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João Távora

Estou a ficar velho...

 

Miguel Esteves Cardoso afirmava numa sua crónica dos velhos tempos que (cito de memória) o nosso envelhecimento evidencia-se quando somos confrontados com certas figuras típicas da nossa sociedade como polícias ou padres mais novos do que nós. É essa a sensação que me causa por estes dias ao observar personalidades políticas emergentes como Nick Clegg e David Cameron que simplesmente me parecem... garotos.

A oportunidade de Alegre

 

Protestos Atenas

 

Não vejo como o Aníbal Cavaco Silva se consiga descartar dum inevitável assomo de Sentido de Estado (leia-se medidas impopulares) de José Sócrates mais agora que está restaurado um bloco de salvação nacional. Tendo em conta a vocação de protesto e anti-económica da Esquerda, a falência financeira do País vem cair como sopa no mel para Manuel Alegre que não deixará de aproveitar todo o sangue que vai correr. Fica só por saber que destroços então restarão da república de que ele afinal pretende a presidência.

Quem não se sente...

 

Tenho poucas razões para gostar de futebol e menos ainda para ser do Sporting: o verdadeiro amor a um clube, ao contrário do que nos querem impingir alguns betinhos pseudo-intelectuais, pouco deve à razão, tão pouco se fundamenta em atributos técnico-tácticos e menos ainda se inspira em preconceitos heráldicos ou cromáticos. A motivação dum adepto saudável é exclusivamente do foro emocional e prende-se mais a cegas paixões do que a nobres sentimentos: o que seria da competição e dos estádios de futebol sem uma distribuição mais ou menos equitativa pelos fãs de fortes doses de dor de cotovelo ou mais acima na cabeça? Uma tristeza.

Vem toda esta teoria ao caso por causa da ameaça que paira sobre os doridos cotovelos e cabeças de meio Portugal, a conquista do campeonato pelos lampiões que já não há quem os ature. O incauto leitor estará já provavelmente a julgar-me mal: até tenho uma boa capacidade de encaixe, quem vai à guerra dá e leva, e habituado estou eu a causas perdidas, tenho calos de lidar com doses razoáveis de frustração ou outros sentimentos mais rasteiros. O problema é que por baixo da casa onde eu moro está um bar de fervorosos lampiões que há meses vêm ameaçando as fundações do prédio com uma crescente e diabólica euforia e desumana gritaria. Com a ajuda do bom tempo começaram já a organizar grelhados na esplanada, tornando a atmosfera literalmente irrespirável: o palavrão ferve como num estádio e a berraria potenciada pela cerveja entra-nos casa adentro, ameaçando o ambiente de elevação que gostaríamos de manter numa saudável família de bem.
Podem imaginar os prezados leitores como foi a última experiencia do género: uma semana depois de levar com a maralha a festejar aos urros os golos do CSKA de Moscovo na final da taça Uefa, não consegui dormir com a farra que durou a noite inteira a festejar o título alcançado com Trapattoni. Perdi uma festa e ganhei uma ressaca.
Estamos hoje na iminência de mais um grave atentado ambiental. No Sábado passado, enquanto a maltosa exultava sordidamente no estádio da luz e pelas ruas de Lisboa e arredores, graças a um caridoso convite exilei-me em S. Carlos para enobrecer a minha alma perdida com Mozart e as Bodas de Figaro. Mas o caso pia mais neste fim-de-semana, principalmente no Porto onde o Benfica poderá sagrar-se campeão numa inédita e abominável humilhação aos Andrades. Para além dum blackout informativo fácil de empreender, eu ainda não arranjei um desterro condigno que me garanta sossego, não sei ainda como escapar… mas já não me faltam ganas para uma requintada vingança na próxima época.

