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João Távora

Valha-me a beleza interior...

 

Desde que conheci a minha mulher que por inerência sigo a carreira de Hugh Grant. A principio seria um tipo de "concorrência" que em nada me deveria afectar, e além disso, as suas comédias são divertidas e definitivamente gosto da pronúncia inglesa no cinema. Mas confesso que ultimamente o rapaz já me irrita um pouco: só eu é que envelheci nos últimos implacáveis anos. Mais velho que eu um ano, o rapaz continua um jovial sportsman e aquela guedelha rebelde enche-me de inveja. Uma tremenda e insanável injustiça. 

 

Cheios de prosperidade

Enquanto os telejornais, com reportagens e entrevistas, dão a extraordinária notícia de que, apesar das expectativas, o mau tempo não trouxe cheias, vitimas, ou prejuízos de monta, ficamos a saber que as negociações entre o ministério e os sindicatos de professores falharam uma vez mais.

O filme repete-se, o indomável monstro conhece a sua força e o jogo está viciado: os docentes do Estado, por obscuro mérito uma classe inimputável, manterá para sempre as regalias dum posto vitalício e sem sufrágio.  Nesta amálgama, pelos maus pagam os bons e os bem intencionados. O país, esse, continuará a fingir que se aprende nas escolas públicas e que o ensino é acessível a todos os cidadãos.

Todos os nomes dos Leões 2

 

Tem razão o Duarte: são realmente inconcebíveis muitos dos nomes ou alcunhas de futebolistas nados ou de passagem por Portugal em busca duma centelha que os catapulte para a fama. Suspeito que alguns, de tão estrambólicos que são, carregam em si o estigma do falhanço: só um louco acreditaria que um jogador chamado Caicedo teria sucesso em paragens lusas (e este Sinama-Pongole não me soa nada bem). De resto Olegário Benquerença que para bem da industria se ficou pela arbitragem, só pode ser um herói: tudo o que alcançou, fê-lo apesar do seu nome. Imagine-se a risota quando na aula a professora nomeava o Olegáriozinho para resolver um problema no quadro. Ou será que o chamava “menino Benquerença”? 

Vem isto a propósito das especulações à volta da contratação pelo Sporting do centro-campista Manuel Fernandes ao Valência. Apesar de pouco provável (quando a esmola é muita o pobre desconfia) a coisa soa-me muito bem: Manuel Fernandes é nome de sportinguista, coração de Leão, nome de “sete-a-um”. De resto sempre me pareceu um inestético equívoco a sua passagem pelos vizinhos do bairro de Benfica. 

Cartões de Natal

Desde que trabalho em comunicação empresarial que todos os anos na véspera da quadra natalícia  se me põe o mesmo dilema: que fazer com o costume das “Boas-festas” aos clientes e parceiros?  Será esta uma eficaz acção de relações públicas ou antes uma irritante espiral de desperdício da qual as empresas e instituições não se conseguem libertar, aprisionadas que estão umas às outras em cumprimentos meramente protocolares?

Para lá duma meritória política de Solidariedade Social que extravasa este tema, parece-me que o que sobra do espírito de Natal, uma festa de natureza intimista e familiar, para o mundo empresarial é realmente pouco. Mas até hoje nunca tive convicção suficiente para propor a extinção deste ritual: é difícil ter uma boa desculpa para não retorquir educadamente a um Cartão de Natal. E se assim é, acabo todos anos condescendendo à tradicional dança de cartões, se possível com um desenho original, de preferência em apoio de alguma instituição carenciada, e sem esquecer a imprescindível "versão electrónica interactiva".

Vêm estas palavras a propósito duma inocente provocação aqui há dias do Paulo Pinto de Mascarenhas em que afirmava que não há Cartões de Boas-festas grátis. Tirando uma leitura das relações sociais "à moda da National Geographic", e apesar de os "verdadeiramente desinteressados” estarem em vias de extinção, ainda os há: são os Cartões daquele parente diplomata, e de um ou outro amigo mais antiquado ou extravagante que teima calorosamente em fazer-se presente na árvore de Natal cá de casa. Uma coisa impossível de fazer com as milhentas bonecadas que entopem a minha caixa de correio electrónico ou a página do facebook nesta quadra. Sinais dos tempos.

