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João Távora

A gritar ninguém vos ouve


Parece-me de facto lamentável a banalização duma linguagem rasca e assassina por parte dalguns blogers que liquida à partida qualquer discussão ou esclarecimento, como se a História fosse acabar amanhã sob o estrondo dum sound bite. Estranho é  que esses excessos fratricidas, mesmo sob capa duma qualquer pedagogia, provenham de  personalidades com pretensões sociais e ambições políticas. O seu estilo narcísico incontinente é a explicação lógica para o estatuto secundário desses sombrios jogadores da pulhitiquice nacional.

Domingo será de Páscoa, "apesar de tudo"

 

Se os depravados crimes de uns quantos padres e a inabilidade dalguma hierarquia a lidar com o fenómeno envergonha e aflige qualquer católico que se preze, também não deverão estes consentir que os ataques dos fanáticos do costume belisquem a sua determinação na vivência duma Semana Santa de recolhimento conversão em comunhão com toda a Igreja de Pedro.

Sobre a instrumentalização destes factos, toda uma exacerbada barulheira que para aí vai em crescendo, um padre suspeito de cometer um crime é apenas um suspeito de ter cometido um crime que é padre. Como qualquer pessoa, é inocente até prova em contrário. Assim, reclama-se ponderação e sentido de responsabilidade a todos os intervenientes - não venham a morrer do seu próprio veneno. De resto, com dois mil anos de perseguições, equívocos, mártires e heróis, santos e pecadores, os cristãos sabem melhor do que ninguém que a Páscoa representa antes de mais o prodígio da ressurreição.

Passos Coelho: o reforço do centrão


Tendo em conta a grave conjuntura que atravessa o país e o aparente esgotamento da solução socialista, a eleição de Pedro Passos Coelho como novo líder do PSD não pode ser indiferente a ninguém: são fortes as probabilidades dele vir a substituir José Sócrates ao bastante emperrado leme deste País. Não sendo plausível nos dias d'hoje que a simples força dum homem consiga per si endireitar a nossa Nau, o facto é que também ainda não se tornou clara da parte do novo líder a definição dum rumo minimamente distinto daquele que tem vindo a ser vogado nas últimas décadas. Na minha opinião, a matriz de continuidade exibida por Passos Coelho surge como um decisivo apelo à mobilização e reorganização dum espaço claro de ruptura à direita: uma bipolarização que no mínimo abre um decisivo espaço à direita, sinal que eu espero o CDS  saiba interpretar. Há um país cansado da propaganda e da pouca vergonha das clientelas que constituem a havida plutocracia reinante. Uma vez mais, a simples mudança de estilo não significa o tão propalado virar de página, o “fim do regime”.

Dores de crescimento


Acontece com os indivíduos e com as nações: o processo de crescimento tem a ver com a adequação do desejo e vontade às contingências da realidade. Uma tão gratificante quanto dolorosa aprendizagem de convivência com o sucesso e frustração. Sob reservas mentais e ilusões de conveniência, sem concessões aos factos, por mais duros que sejam, o risco é de perpetuar um estágio de ambiguidade adolescente, um equilíbrio precário, uma morte lenta. Evitada a realidade, sem tocar o chão com medo do desespero, a bolha não rebenta comprometendo a maturidade e a autonomia. Em troca fica uma existência alienada e estéril.

