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João Távora

Uma Princesa radical

Ontem, por ocasião duma pequena entrevista para o próximo número do Correio Real, o Boletim da Real Associação de Lisboa, fui à outra banda onde tive o privilégio de privar com uma verdadeira Princesa, tão ou mais encantada que as dos romances e do cinema: falo de D. Maria Adelaide de Bragança, infanta de Portugal, que por insólita conjugação de duas paternidades muito tardias e da sua provecta idade, é hoje uma neta viva do rei D. Miguel, esse mesmo do absolutismo e do tradicionalismo, da guerra civil de 1828 – 1834. 

D. Maria Adelaide nasceu em 1912 no exílio, em St. Jean de Luz, cresceu e viveu na Áustria aventuras e desventuras de pasmar: habitando no olho do furacão, após a I Grande Guerra  coabitou com os ocupantes comunistas da quinta em que vivia, dos quais recorda dos seus esbeltos cavalos e boinas vermelhas. Mais tarde, durante a ocupação nazi, foi presa pela Gestapo por várias semanas em Viena onde como enfermeira se juntara à resistência e acudia os feridos entre bombardeamentos. Foi nestas correrias e aflições que veio conhecer um estudante de medicina de seu nome Nicolaas van Uden com quem casou. 

Regressada a Portugal em 1948 após a revogação da lei do banimento, a Infanta veio residir perto da Trafaria, onde criou a Fundação D. Nuno Álvares Pereira, instituição de apoio a mães pobres em fim de gravidez e crianças abandonadas, dedicando fervorosamente a sua vida aos mais desfavorecidos.

Longe das fugazes ribaltas e feiras de vaidades, a Senhora D. Maria Adelaide, afilhada de baptismo de D. Amélia e D. Manuel II, hoje com noventa e sete anos, além de constituir um precioso testemunho vivo, directo e indirecto, da História dos últimos duzentos anos, é um verdadeiro exemplo de profunda Nobreza aliada a uma invulgar bravura e irreverência.

Uma Princesa radical

Ontem, por ocasião duma pequena entrevista para o próximo número do Correio Real, o Boletim da Real Associação de Lisboa, fui à outra banda onde tive o privilégio de privar com uma verdadeira princesa, mais real do que as dos romances e do cinema: falo de D. Maria Adelaide de Bragança, infanta de Portugal, que por insólita conjugação de duas paternidades muito tardias e da sua provecta idade, é hoje uma neta viva do rei D. Miguel, esse mesmo do absolutismo e do tradicionalismo, da guerra civil de 1828 – 1834. 

D. Maria Adelaide nasceu em 1912 no exílio, em St. Jean de Luz, cresceu e viveu na Áustria aventuras e desventuras de pasmar: habitando no olho do furacão, durante a I Grande Guerra  coabitou com os ocupantes comunistas da quinta em que vivia, dos quais recorda dos seus esbeltos cavalos e boinas vermelhas. Mais tarde, durante a ocupação nazi, foi presa pela Gestapo por várias semanas em Viena onde como enfermeira se juntara à resistência e acudia os feridos entre bombardeamentos. Foi nestas correrias e aflições que veio conhecer um estudante de Medicina de seu nome Nicolaas van Uden com quem veio a casar-se. 

Regressada a Portugal em 1948 após a revogação da lei do banimento, a Infanta veio residir perto da Trafaria, onde criou a Fundação D. Nuno Álvares Pereira, instituição de apoio a mães pobres em fim de gravidez e crianças abandonadas, dedicando fervorosamente a sua vida aos mais desfavorecidos.

Longe das fugazes ribaltas e feiras de vaidades, a Senhora D. Maria Adelaide, hoje com noventa e sete anos, além de constituir um precioso testemunho vivo, directo e indirecto, da História dos últimos duzentos anos, é um verdadeiro exemplo de profunda Nobreza aliada a uma invulgar bravura e irreverência. 

Travagem brusca

 

Consta que se perspectiva o adiamento da construção da ligação TGV entre o Porto e Vigo, não por causa das finanças públicas ou dum avisado acordo secreto entre as bancadas do PS e do PSD, mas por causa do Ministério Fomento espanhol que se justifica com questões do foro ambiental. Ora cá pra mim que não sou de intrigas,  isto trata-se afinal duma inadmissível intromissão do reino vizinho na estratégia de animação económica e do desenvolvimento da república de Sócrates. Daqui deste jardim à beira-mar plantado, além do adiamento da linha Lisboa Elvas, aguardam-se também as tomadas de posição dos lobbies envolvidos, assim como uma relação do número de desempregados previstos pela Mota-Engil e Teixeira Duarte em consequência do atraso.  

 

Vão mas é roubar prá estrada

Uns dias depois dos votos contados começaram a cair as qimondas e outras empresas sob “suporte de vida” artificial. Passadas uma semanas da campanha eleitoral, o aumento dos impostos entra na agenda pela boca dum dos druidas regimentais, o Dr. Constâncio. Em tempos pré eleitorais, o estado das finanças publicas e o desemprego eram questões miserabilistas ou caprichos duma "Velha do Restelo". Acontece que a realidade é cruelmente linear, e as suas consequências impossíveis de evitar: é tudo uma questão de tempo, virem-nos ao bolso cobrar o descontrolo da despesa pública.

Os conservadores II

Um brincalhão como sempre, o João Tunes, que descontextualiza a minha frase e atribui-lhe um sentido duvidoso. De resto, um verdadeiro conservador, ama a Liberdade antes de tudo (dou a entender isso no primeiro paragrafo), e até preza a mudança se ela emerge livre e verdadeira, se não for “ortopédica”. 