 

Um feitiço com setenta anos

 

 

Como contraponto às Anas Montanas, Hello Kities e outros lixos televisivos ou musicais, enquanto elas deixam eu tento impingir alguma higiene cultural às minhas criancinhas. Desta vez confesso que me surpreendi com o sucesso obtido pelo DVD do Feiticeiro de Oz que comprei há umas semanas lá para casa: o filme passa vezes sem conta e até o mais pequeno pede para o ver: aprecia as músicas, impressiona-se com “o vento” e gosta do Leão. Por fim, acabei por levá-los a ver a versão do La Féria que não os terá impressionado muito, um pouco pobre quanto a mim. 

Setenta anos depois a super produção de Victor Fleming, com Judy Garland (Dorothy), Frank Morgan (o Feiticeiro), Ray Bolger (o Espantalho) Bert Lahr (o leão), Jack Haley (o Homem de Lata) e todos aqueles fantásticos cenários e efeitos especiais, os anõezinhos cantores e macacos voadores, continuam imbatíveis. De resto julgo ser consensual que  Margaret Hamilton (Miss Gulch) deu corpo à mais iconográfica das bruxas más que há memória. 

 

 

O melhor presente

Gerrit Van Honthorst – Adoração dos Pastores (1622)

 

Há por aí um discurso simplista em que se confunde consumismo e opulência com a benigna tradição do "presente de Natal". Nesta quadra é importante evidenciar a nobreza que possui a materialização do nosso amor num objecto, um “presente” que, independentemente do seu valor material, nos tornará presentes no coração do próximo. Oferecer um presente a alguém - a quem desejamos homenagear ou queremos (re) aproximar - é com toda a certeza uma atitude de grande dignidade. Claro que é essencial não se confundir essa dádiva com marketing pessoal ou com qualquer forma de alienação da realidade. Presentear é aliás uma arte muito própria que requer imaginação, e, o que é mais importante, uma grande capacidade de nos colocarmos "na pele" do outro, o mesmo é dizer de “amá-lo”.

Os presentes do Natal cristão devem significar verdadeiros actos de amor: cada qual, um autêntico tributo ao Nosso Senhor e Salvador, que nesse dia de grande Festa se nos é de novo oferecido como um frágil e radiante Menino, que para nossa redenção. 

 

A todos os meus amigos no Facebook desejo um Feliz Natal

 

Ai Jesus que é quase Natal!

 

Do porta bagagens do meu carro aos inimagináveis espaços de arrumação que vou descobrindo na minha casa, multiplicam-se por estes dias caixas e caixinhas, sacos e pacotes. Muitos dos presentes estão por embrulhar... e hoje em dia poucas são os estabelecimentos, mesmo os caros, que embrulham condignamente a mercadoria que vendem; e quando o fazem, disponibilizam papel e Invólucros muito pouco natalícios, com referências demasiado gritantes à loja ou à marca. Isso leva a que, logo á noite, como se vai sendo tradição, terei de madrugar umas horas a embrulhar e a destinar. Lá em casa, há uns dias para cá que reina enorme excitação, mas o problema maior é o mais pequenito que, de olhos arregalados, anda num tremendo êxtase: temo bem que nem um potente calmante o iria sossegar antes da meia-noite para os pais poderem “trabalhar”.

O pantomineiro de Sua Majestade

 