O Dia do Pai


Foi com um quentinho no peito que hoje estreei no escritório os desajeitados presentes que recebi dos miúdos no Dia do Pai. A coincidência desta data se celebrar no dia de S. José, pai "adoptivo" de Jesus, quanto a mim está carregada dum profundo simbolismo que jamais deveria ser menosprezado. Sob o bombardeio da nossa cultura hedonista e consequente delapidação da família e do tecido social, este dia deveria constituir uma privilegiada ocasião para se reclamar de todos os pais o seu insubstituível papel e responsabilidade na defesa dum núcleo familiar tão saudável quanto irredutível. Numa época em que se festejam com estridência os mais inusitados dias de Tudo O Que Mexe e Mais um Par de Botas, o “do Pai” deveria ser um daqueles para mais a sério ser levado. Quem sabe deveria merecer a dignidade dum feriado, que para não pesar na economia poderia substituir o disparate do 5 de Outubro. Tudo isto porque, para lá das efémeras delícias inerentes ao acasalamento e à paternidade, dos encantadores afectos trocados com os amorosos infantes quando eles são nossos incondicionais, a tarefa vem afinal a constituir a mais desafiante, dura e arriscada missão que um homem pode ambicionar: a criação de seres responsáveis, justos e felizes. Uma empreitada que confere pouco “prestigio” ou carreira, mas que é decididamente prioritária e indeclinável.

Uma nova reconquista

 

Quando no Sábado passado no Plano Inclinado Silva Lopes elogiava o Programa de Estabilidade e Crescimento, justificando o método "gradualista" na implementação das medidas de austeridade, em confronto com Medina Carreira que desmontava o embuste, o antigo governador do Banco de Portugal acabou admitindo a inevitabilidade de, a prazo, a União Europeia vir impor uma radicalização das medidas, porque “somos incapazes de nos governar”, justificou.

Este é o maior drama dos portugueses: deslumbrados com a cultura do consumo e hedonismo, agrupados em corporações de interesses, sem liderança, sonho ou utopia, não vislumbramos para além dos dedos dos pés. Órfãos de liderança e com as instituições descredibilizadas, a governança sem veia ou estratégia, mera gestão de mercearia para as predadoras clientelas, este País é hoje incapaz de se governar. 

Suponho que isto não acabará assim, que ainda nos falta o clímax desta história, deste drama. Afinal acredito que sempre se poderá romper com este fado e inverter este plano inclinado. Afinal o sucesso dum povo, depende da comunhão num ideal, superação e generosidade no lugar do conformismo e mendicância. Quem é que pega nisto?

 

Excesso de socialismo

 

Interessante este estudo apresentado hoje no jornal I sobre o fosso salarial entre funcionários públicos - cerca de setecentos e cinquenta mil portugueses, sem contar com um exército de  em regime de outsourcing (recibo verde), funcionários de municípios e empresas públicas - que duplicou nos últimos vinte e cinco anos. Ou seja, enquanto entre 1978 e 1975 os funcionários do Estado mais bem pagos recebiam 3,5 vezes o que ganhavam os mais mal pagos, hoje essa diferença é de 7,45 vezes. 

No mesmo artigo verifica-se que esta discrepância atingiu o seu máximo em 1996, 8,38 vezes, tendo as diferenças convergido até ao ano passado quando José Sócrates em campanha eleitoral decidiu aumentar indiscriminadamente a função pública em 2,9 %. 

A Pedofilia e a Igreja Católica

 

 

Têm me causando uma profunda apreensão e amargura as notícia que vêm ultimamente a lume sobre o envolvimento de membros da Igreja em casos de pedofilia. Por mais doloroso que seja, torna-se urgente uma abordagem radical e desapaixonada ao problema por parte da hierarquia, com a assumpção de medidas peremptórias e sem contemplações, de denúncia e erradicação deste fenómeno de qualquer estrutura da Igreja. De pouco me interessa que a pedofilia e o abuso de menores tenha sido uma prática transversal menosprezada e escondida nas mais distintas instituições laicas, principalmente aquelas que contemplassem regime do internato de crianças. Cada caso que permaneça mal resolvido e explicado, cada novo escândalo publicado, constitui mais uma machadada no processo de descristianização que vem ocorrendo no ocidente liberal e materialista. Se assim não for, a Igreja Católica, que trava uma decisiva luta pela sua sobrevivência nesta cultura leviana e hedonista, só poderá queixar-se de si própria: a propaganda anticlerical, de forma mais ou menos conspirativa, exulta e empolará toda e cada uma das notícias que surgirem. 