Uma provocação final: numa família (como num país), existe sempre o elemento “conservador” e o elemento “revolucionário”, dois caracteres que normalmente se complementam e digladiam saudavelmente. Dramático é se na disputa uma das partes for batida; e é sabido como a coisa piora substancialmente se a vítima for o conservador que é normalmente quem paga as contas, zela pela descendência e pelas tias tontas. 

Em Portugal os “revolucionários” e alguns líricos há muito tomaram conta do “pagode”, disfarçados de burocratas ou pregadores, e eu tendo trancar a porta “da minha casa” à chave. Capiche? 

Os conservadores

 

 

 

Tempos houve, duros admitamos, em que uma sociedade tacanha e assustada com os ventos de leste, se contrapunha vigorosamente às veleidades dalguns aventureiros, atrevidos pacifistas, livres pensadores e poetas. Os "amanhãs que cantam" nunca chegaram, mas essa geração perdida alcançou o poder, com os seus heróis caídos, não pela revolução, mas por conta de overdoses e outros excessos. Desfeitos os equilíbrios, emerge esta era pós-social e hedonista em que chafurda a avançada Europa. E hoje um conservador não passa dum exótico ser, rara criatura, curiosidade de revista, que a adolescentocracia dominante é obrigada a tolerar.  

 

Do fundo do tempo

Da varanda larga a claridade do sol ofuscava o quarto, enquanto a tarde avançava longa como as infindáveis férias de verão na cidade de cimento. Pelos raios de luz, volteavam microscópicos grânulos de pó, e num insólito protagonismo meia dúzia de moscas rebrilhavam numa desatinada dança de acasalamento. A criança pequena, entediada dos seus brinquedos, embalava-se em espirais de tonturas, enquanto descortinava uma estranha revelação: as voltas dos anos, o eterno retorno, do novo e do velho, do começo e do fim. Um eufórico contentamento invadiu o seu pequeno coração: tomando noção de si, percepcionara o dom da vida que adivinha a morte, um percurso tão eterno como cada dia, cada estação, cada ano; uma história sem fim que afinal estava a começar. O menino girava dançando com as moscas, por entre o pó e os raios de luz.

Discos da Minha Vida - algumas notas

 

 

À medida que me vou lembrando de temas e discos para esta série que iniciei há algum tempo no Corta-fitas, mais admiração me causa a espantosa a quantidade de música a que nos podemos afeiçoar ao longo de numa vida: desde sempre que a oiço com intensidade como se dum alimento se tratasse, particularmente na adolescência em que dedicava a essa actividade a maior parte da minha preguiça. Desde os discos do meu pai, aos da casa da minha avó, à telefonia que me acompanhou a vida toda, passando pela música revelada por tantos “compagnons de route” em tão distintas fases e circunstâncias, sinto como se uma autêntica banda sonora tenha protagonizado toda a minha existência.

No início fui tentado ao desafio, porventura demasiado exaustivo, de enumerar as “músicas da minha vida”, em vez dos “discos” a que tivesse devotado um estatuto de culto. Ao enveredar pela segunda escolha, ficaram de fora muitos e marcantes temas que, ou porque nunca adquiri o disco, ou porque “por si” não chegaram para eu distinguir o respectivo LP. Só isso é que justifica a ausência, por exemplo, de muitos autores portugueses, nomeadamente de intervenção. Foi claramente a música popular anglo-saxónica o estilo que mais me marcou: não sei como teria sido a minha vida sem a efémera e redentora música pop. 

Mas foi a música "erudita" aquela que, pelas mãos do meu pai, primeiro entrou nesta história: a tarefa de eleger  muitos desses “discos da minha vida” que lhe pertenciam, tem se revelado quase impossível, dado eu não possuir referências suficientes para os encontrar na Internet, e parecer-me desonesto classificar dessa forma as versões que adquiri na idade adulta. 

Naturalmente nem sempre o contacto que tive com a obra coincidiu com a sua data de edição: muitos dos discos aqui apresentados conheci-os bastante tempo depois. Isso aconteceu por exemplo os álbuns dos Beatles e com parte da discografia dos Pink-floyd e dos Genesis gabrielianos. De resto, seria uma simplista conclusão deduzir  qualquer “evolução” dos meus critérios com o avançar da idade: isso só em parte é verdade (hoje alguns desses álbuns representam só são simpáticas recordações), eu nunca fui muito em modas, sofri diferentes influências e consumi grande variedade de estilos: desfruto com igual gosto um tema orquestral de Mantovani, uma fuga de Bach ou uns delírios eléctricos de Robert Fripp, dependendo do estado de espírito. 

Hoje, é certo, acompanho com dificuldade a música nova; mas em contrapartida, nos cada vez mais raros momentos de retiro, navego e redescubro a música antiga com enorme deleite. De qualquer maneira os “discos da minha vida” são muitos, estarão aqui no Corta-fitas para durar. 

 

A banalização do escândalo

 

 

A minha apreensão não se prende tanto com a degradação do regime que enseba e recomenda-se, guloso no coito duma Europa protectora, mas com o fenómeno de banalização do escândalo, solidamente instaurado neste país a que já nos envergonhamos de chamar pelo nome. 

Se na política a relativização dos valores representa um passo decisivo para o abismo das nações, pior significado se me afigura a falência da capacidade de indignação de todo um Povo. Sucede que a gritaria que prevalece perdeu efectividade, o escândalo deixou de o ser, afundado num inútil bruaá onde a Verdade há muito entregou a alma ao Criador.

Vivemos dois mundos distintos e desligados: o dos comentadores (profissionais ou de café) e o país real, corrupto e inviável que navega autista na senda dum esquema o redima por mais um dia.  A situação fede a peste, mas aguenta-se no balanço. 

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