Mais uma crise - a da meia-idade!
Em maré de crise, há que dar uso ao termo, gastá-lo até às lonas. Depois, comprei as Selecções do Reader’s Digest na caixa do Supermercado, uma garrafa de espumante e uma passas bem mirradinhas para passar a meia-noite calmamente em casa com os pequenotes a batermos com uma colher de pau nos tachos à varanda. Comprar a revista foi um acto de saudosismo: uma agradável leitura de casa de banho, com tradições na família – em casa da minha avó havia-as dos anos quarenta com publicidade às Fortalezas Voadoras Douglas e às telefonias Zénite. Depois saltou-me à vista o título em grandes parangonas: “Luxúria , Líbido e a CRISE da Meia-Idade” – irresistível, vi logo que aquilo era um assunto importante.
Eu que sempre sobrevivi e cresci de crise em crise: a dos dentes, a dos sete anos, a da pré-adolescência, a da propriamente dita e posteriores, esperava escapar a esta. Lendo o artigo, e depois de uma curta auto-análise, imediatamente reconheci em mim alguns sintomas preocupantes: tenho 47 anos, "mudei de emprego recentemente", "frequento um ginásio" e estou a ficar velho e careca. A meu favor tenho o facto de não ter “comprado um descapotável”, de não sofrer de "Disfunção Eréctil" (So far so good!), e de não me babar boquiaberto perante uma mulher bonita (um esforço incessantemente renovado ao longo da minha vida - nunca o escondi), não ter “comportamentos temerários”, não fazer “compras extravagantes” (!) e não andar pr’aí na galderice a “fazer tatuagens” e assim. Na dúvida, procurei nas páginas seguintes um teste de cruzinhas que me esclarecesse bem. Em vez disso, encontrei os “Flagrantes da Vida Real” e logo se me desvaneceram todas as preocupações. Mesmo em crise, financeira ou outra, há coisas que, por se manterem imutáveis, nos acalmam o espírito: como é o caso das Selecções e uma passagem de ano sossegado em casa.
Um ano novo feliz para todos e não dêem demasiada importância ao calendário!