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João Távora

Portugal pequenino

Trinta e cinco anos após o 25 de Abril Portugal é uma partidocracia decadente, um país em profunda crise moral, económica e social. Com o debate político amestrado pela agenda politicamente correcta o regime mostra-se incapaz de se regenerar.

Claro que há alguns inconformados que apostam em projectos cívicos alternativos, numa luta desigual contra o poderoso centrão dos interesses.  É o caso de Laurinda Alves, candidata ao Parlamento Europeu (PE) pelo Movimento Esperança Portugal (MEP) que o jornal Público acaba de dispensar da sua lista de colunistas. De notar que neste mesmo jornal escrevem mais dois cronistas candidatos ao PE, o Rui Tavares pelo Bloco de Esquerda e Vital Moreira pelo partido do governo. As razões invocada pela direcção do jornal são “questões orçamentais”.  Laurinda Alves escrevia no Público há dez anos e nenhum outro colunista foi dispensado.

Coincidência ou não, também há pouco tempo Rui Marques presidente do MEP, deixou de escrever para o Correio da Manhã.

Quando falamos de Laurinda Alves e Rui Marques falamos de figuras públicas com prestigio e historial na intervenção cívica que optaram por posições políticas fora do sistema partidário vigente. E isso não tem perdão.

Trinta e cinco anos após o 25 de Abril os portugueses  têm aquilo que merecem: conformados e avessos à participação cívica, acabam por prezar o chavascal em que vivem nem que seja por inércia. Porque  afinal este é o panorama  que se adequa e melhor disfarça a mediocridade padrão.

 

O equívoco de Santana Lopes

De forma gratuita, Pedro Santana Lopes prepara-se afrontar os monárquicos portugueses convocando o letárgico Partido Popular Monárquico para a sua coligação à Camara Municipal de Lisboa. Estranho que os seus conselheiros não o tenham advertido de que o PPM se tornou num instrumento de promoção pessoal do Sr. Câmara Pereira, adversário dos monárquicos portugueses e persona non grata à instituição real que estes prezam e honram.

Tendo em conta o cariz supra-partidário da instituição que advoga, um partido monárquico é por si um contra-senso, e esse equívoco adensa-se quando o partido em causa acabou esvaziado de personalidades como Henrique Barrilaro Ruas e Gonçalo Ribeiro Teles, superiores figuras intelectuais que o fundaram e justificaram numa determinada conjuntura histórica.

Se Pedro Santana Lopes desejava atrair monárquicos com esta coligação é bom que se desengane quanto antes: isso não acontecerá num projecto que inclua o partido do Sr. Câmara Pereira.

Mais leitura, mais livros

Não é possível uma sociedade boa sem homens bons. As soluções aos desafios humanos, estão nas atitudes pessoais, começam nas nossas casas e partem dos nossos actos e vontades.

Na educação das minhas crianças travo duas duras batalhas contra a cultura do entretenimento e do consumismo: a primeira é a sua formação religiosa cristã, uma missão quase impossível no meio desta ruidosa bagunça hedonista.  A segunda, não menos ingrata, é a promoção da leitura: aos mais velhos já os desafio para os clássicos como Eça, Steinbeck ou Malraux, autores que ajudaram à minha formação como pessoa. Porque a boa literatura desacomoda e desvenda a magnitude do drama existencial. Porque a boa leitura ajuda a fazer pessoas melhores e mais completas.

Os meus livros


Cresci no meio de livros, pequenos, pesados, grandes ou leves,  de todos os géneros formas e feitios. Experimentei-os feitos de pano, em papel e até pergaminho, quando o meu pai mos deixava apalpar para  satisfação da minha curiosidade. Habituei-me a viver com eles, empoleirados nas estantes do escritório e ao longo do corredor lá no 3º andar de Campo d’ Ourique. Até na casa de banho se formavam pilhas de “patinhas”, “argonautas”, “vampiros” e “selecções”.
Foi na Avenida da Liberdade, na casa dos meus avós, que descobri o armário dos Tintins, no quarto do meu tio, ausente no ultramar. A minha vida nunca mais seria a mesma. Recordação remota é a dum fascinante livro de mesa, que se escondia no armário da grande sala da Avenida, em papel sedoso e pesado, com fotografias e ilustrações do Parque da Gorongosa, que ficava lá nas áfricas, para onde os meus tios iam prá guerra. Então perdia-me na savana africana, entre coloridas fotografias de leões e gazelas, enquanto a televisão imponente e pesada transmitia a mira técnica entre duas aulas da telescola.

