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Peter Gabriel, nasceu em 1950 em Surrey Inglaterra, e tornou-se famoso como vocalista dos Genesis, a mítica banda de rock sinfónico – “barroco” dos anos setenta. Tal sucedeu não só por ostentar uma singular e expressiva voz, mas por causa das suas performances em palco onde representava as estranhas personagens dos inusitados versos de cada peça musical. Inspirado percursor do “espectáculo total”, no qual todo um concerto é apresentado com um minucioso guião musical e visual com utilização de trajes, cenários, projecção de imagens, pirotecnia e outros aparatosos artifícios, Peter Gabriel transpôs e aprimorou de forma magnifica esse conceito para a sua carreira a solo.
Empenhado divulgador da música etnológica dos quatro cantos do mundo, Peter Gabriel assumiu diversas causas políticas, tendo-se destacado nas campanhas pela libertação de Nelson Mandela e o fim do Apartheid. Ligado a esta causa está um dos seus mais emblemáticos temas musicais, um impressionante hino dedicado ao activista sul-africano Steven Biko, falecido em estranhas circunstâncias em 1977.
De destacar é também a profusa participação do músico no cinema com inúmeros temas, e com as magnificas bandas sonoras de Birdy de Alan Parker ou The Last Temptation of Christ de Martin Scorsese.
Alguns fãs dos Génesis de Gabriel, Hackett e Rutherford, Banks e Collins - para mim a mais fantástica reunião de talentos pop que eu alguma vez conheci - acusam o vocalista dum temperamento narcísico como causa da seu abandono em 1975. Esse ponto de vista é quanto a mim pouco sustentável, pois através de inúmeras produções audiovisuais disponíveis para o público, uma observação atenta da actuação de Gabriel, tanto a solo como com a sua antiga banda, verifica-se uma postura do músico em nada “narcisista”, antes pelo contrário, exibindo em cada seu gesto um extraordinário profissionalismo e a superação duma timidez latente, tudo planeado ao pormenor com vista uma determinado quadro visual e musical. Os seja, o músico tinha uma ideia concreta de modelo para aquele projecto e trabalhava em função dela. Finalmente confesso que concordo parcialmente com a crítica de
Rui Albuquerque (que inspirou estas linhas) quando num comentário a um
meu post anterior qualifica Peter Gabriel como um compositor "chato": por mim, acho que é um chato porque abandonou o projecto Genesis quando ainda tanto prometia, e chato porque leva uma média cinco anos a produzir um novo álbum de originais. Só por isso.
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De resto, em mais de trinta anos de carreira a solo o músico compôs um número significativo de peças musicais objectivamente geniais, que só por má-fé ou desconhecimento podem ser desconsideradas: Solsbury Hill, Excuse Me, Humdrum, Here Comes the Flood, Mother of Violence, On the Air, White Shadow, Índigo, Home Sweet Home, Family Snapshot, Biko, San Jacinto, Family and the Fishing Net, Wallflower, Mercy Street, Washing of the Water, Secret World, Blood of Eden, Signal to Noise, Sky Blue só para dar um número restrito de exemplos. Claro que ficam para trás alguns temas essenciais, que admito que pelo seu cariz mais experimental sejam “chatas” para algumas pessoas, por exemplo o extraordinário Exposure, tema em parceria com Robert Fripp, ou outras chatices imprescindíveis como Intruder, Lead a Normal Life, Darkness ou The Drop.
A voz de Peter Gabriel embala a minha existência desde a tenra adolescência. Com os anos, em lugar da mistificação algo infantil que eu dedicava a este meu anti-herói de causas impossíveis, deu lugar a uma adesão mais racional. No entanto a sua extraordinária voz foi adquirindo para mim um encantador efeito fetiche, que me releva para as melhores sensações da vida.
Para terminar, uma boa notícia para os fãs deste singular trovador e pantomimeiro, súbdito de S. Majestade Isabel II: em Fevereiro do próximo ano será publicado um seu novo álbum com o sugestivo titulo Scratch My Back: uma nova experiência, desta vez na interpretação de temas alheios como Heroes de David Bowie, The Boy in the Bubble de Paul Simon, Listening Wind dos Talking Heads, The Power of the Heart de Lou Reed, I Think It's Going to Rain Today de Randy Newman, Philadelphia de Neil Young Street Spirit dos Radiohead, entre outras. A coisa promete!
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