Esta coisa da idade não é só desvantagens, a experiência e a memória podem ajuda-nos a descodificar certas modas caricatas como esta da pulseira POWER BALANCE®. Quem não se lembra duma muito semelhante, ocorrida nos anos oitenta e que consta enriqueceu o João Rocha, o antigo presidente do Sporting? Tratava-se duma pulseira de bronze, em forma de ferradura, cujas extremidades eram rematadas com duas esferas. Dela também se dizia que afastava maus espíritos, e outros desequilíbrios provocados por malvadas frequências electromagnéticas.
Trinta anos depois a receita é recuperada com sucesso, de novo à boleia duma crise, impulsionada pelo espírito da estação tola e quem sabe em substituição dos fetiches regulamentares, como a bela gravata, relógio caro ou o carro da empresa que não dá jeito levar para a praia. Um insuspeito amigo meu que encontrei aqui em Milfontes, engenheiro de formação académica adquirida em dia útil, garantia-me, orgulhoso da sua POWER BALANCE® de trinta e cinco euros, que não tinha a certeza dos efeitos, mas que achava que sim, que notava mais equilíbrio a andar de mota, e que “temos que acreditar nalguma coisa, João”.
Admirável é como esta irresistível moda que começou no pulso duns quantos mediáticos, jogadores de futebol e figurantes de entretenimento, que vem crescendo por conta de alguns artigos de jornais e revistas, torna-se uma onda imparável, um grande, enorme negócio: daqui a duas ou três semanas, uns quantos terão feito fortuna com este Conto do Vigário; milhões e milhões de pulseiras vendidas, incluindo novas versões, mais clássicas ou arrojadas, incluindo a da loja do chinês, igualzinha às outras, acessível à mulher-a-dias e usada pelo empregado de mesa da estância balnear. Será esse o ponto de retorno: a coisa cairá então em fulminante desuso e descrença, anátema de provincianismo, de mau gosto e classe baixa.
É assim a história das pessoas, que precisam de acreditar em alguma coisa, de ter o conforto e a auto-estima, a esperança depositada num qualquer fetiche, trapo ou horóscopo. No fundo sendo tudo isto uma tontaria inofensiva, é uma história que nos revela para além da falta de uma Fé madura e experimentada, muita, mas muita, fragilidade escondida.