A determinada altura, os meus pais estabeleceram prémios por objectivos, atribuídos à leitura de livros “sem bonecos” da Virgínia de Castro e Almeida, Condessa de Ségur ou Enid Blyton, aos quais por preguiça eu ainda resistia. Fazia-me muita impressão a rapidez com que o meu pai devorava todo o género de livros, a toda a hora. Hoje ainda tenho dúvidas se os lia na diagonal ou salteado, pois era vulgar encontrá-lo tempos depois afincado de novo ao mesmo romance ou ensaio que despachara numa hora.

Sou dos que lêem os livros devagar, não sei se por jeito ou falta dele. Nunca alcancei uma fórmula de leitura rápida que salvaguardasse o prazer, de maneira que estou condenado a escolher bem as minhas leituras, já que o "meu tempo” é um bem escasso.  Facilmente me distario entre duas linhas dentro da história, na senda dum fugaz pormenor, ou duma recordação espicaçada. Também me zango com os livros, desisto, troco-os e traio-os quando me entediam ou me fazem sofrer demasiado. O facto é que termino-os quase sempre e tenho dificuldade em me desfazer deles: um drama para quem tem uma família grande que mora num apartamento na periferia. Que falta nos faz algum sentido prático dos que consomem paperback, aqueles livros descartáveis que os bifes se "esquecem" nos hotéis... Afinal onde é que guardamos uma boa leitura?

 

Texto reeditado

A má educação de Sócrates


Pura grosseria é como eu classifico a forma como por diversas vezes José Sócrates se dirigiu ontem a Judite de Sousa e José Alberto de Carvalho. Essa característica do nosso primeiro ministro não é de menosprezar: é um sintoma da decadência a que chegaram as cúpulas políticas do nosso país. A isso não me habituo, e o resto foi retórica estéril.


 


foto de jure-zlatko vujevic

 

Que pena, era tão divertido...

Segundo o Paulo Pinto Mascarenhas Fernanda Câncio retirou-se do programa da TVI "A Torto e a Direito" moderado pela Constança Cunha e Sá.


Fico triste pois confesso que dava-me uma certa satisfação aquela exibição de pequenez intelectual e pobreza retórica da jornalista, no desequilibradíssimo confronto com João Pereira Coutinho e Francisco José Viegas...

Para os seus fãs, a senhora continuará a destilar a sua mesquinhez, ressabiamento  e preconceito na blogosfera e num diário de referência nacional. Mas à rédea solta, e se possivel entre camaradas, que é bem mais fácil.

O estado caloteiro

Em Outubro de 2008, a minha mulher foi consultada por um instituto público, tendo em vista a tradução de diversos documentos. O serviço foi adjudicado, tendo como contrapartida o pagamento de cerca de mil e quinhentos euros.

Tratando-se de uma micro-empresa de traduções técnicas, criada em 2007 para ultrapassar uma situação de desemprego - a qual, diga-se, tem obtido um relativo sucesso -, o valor em causa não é despiciendo.

A tradução ficou concluída no início de Novembro, mas apenas em Fevereiro chegou a nota de encomenda que permitiu a emissão de uma factura que até hoje aguarda boa cobrança.

Consequentemente, dentro de alguns dias vence o pagamento do IVA relativo a essa factura em dívida pelo Estado, que inevitávelmente terá de ser liquidado. Dada a dimensão da empresa, tal desembolo será efectuado mediante o recurso ao orçamento familiar.

Esta aberração acontece, apesar das notícias repetidamente anunciadas pelo governo, que dão conta de uma alegada aceleração de pagamentos de há um ano para cá.

Mas acima de tudo, isto trata-se de uma enorme imoralidade. Numa altura em que está na moda acusar a iniciativa privada de todos os males do mundo, convém que não nos esqueçamos do estado caloteiro que temos, que recusa sistematicamente cumprir as regras que ele próprio impõe às empresas e particulares.