Rosa Coutinho a Agostinho Neto nos sombrios anos revolucionários? Não deveria o documento originalmente publicado no livro “Holocausto em Angola”, da autoria de Américo Cardoso Botelho (Edições Vega 2007) e divulgado por António Barreto num jornal de referencia nacional, originar um séria investigação e debate nacional? Atente-se nas palavras que transcrevo da dita carta: “ Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela”.

Em 1975, com catorze anos, eu militei como podia e sabia, contra o impetuoso processo revolucionário totalitarista que se desenrolava sob a liderança do PCP. Durante a ponte aérea daquele quente Verão de 75, no convívio com os retornados que acolhíamos distribuindo bens de primeira necessidade à chegada a Lisboa, muitas e desesperadas denuncias nos eram sussurradas com desespero. Assim, nenhum destes casos denunciados me é totalmente estranho.

A crónica de Ferreira Fernandes hoje no Diário de Notícias tocou-me como um violento soco na barriga: porque eu próprio a aceitei como falsa “porque sim"? Porque de facto a indiferença foi generalizada. A “intelligenzia” dominante criou e alimenta os seus Tabus, Vacas Sagradas e Bodes Expiatórios. Quando nos preparamos para celebrar uma vez mais o 25 de Abril, convém lembrar que sem a verdade não há efectiva Liberdade: sobram a alienação e o oportunismo que, alimentadas pelos poderes, constituem a mais vil das opressões.

 

 

 

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