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João Távora

Sejamos realistas...

Sou monárquico. Acredito profundamente na superioridade civilizacional da instituição realista e decidi há uns anos abraçar a missão de, neste país sem memória, não deixar esquecer a causa que anseio perdure e prospere nas futuras gerações.

Mas ao contrário do que possa parecer, o grande adversário deste ideal não está tanto na esquerda jacobina ou no positivismo materialista, mas antes reside entre os seus adeptos: está em primeiro lugar, em boa parte da elite académica cultural e política nacional que, nutrindo simpatia pela causa, abdica dela, bem fundo na gaveta do "pragmatismo", como garantia duma bem sucedida carreira pública sem embaraços. Em segundo lugar, está em algumas pessoas, pedantes snobs que gravitam em estéreis organizações monárquicas, ávidas de filar honrarias nobiliárquicas de obscuros antepassados. Estranho quanto a falta de noção de ridículo e tanta vaidade impeça esses patetas de perceber como prejudicam a nossa tão fragilizada causa.

Finalmente, concedo que a regeneração de Portugal está a montante desta questão do regime. Passo prioritário seria sem dúvida a  implementação duma cristalina meritocracia, duma sólida cultura de responsabilidade e excelência, que se sobrepusesse à vigente lógica do ressentimento e da devastadora inveja portuguesinha. Só depois disso será possível a Restauração.

 

Da boa educação

Não sou nenhuma flor de estufa, tenho os dois pés no mundo e no entanto faz-me alguma confusão a crescente banalização duma  linguagem feia e rasteira que prolifera  em cançonetas, filmes e programas de televisão, direccionados a uma determinada faixa etária ou “segmento de mercado”. Basta ver um filme de acção americano para classe média, um qualquer reality show, bonecos animados para adolescentes, ou escutar as palavras dum irrelevante recitador de RAP, para sermos confrontados com a mais hostil gíria e descontextualizado insulto a tudo o que mexe.  Um dia destes vi na MTV, num reality show na moda entre os adolescentes, uma rechonchuda cachopa americana vilipendiando ao vivo a sua namorada traída; numa verborreia onde o epíteto “cabra” era o mais carinhoso dos adjectivos. Eram seis da tarde.

O problema é que as palavras e os símbolos nunca são só palavras ou símbolos; possuem significados precisos e refletem sentimentos concretos dos quais jamais se descolam. No entretanto, a mesma adolescentocracia que tolera e trivializa estas aberrações “culturais”, vem a jusante chorar lágrimas de crocodilo e indignar-se com a violência doméstica, discriminação e outras enfermidades sociais que afinal alguma educação e valores teriam por certo atenuado.


Em meados do século XIX o jovem rei D. Pedro V idealizou a democratização da instrução, acessível e obrigatória a toda a população portuguesa. No dealbar do Século XXI o desafio é descobrirmos o que fazer para uma eficaz propagação dos bons valores e da boa educação.

 

O fascínio do jogo

 


Nestas coisas da bola, manda a boa etiqueta que o dedicado adepto atire sempre quantos foguetes possua antes da festa, que a coisa pode correr mal e o artefacto rebentar na nossa algibeira ou estragado pela falta de uso.  É isto o fascínio do jogo!

E foi bastante combalido no meu leonino orgulho que ontem à noite saí do estádio de Alvalade acompanhado por um meu colega de trabalho de Madrid, barcelonista doente - os convertidos são os mais fanáticos. Como bom anfitrião, foi a custo consegui manter um diplomático sorriso amarelo quase até ao fim. O Fernando, por boa educação, a partir do terceiro golo não mais festejou, mal disfarçando uma invejável e genuína felicidade. Enquanto o transportava para o hotel, ainda balbuciei umas justificações, mas confesso que não encontrei desculpas razoáveis para tanta frouxidão e azelhice sportinguista.

Enfim, custa-me sair à noite a meio da semana, dormi mal e hoje estou amuado. É assim a vida, passa depressa, é isto o fascínio do jogo...

Cavaco Silva


Ao ver Cavaco Silva na televisão nas recentes declarações a respeito de Dias Loureiro, o que mais me intrigou foi o aparente estado de debilidade física que o Chefe de Estado evidenciava: um aspecto tremendamente envelhecido e voz  trémula. Para mim, começa a fazer cada vez mais sentido a tese da incapacidade do PR encetar a dura batalha politica que se adivinha para o seu segundo mandato. Daí que até final do mandato Cavaco, decididamente um corpo estranho ao regimento dominante estará impiedosamente debaixo de mira dos seus ressabiados adversários. E os que se dizem seus amigos não deveriam porventura poupá-lo, mesmo que com sacrifício pessoal?

25 de Novembro


Foi há trinta e três anos que graças à acção de Jaime Neves e a um punhado de resistentes com quem pouco mais partilho do que o gosto de ser livre, que hoje neste país podemos “respirar”. E a falta que isso nos faz.

Pisar o risco

A blogosfera proporcionou-me durante os últimos anos, o prazer de opinar, de dizer livremente o que me passava na alma, quantas vezes arriscando no arame os limites da exposição pessoal. Um risco por vezes mal calculado: talvez quem como eu escreve por gosto, nem sempre domine bem o bichinho exibicionista que lhe anima a alma irrequieta. É mais forte do que eu: não resisto ao risco contínuo.

Depois, num dos meus últimos rabiscos no Corta-fitas, eu proclamava a promoção de pensamentos e propostas antagónicas, contra o afunilamento das ideias, estranguladas pelo discurso politicamente correcto, ou pela sufocante agenda dos operadores encartados do regime. Arrisquei e perdi. Aliás parecem-me manifestamente exagerados os anúncios do fim das velhas etiquetas “direita” e “esquerda”, úteis epítetos para concepções diferentes de organização social e de valores existenciais em confronto desde sempre. Talvez essas nomenclaturas sejam devidamente valorizadas quando a participação eleitoral um dia descer abaixo dos 30%... 


Nos dias que passam (apesar de tudo cada vez mais interessantes), há um meio por excelência onde se pode experimentar verdadeira liberdade e diversidade: é na Internet e nos blogues onde pela sua natureza orgânica se contraria a realidade virtual produzida pelos media tradicionais tendencialmente avassalados ao sistema que os sustenta. Uma redentora realidade que George Orwell (que adivinhou quase tudo) não soube prever.

Portugal deixou de olhar para o céu à procura de horizontes e passou a olhar para o chão á procura de migalhas... Frase lapidar esta, dum meu companheiro de causas que eu tanto gostaria de contrariar. Numa nação sonolenta e desapegada do futuro, em que para gáudio dos poderes e corporações instaladas a abnegada prática da cidadania é letra morta, parece-me urgente recuperar o risco da utopia e a assunção do conflito de ideias. Uma letra viva e agitada que resgate as gentes do medo de existir... de pensar e de agir. Afinal de contas o que é que de pior nos poderá acontecer?


 


Bem vindos ao Risco Contínuo