Peter Gabriel, nasceu em 1950 em Surrey Inglaterra, e tornou-se famoso como vocalista dos Genesis, a mítica banda de rock sinfónico – “barroco” dos anos setenta. Tal sucedeu não só por ostentar uma singular e expressiva voz, mas por causa das suas performances em palco onde representava as estranhas personagens dos inusitados versos de cada peça musical. Inspirado percursor do “espectáculo total”, no qual todo um concerto é apresentado com um minucioso guião musical e visual com utilização de trajes, cenários, projecção de imagens, pirotecnia e outros aparatosos artifícios, Peter Gabriel transpôs e aprimorou de forma magnifica esse conceito para a sua carreira a solo.
Empenhado divulgador da música etnológica dos quatro cantos do mundo, Peter Gabriel assumiu diversas causas políticas, tendo-se destacado nas campanhas pela libertação de Nelson Mandela e o fim do Apartheid. Ligado a esta causa está um dos seus mais emblemáticos temas musicais, um impressionante hino dedicado ao activista sul-africano Steven Biko, falecido em estranhas circunstâncias em 1977.
De destacar é também a profusa participação do músico no cinema com inúmeros temas, e com as magnificas bandas sonoras de Birdy de Alan Parker ou The Last Temptation of Christ de Martin Scorsese.
Alguns fãs dos Génesis de Gabriel, Hackett e Rutherford, Banks e Collins - para mim a mais fantástica reunião de talentos pop que eu alguma vez conheci - acusam o vocalista dum temperamento narcísico como causa da seu abandono em 1975. Esse ponto de vista é quanto a mim pouco sustentável, pois através de inúmeras produções audiovisuais disponíveis para o público, uma observação atenta da actuação de Gabriel, tanto a solo como com a sua antiga banda, verifica-se uma postura do músico em nada “narcisista”, antes pelo contrário, exibindo em cada seu gesto um extraordinário profissionalismo e a superação duma timidez latente, tudo planeado ao pormenor com vista uma determinado quadro visual e musical. Os seja, o músico tinha uma ideia concreta de modelo para aquele projecto e trabalhava em função dela. Finalmente confesso que concordo parcialmente com a crítica de Rui Albuquerque (que inspirou estas linhas) quando num comentário a um meu post anterior qualifica Peter Gabriel como um compositor "chato": por mim, acho que é um chato porque abandonou o projecto Genesis quando ainda tanto prometia, e chato porque leva uma média cinco anos a produzir um novo álbum de originais. Só por isso.

De resto, em mais de trinta anos de carreira a solo o músico compôs um número significativo de peças musicais objectivamente geniais, que só por má-fé ou desconhecimento podem ser desconsideradas: Solsbury Hill, Excuse Me, Humdrum, Here Comes the Flood, Mother of Violence, On the Air, White Shadow, Índigo, Home Sweet Home, Family Snapshot, Biko, San Jacinto, Family and the Fishing Net, Wallflower, Mercy Street, Washing of the Water, Secret World, Blood of Eden, Signal to Noise, Sky Blue só para dar um número restrito de exemplos. Claro que ficam para trás alguns temas essenciais, que admito que pelo seu cariz mais experimental sejam “chatas” para algumas pessoas, por exemplo o extraordinário Exposure, tema em parceria com Robert Fripp, ou outras chatices imprescindíveis como Intruder, Lead a Normal Life, Darkness ou The Drop.
A voz de Peter Gabriel embala a minha existência desde a tenra adolescência. Com os anos, em lugar da mistificação algo infantil que eu dedicava a este meu anti-herói de causas impossíveis, deu lugar a uma adesão mais racional. No entanto a sua extraordinária voz  foi adquirindo para mim um encantador efeito fetiche, que me releva para as melhores sensações da vida.
Para terminar, uma boa notícia para os fãs deste singular trovador e pantomimeiro, súbdito de S. Majestade Isabel II: em Fevereiro do próximo ano será publicado um seu novo álbum com o sugestivo titulo Scratch My Back: uma nova experiência, desta vez na interpretação de temas alheios como Heroes de David Bowie,  The Boy in the Bubble de Paul Simon, Listening Wind dos Talking Heads, The Power of the Heart de Lou Reed,  I Think It's Going to Rain Today de Randy Newman, Philadelphia de Neil Young Street Spirit dos Radiohead, entre outras. A coisa promete!
 

 

Lisboa, Capital do Império

Pacheco Pereira já cá mora aos dias de semana em S. Bento, o Red Bull Air Race também vem a caminho, o campeonato da bola é bem capaz de vir para Benfica...

Carago, não desesperem: a gente dispensa-vos o Zé que faz falta.

Por uma questão de ética

Apesar de tudo, o meu interesse p’la bola ainda subsiste esta época por conta da ameaça da plutocracia no futebol: lagartada, não podemos descansar enquanto o Benfica cheirar o título, contra tudo o que ensinamos ás criancinhas sobre a importância “do ter” e “do ser”! Logo à noite é garantido que sou do Fóculporto desde pequenino, de bandeira azul e branca em punho (por acaso usam-se, na minha casa). De resto, o que eu mais quero é que o Braga de Paciência ganhe este campeonato: a coisa daria assim uma bela parábola...

Finalmente um apelo aos senhores jornalistas desportivos: voltem a tratar o treinador dos lampiões pelo nome com que sempre o trataram até ele ir pró Seixal - Jorge Jesus. É capaz de ser esse o propósito, mas a conotação messiânica que este ano pretendem atribuir ao homem soa a blasfémia. 

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