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A razão da obscuridade desta efeméride é para mim fácil de entender: ao contrário das mulheres que espontaneamente assumem uma identidade de classe, um arquétipo assumido, nós os homens, para lá duma obsessão pelas mulheres bonitas e do incómodo que partilhamos a tratar a pilosidade facial com desmaiada frequência, pouco mais temos comum. Antes pelo contrário, saudavelmente divididos olhamos com reserva para qualquer outro macho que se aproxime. Foi assim individualistas que conquistámos o Poder, apoiados em restritos núcleos de leais "irmãos de armas" em noitadas, futebol, inconclusivas tertúlias e outras diletâncias.Não é fantasia nenhuma, existe mesmo um Dia Internacional do Homem, que se celebra no dia 19 de Novembro de cada ano. A ideia peregrina segundo a Wikipédia nasceu dum tal Jerome Teelucksingh do Trinidad e Tobago, que logo obteve o apoio da ONU (que pouco mais tem para fazer) e “vários grupos de defesa dos direitos masculinos da América do Norte, Europa, África e Ásia” (que devem ser todos homossexuais)!
As mulheres, ao contrário, ficam bem juntas, em manifestações contra as cintas e soutiens, em excursões à casa de banho, em grupos de auto-ajuda ou organizações feministas, nem que seja em legitima defesa da proverbial grunhice masculina. As mulheres são de facto um segmento politico, sociológico e de mercado, uma classe à parte, verdadeiramente identitária: está-lhes no sangue. Conheço quatro irmãs, filhas dum distinto marialva saloio à moda antiga, que cresceram sob o terror de virem a ter um irmão. Esse irmão que nunca chegou a existir, ainda hoje é vilipendiado e odiado pelas quatro senhoras, hoje bem casadas e extremosas mães de filhos (!), por causa da mera hipótese desse moço que não chegou a ser, poder um dia ter sido o Varão mimado, companheiro de caça, cúmplice de farras do seu saudoso pai. Uma ingénua conjectura de quem não conhece o estranho bicho que vive em nós… e a imanente ruptura ontológica entre um pai e um filho.
Antes que isto vire para o sério, convém sublinhar que esta veleidade do Dia Internacional do Homem para além de significar um preocupante sinal de decadência de género, está condenada ao falhanço por tratar-se duma verdadeira mariquice. Afinal de contas qual é a semelhança, a causa comum por exemplo entre mim, o Daniel Oliveira, o Senhor Artur da mercearia, o Arcebispo de Cantuária e o Cristiano Ronaldo? Para o bem e para o mal somos todos géneros bem distintos a puxar cada um para o seu lado. É assim que o Dia Internacional do Homem está condenado ao fracasso, pela simples razão que enquanto um homem for homem, esse dia será quando e como cada um deles quiser.