De resto, mais talhado a pensar o bem do que o mal, quero acreditar que a sucessão de trágicos erros que redundaram nestes escândalos e no seu encobrimento, pode bem ter origem no que de mais nobre tem o cunho personalista cristão que, apesar de tudo, esmalta a Igreja: a crença numa regeneração do homem pelo arrependimento. Assim, tragicamente se menosprezou a índole profundamente patológica do fenómeno da pedofilia, que em conjunto com a ancestral “vergonha” da Igreja em lidar com as questões da sexualidade, redundou nos factos com que hoje nos confrontamos.

Por mim, espero e exijo muito mais da Igreja de que me assumo parte: se cada escândalo comporta  uma atroz e dolorosa vergonha, um arrepiante pecado, o facto é que isso não demove a minha fé e a crença de que o que de melhor o Homem possui continua a plasmar-se dentro da Igreja errante e visceralmente humana. Sem desprimor para muitos ateus e agnósticos excepcionais, mesmo pela bitola da mais genuína santidade cristã, em termos abstractos, a minha expectativa sobre a conduta moral e ética de qualquer cristão praticante é inexoravelmente superior: isto porque o caminho da fé cristã, sendo difícil e carregado de escolhos, é inseparável duma autocrítica, duma exigência e dum contínuo aperfeiçoamento, utopia fundamental para uma  a comunhão plena em Cristo. 

Sim Senhor Ministro

 

Sobre a surpreendente recuperação do Sporting nesta temporada aziaga, de tudo o que se tem dito e escrito, nomeadamente a respeito da decisiva influência do maestro Pedro Mendes no coração do meio-campo leonino e da reforma táctica trabalhada nos últimos tempos por Carlos Carvalhal, eu não hesito em destacar o papel decisivo de Costinha.

Coincidência ou não, a estreia deste internacional português como director desportivo do Sporting marca a inversão dos resultados do seu clube do coração. Desde então, por duas ou três ocasiões tive a oportunidade de o ouvir a responder às perguntas assassinas dos jornalistas e confesso que gostei do discurso exibido: Costinha fala com uma surpreendente inteligência, objectividade e segurança. Ele diz unicamente aquilo que quer dizer, com uma voz firme sem quaisquer laivos daquele fatal narcisismo que caracteriza os lideres de pacotilha que de tanto gostarem de se ouvir, derivam euforicamente para os equívocos em que por norma depois naufragam. Assim, suspeito que a direcção do Sporting colmatou com inaudito sucesso uma antiga falha na estrutura do futebol que fragilizava e expunha em demasia o mais exemplar e ambicioso treinador ou balneário. 

Bettencourt  usufrui este ano de excepcionais condições para arquitectar e implementar a estratégia para o futebol leonino à sua maneira: independentemente do resultado do desafio da próxima 5ª Feira em Alvalade frente ao Atlético de Madrid, espera-se que a próxima pré-época, estágio, jogos e contratações esteja desde já a ser escrupulosamente preparada. De resto, assim como nada é completamente mau, certamente é do alto que se dão as grandes quedas. 

 

Imagem daqui

Admirável mundo novo

 

Entre os canais temáticos de televisão, os sms por telemóveis com jogos, "fones" com mp3 nos ouvidos, amizades no facebook e demais traquitana, era só o que faltava um ecrã de dvd para as criancinhas se distraírem nas viagens. Assim se liquidam os últimos espaços vazios, bárbaros intervalos de "entretenimento", ou prazer virtual. Afinal, neste admirável mundo novo, em que o livro é uma bizarria, a rua é inóspita e o futebol se joga com os polegares, os jacarandás em flor, o emproado Aqueduto sobre o vale d’ Alcântara ou os ninhos das cegonhas numa torre junto ao Sado talvez se possam encontrar no youtube ou na wikipédia através do Magalhães.

 

 

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