Boas notícias: há que procurá-las

 

Com o advento das novas tecnologias, das redes sociais e da comunicação interactiva, com a fragmentação das fontes tradicionais de informação, a oligarquia instalada vai tendo cada vez mais dificuldade de fazer passar a sua mensagem e catequizar: os jovens não vêm telejornais, não ouvem a telefonia e muito menos lêem os jornais tradicionais. Fazem pesquisa de conteúdos na Internet e servem-se de downloads de rubricas televisivas ou radiofónicas, conteúdos lúdicos ou informativos a seu belo prazer e numa lógica que escapa às grandes distribuidoras, comerciais ou institucionais. Por exemplo, há vinte anos teria sido impossível a grande parte dos jovens escapar, no todo ou em parte, às comemorações do 25 de Abril e respectivos rituais mediáticos promovidos pelos meios de comunicação de massas. Hoje o mundo está a mudar e no meio desta alucinante desagregação cultural o “Grande Irmão” vai tendo cada vez mais dificuldade a amestrar o “seu povo”.

Isto trata-se de uma tremenda oportunidade de sobrevivência para as Causas situadas nas margens da corrente oficial e um definitivo reforço da responsabilidade e protagonismo da sociedade civil e seus núcleos sociais como a Família. Difícil é ainda contrariar as pretensões doutrinárias mal disfarçadas nos currículos escolares que afinal a generalidade dos miúdos pouco se interessa e apreende. Mas isso é outro assunto.

 

Imagem daqui

Reprise

 

Devoção e água benta...

 

Passa hoje o trigésimo sexto dia de S. Vinticincodabril. As cerimónias e celebrações, como habitualmente, realizaram-se nos salões e templos do regime, onde foram entoados diversos cânticos revolucionários do século passado. As habituais solenes homilias foram proclamadas de norte a sul do país: as santas realizações da revolução foram recordadas entre lágrimas e suspiros nostálgicos dos mais devotos “democratas”.

A prédica mais esperada foi proclamada em S. Bento pelo presidente da congregação, que com as suas extraordinárias revelações e sábias advertências não desmereceu as expectativas dos fiéis.

As costumeiras procissões e desfiles saíram à rua, mas nota-se-lhes hoje menos brilho do que outrora, nos tempos áureos da função. Os consagrados estão envelhecidos e também já foram mais, mas no cortejo da avenida as suas preces e ladainhas continuam a fazer-se ouvir alto e bom som. Os mais crédulos ainda  cismam pelo prometido milagre do socialismo, multiplicação dos peixes a redenção e esperança do povo unido.

A esta hora, muitos pregadores regimentais ainda propagandeiam as suas profissões de fé sobre a insofismável felicidade popular conquistada às trevas da opressão pela revolução dos cravos. Já nos uns dias antes, nas escolas e liceus, os prosélitos mestres da história instrumental aproveitaram o ensejo e papagueiam uma tabuada de lugares comuns de uma história maniqueísta e instrumental para as suas sedentas criancinhas.

De tudo isto os "media" uma vez mais darão reverente testemunho de todas as celebrações e solenidades. Para uma pobre e conformada plateia que afinal tirou o dia de sol para ir passear...

 

Texto de 2008, revisto e reeditado.

Resistir, resistir...

 

 

Hoje em dia a coragem não está do lado do ex-sacerdote que perora contra a hierarquia, do casal homossexual a reclamar um Trifório exclusivo na catedral, da mulher que protesta o seu direito ao sacerdócio: bater na Igreja constitui uma auto-estrada para a fama e glória na rádio televisão ou jornais. Com um pouco de sorte alcançam um tacho sem concurso público ou uma promissora carreira de artista subsidiado.

Heróico, heróico, por estes dias é afirmar a castidade contra o consumo, o amor contra o hedonismo, perseverança contra o instinto, a "religação" contra o relativismo. Depois é resistir à chuva de pedras e escarros dos zelotas do pensamento único. É tempo de retornamos às catacumbas.

