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João Távora

Domingo

Evangelho segundo São Mateus 13, 44-46




Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto?» Eles responderam-Lhe: «Entendemos». Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».




Da Bíblia Sagrada

 

Domingo

Evangelho segundo S. Mateus 13, 24-30


 


Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’. Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’. ‘Não! ­­– disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’».


 


Da Bíblia Sagrada

Umas férias fracturantes


 


Graças a Deus uma vez mais estou de abalada para uma curta temporada balnear. Isto não acontecerá sem que logo à noitinha eu mais a minha Maria vamos de comboio, ganga e sapatilhas, ouvir o velho Leonard Cohen recitar ali prós lados de Algés. De resto o remanso familiar decorrerá em Milfontes, como deve ser, como sempre foi desde que tenho memória, e que apenas o PREC teve o poder de interromper por um longo período.


Normalmente este é tempo de dar soltura às crianças, vestir calções e chinelos o dia todo; arejar as leituras com jornais (quase até ao obituário), ler crónicas, contos e até quem sabe um romance. Ao fim de alguns dias, o inevitável resultado desta receita temperada com mar, muita poeira, cerveja e peixe fresco é uma ociosa descompressão que reservo para uns últimos dias em S. João do Estoril, já com as horas trocadas, filmes alugados e leituras nocturnas à varanda. Grosso modo as minhas férias são bastante previsíveis e terminam com direito a missa de Nossa Senhora da Assunção e a familória toda reunida em S. João para a minha habitual festa de anos. É assim que vai ser este ano outra vez e como tal continuará no futuro, se Deus quiser,  enquanto eu viver e tiver saúde: um conservador é um conservador, e entre outras coisas tem convicções, não faz cedências, e desconhece familiares do Bloco de Esquerda. Não quero desiludir ninguém, mas o velho Sousa Homem é uma benévola e politicamente correcta idealização de um reaccionário, só possível pela mente arrevesada de um cândido progressista.

De resto, há alguns anos que aguardo por uma intricada conjugação de factores que permita levar a "família pipocas" em passeio a Paris só com a ajuda dum GPS e do Guide du Routard: uma folga financeira e não termos uma endiabrada criancinha pequena. Suspeito que a oportunidade se adivinha para os próximos anos, só não sei se os miúdos mais velhos ainda terão pachorra para a empreitada.

 

Mens sana in corpore sano

Por causa duma vida sedentária e dos anos de idade que se me acumulam imparáveis, há uns meses que sou freguês assíduo dum ginásio aqui ao pé do escritório onde trabalho. Estou nisto sem ceder à irritante terminologia autóctone: recuso-me a chamar "PT" ao professor e insisto na designação “ginástica”, em vez de “treino”, pois eu não passo dum modesto quarentão burguês, com tendências intelectuais e que certamente nunca será um verdadeiro sportsman.

Apesar das cada vez mais acentuadas peladas no meu couro cabeludo, dos sulcos de expressão que alastram na minha cara, e das manchinhas que já se adivinham nas costas das minha mãos, o facto é que me sinto feliz e fresco que nem uma alface: mens sana in corpore sano, faz todo o sentido pois então.

É com esse fito que três vezes por semana corro como um hamster num tapete rolante, pedalo infindáveis quilómetros para lado nenhum e empenhadamente remo a seco contra uma maré inexistente. Além disso, fascinado, tenho descoberto preguiçosos e ocultos  “grupos musculares” que exercito vigorosamente para que nunca passe vergonha se um dia tiver que deslocar um piano de cauda às costas.

Quando no ginásio observo à minha volta dezenas de personagens de todos os sexos, mais velhos e mais novos, mais ou menos excêntricos, a fazer tanta, mas tanta força, pergunto-me se será mesmo de todo inviável o aproveitamento dessa extraordinária energia gerada. Não poderiam os aparelhos devidamente adaptados alimentar a electricidade às instalações? Sem dúvida eu ficava mais satisfeito.

 

Crónica de Algés


À partida não gosto de festivais. Desagradam-me a charraria generalizada, o histerismo alcoólico, e gente demais para quem a música definitivamente não é o mais importante. Também me aborrecem os eflúvios orgânicos que emergem às tantas a meia distância do palco, único sítio viável para vermos o espectáculo sem ser pelos ecrãs gigantes. Para vê-lo num ecrã, tenho um bom em casa e não faltam registos de bons concertos no mercado.

Mas enfim, cada um tem o que merece e confesso que o Bob Dylan me desiludiu bastante. Quase insolente de tão blasé, não reparei que tivesse olhado para o público uma vez que fosse, limitando-se a despejar mecanicamente quinze temas quase irreconhecíveis de tão "recreados". Eu bem tentei entrar na onda, mas o pessoal à minha volta também não ajudava: contentavam-se a fumar charros de costas para o palco, a mandar “sms” ou a conversar (!) aos gritos aos ouvidos uns dos outros. Convenhamos que experimentei sentimentos mesmo maus e que nessa noite saí frustrado.