A educação do povo II

"É preciso ensinar às crianças o que foi o 25 de Abril. É urgente. É uma questão de cultura democrática. Está em causa... o 25 de Abril."
(…) Convenhamos que é difícil deixar ao sistema nacional de educação essa função. E isto porque o 25 de Abril ainda é uma questão de educação. Política, é certo, mas não está suficientemente frio para ser um facto histórico. É uma opinião. E cada um tem a sua, que até pode ser diferente da que tem a professora dos seus filhos.
Por isso é que chegados a esta época do ano, sinto alguma angústia quando os deixo na escola. Assim, sozinhos. Sem que eu possa exercer o democrático direito ao contraditório. Socorro!

 

Inês Teotónio Pereira no Jornal i

 

Depois de num dia de Outubro, a minha filha de oito anos ter chegado da escola cheia de confusões na cabeça, e eu lhe ter explicado pacientemente que Liberdade Igualdade e Fraternidade era um lema da sanguinária revolução francesa e não uma consequência da instauração república portuguesa, que a igualdade do cidadão perante a lei era uma conquista da constituição de 1826, quando em Portugal se funda o sufrágio popular que se manteve indirecto e se viu mais restrito após a república, que a liberdade de imprensa e de manifestação só foi profundamente ameaçada após o 5 de Outubro; foi a vez de ontem me ver na contingência lhe explicar as virtudes dos primeiros anos do Estado Novo e que a primavera e as calças de ganga já existiam antes da revolução dos cravos. Esclareci-a sobre o 25 de Abril, e suas consequências imediatas: tomada de poder da esquerda radical e descolonização desastrosa. E que nesses tempos muita gente inocente teve que viver “às escondidas”. Por fim expliquei-lhe que a Liberdade prevaleceu apesar dos revolucionários. E que a Liberdade é o nosso mais precioso bem, e que nem sempre está onde parece ser mais evidente.

A revisão constitucional


Hoje ouvi de Ramalho Eanes, numa serena e cativante entrevista à Antena 1, um cliché, que por o ser, não deixa de ser tragicamente verdadeiro: o povo português é endemicamente pobre, condição que nos condenou ao longo da existência a menosprezar a História e a descuidar o Futuro, num desesperado apego à sobrevivência no imediato. Por causa disso os regimes e instituições nacionais foram incapazes de se regenerar por dentro, de perspectivar e construir o devir. Percorremos a História em círculos e aos repelões, em golpes e contra-golpes sempre recomeçados do zero. Hoje, só não vê quem não quer, caminhamos alegremente para o abismo, dependentes e incapazes de nos governar.

Acredito que uma séria revisão constitucional poderia ser o princípio de muita coisa. Talvez significasse que a experiencia tinha-nos ensinado qualquer coisa, mais importante que alguns atavismos e fetiches ideológicos que nos cingem há demasiado tanto tempo.

Casar não é obrigatório

 


Na continuação da sua Jihad, o Diário de notícias titula hoje que 60% dos divórcios tem origem em casamentos pela Igreja: este é no meu entender um claro sinal da leviandade e dos equívocos com que muitos casais se abalançam para esse sacramento, muitas vezes por causa da tradição ou por mero apontamento folclórico. Claro que há divórcios e divórcios, a hierarquia deverá saber responder com mais agilidade a muitas situações dramáticas e concretas no seio das suas comunidades. A "anulação" canónica dum casamento é difícil mas possível: sei do que falo.

Sou daqueles que considera que, mesmo sob pena de provocar impopularidade, a Igreja deveria ser mais exigente com os casais a respeito dos pressupostos para este sacramento. Confesso que tenho muita dificuldade em entender o que é um “católico não praticante”. Se não pratica, se não aspira e exercita devotadamente a sua catequese em Cristo, não goza nem se fortalece com as Graças da fé: não é católico, ponto final. De facto, como referiu em tempos o Papa Bento XVI, nestes acirrados tempos de individualismo os católicos têm que se habituar a viver como resistente minoria. De resto parece-me definitivamente que casar não é obrigatório, muito menos pela Igreja.

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