Já com Neil Young abstraí-me inteiramente das minhas esquisitices: o espectáculo foi simplesmente memorável, encheu-me as medidas. O eterno trovador, do alto dos seus 64 anos, demonstrando uma invejável boa forma, “deu o litro”. Quase nos fazia acreditar que aquele era o concerto da sua vida. E assim o pessoal rendido entregou-se em êxtase a um alinhamento de temas supremamente  requintado:  do country acústico de Harvest, ao rock mais áspero de The Rust Never Sleeps passando por After the Gold Rush ou por Spirit road do mais recente álbum Chrome Dreams. E para surpresa final um remate de mestria, uma assombrosa interpretação de A Day in the life dos Beatles, que quase nos deixou a todos em transe.  E como diz o povo, "isto" meus senhores, "é do melhor que a gente leva daqui”. Graças a Deus, digo eu.

 

Domingo

Evangelho segundo São Mateus 13, 1-9



Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça».


 

Da Bíblia Sagrada

Este país

Ontem à noite durante mais de uma hora fiz zapping pelas notícias na TV e garanto-te caro Pedro Correia que entre o Canal dois, a SIC Notícias e a RTP N poucas vezes ouvi a palavra nação. Cada um tem o que merece, e nós por cá só temos direito a “este país”. Até a náusea ouvi calamitosas referências  sobre a centenária crise d“este país” num tom de tragédia sem paralelo. Sumidades como Maria Filomena Mónica, Medina Carreira,  Helena Matos,  Marinho Pinto, Gonçalves Pereira, disseram tudo e nada sobre as misérias nacionais, do futebol à justiça, do ensino à economia, de José Sócrates a Salazar, discorrendo um alucinante panorama de horrores e fatalidades. Será que para salvaguardar o "bom nome" deste país, poupamo-lo não o referindo? Será uma questão de pudor, ou simplesmente higiénica?


Perdido por um, perdido por mil; angustiado, apaguei a televisão e pus-me  sossegadamente a ler mais umas páginas  dos diários de João Chagas. Afinal “este país” é uma questão de hábito.

Quero lá saber do estado da nação!


Vai ser um fim-de-semana de arromba: amanhã à noite Bob Dylan e sábado Neil Young à mesma hora. Amanhã tiro a gravata e visto a farpela de gala para a ocasião: uma camisa velha e as calças de ganga mais ruças. Imagino que vai ser duro chegar o mais perto do palco possível, que isto de concertos ao vivo só valem quando encaramos o artista nos olhos!

Expectativas maiores deposito para sábado com Neil Young, que em concerto só conheço das saudosas sessões em cinema no Mundial, The rust never sleeps, com imponentes colunas de som, e recentemente dos DVDs disponíveis no mercado.

Numa altura da vida em que prefiro o recato dum concerto no CCB ou na Aula Magna, boas salas onde se saboreie com requinte o contacto directo com os executantes e a magia dum bom som, só estes dois rapazes me fariam sair do sério duas noites seguidas para engolir um pouco de poeira e pular no meio da turba.

it' s only rock' n roll but I like it!!!

A bomba relógio


 


Conheço pouco mais do que os próprios factos: existem milhares de prédios devolutos e degradados em Lisboa a aguardar por uma política eficaz que reanime o mercado e salve o centro da cidade do destroço em que se tornou. O valioso património histórico e arquitectónico está nas mãos de senhorios arruinados, ambiciosos empresários e do estado português.

Conheço quem tenha batalhado teimosamente durante longos anos com intenção de recuperar para si um pequeno imóvel de habitação algures na Lisboa antiga. Talvez por ingénua honestidade (?) o processo se tenha arrastado sem que tenham cedido às pressões da burocracia onde me garantem houve pedidos insinuados de “luvas” como factor decisivo para a celeridade da tramitação dos papéis e projectos.


Muito se prometeu, muito se escreveu e tudo já se disse sobre este deprimente assunto. Fruto de uma ausência de estratégia, Lisboa explodiu para a periferia deixando um buraco negro ao centro, fenómeno que, em conjunto com a comprovada estagnação demográfica, não augura boas perspectivas para o mercado imobiliário. Assim sendo, parece-me que já chega de debates e comissões, estudos e pareceres, é tempo de arriscar e agir: a viabilização da cidade não requer uma reforma, requer uma revolução, um “plano Marshall”. Espero que António Costa e toda a edilidade reconheçam que é a sua própria justificação que está em jogo, que o cargo lhes poderá arder nas mãos, quando um dia destes o centro da cidade, arruinado e deserto, começar a ruir como um castelo de cartas. Já faltou mais.

 

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