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João Távora

O início de uma longa batalha

 

Se ainda não foi, ainda vai a tempo de dar um saltinho ao supermercado para ajudar a encher um carrinho de compras para o Banco Alimentar Contra a Fome: por estes dias de crise, este é um desafio que todos temos de assumir com redobrado esforço, pois constitui cada indivíduo o primeiro e último reduto da responsabilidade social, e do inegligenciável amor ao próximo. Se a atenção aos mais desfavorecidos não for uma descoberta no coração de cada um, não há futuro nem caminho para a comunidade a que pertencemos. Nestes dias particularmente duros compete-nos a todos uma resposta redobrada ás carências do nosso semelhante, agindo com magnanimidade nesta campanha. Mais, os tempos que aí vêm reclamam uma adesão firme ao chamamento que inevitavelmente se acentuará oriundo das paróquias e associações que são acolhimento dos mais desesperados casos de carência material e sofrimento psicológico. O desafio principal deste socorro pertence e pertencerá a cada um de nós, e não é transmissível a qualquer entidade abstracta, cega e distante da realidade que está no nosso bairro, à nossa porta, à frente dos nossos olhos. Tempos de excepção desafiam Homens excepcionais, na caridade e na entrega.

Todos os nomes

 

Todos os portugueses dos nossos dias têm nas veias sangue dos portugueses do século XXII e, assim sendo, todos eles descenderão simultaneamente de D. Afonso Henriques, dos seus poderosos barões e da plebe anónima (…)

 


 

É com profunda alegria que vejo por estes dias reeditada uma das obras mais “populares” de Luiz de Lancastre e Tavora, o seu “Dicionário das Famílias Portuguesas”. Com um grafismo tão sóbrio quanto requintado e num formato de “mesa”, este livro hoje de novo nos escaparates com a chancela da Quetzal Editores oferece ao leitor uma introdução simplificada ao tema da genealogia, uma importante ciência auxiliar da História cujo interesse é extensível a todos aqueles que têm curiosidade a respeito das suas origens ou antepassados. A reedição deste livro, para lá do potencial sucesso comercial que certamente alcançará, constitui uma merecida homenagem ao seu autor e meu saudoso pai, cuja dedicada vida de trabalho e estudo nas áreas do medievalismo, da genealogia e heráldica, merece todo o reconhecimento.

 

Esta elegante edição do Dicionário das Famílias Portuguesas” eleva as expectativas quanto à reedição que se prevê para breve do seu romance histórico "D. Leonor Távora – o Tempo da Ira".

Custo da dívida soberana - uma questão de comunicação?

 

O custo da dívida portuguesa há muito que deixou de ser um problema de comunicação; ao contrário, trata-se duma indisfarçável questão de facto, de substância. Por ora parece-me gratuita demasiada preocupação com os “discursos”, venham do ministro das finanças, venham de Angela Merkel, que digam uma coisa ou o seu contrário, nada disso comove os mercados. Nas empresas como na política as relações públicas, por mais competentes que sejam não dispensam uma realidade cooperante, um produto sólido ou ideia coerente.

Uma questão de (bom) gosto

 

 

Incompreensivelmente há por aí uma legião de fãs do Dr. House, um tipo insuportávelmente embirrento, caprichoso e egoísta. Eu pela minha parte prefiro as qualidades humanas da amável Dra. Lisa Cuddy.

A catarse

 

Muitos justificam a greve geral que hoje se realiza por este país fora como uma inevitável catarse face ao acumular de descontentamento com a incontornável falência do socialismo que vivemos há quase quarenta anos. Aliás, uma greve geral destas só tem efeito num país como o nosso, fundado num gigantesco e incontrolável Estado, hoje falido e em risco de desmantelamento. A somar a estas considerações, há que ter em conta o nosso desgraçado e ancestral ADN esquerdista, espelhado numa cultura de desresponsabilização e de vitimismo, na ancestral dificuldade ou recusa de cada um em assumir o seu protagonismo na alteração do seu destino.

De resto, como eu afirmei aqui há dias, com o que aí vem, não se aconselha a sobrevalorização do protesto de "rua" que, apesar de legitimo possui uma natureza anti-democrática insubestimável. Para mais, Portugal é terra fértil de ressentimentos sociais, invejas e outros mesquinhos embaraços, é pasto nutritivo para as mais delirantes demagogias radicais daqueles que, como crianças birrentas, recusam a realidade como ponto de partida para a mudança.

Finalmente, acredito que aqueles que verdadeiramente dependem da criação de riqueza para viverem, hoje tudo fizeram para ir trabalhar. De resto, também eu estou apreensivo com o meu futuro e zangado com o regime inepto e irresponsável que na troca de votos por ilusões aqui nos trouxe. Na falta de um punching ball, certamente arranjarei uma fórmula saudável de renovar as minhas energias interiores de forma a continuar a acrescentar alguma coisa, aquilo que me compete.

Cinema: Sexo, Droga e Computadores

 

 

De como o desconcertante Mark Zuckerberg, um génio bilionário hoje com vinte seis anos, é biografado para o cinema oito anos depois da criação do seu Facebook. Ou como a imparável marcha tecnológica na ausência de outras referências fomenta a ilusão de que vivemos um século num decénio. É essa voragem da história alucinante que Aaron Sorkin (Os Homens do Presidente) escreveu em The Accidental Billionaires, que é projectada no cinema pelo gélido olhar do realizador David Fincher, num duríssimo testemunho sobre a intriga à volta dum grupo de estudantes de Harvard que disputam desregradamente as relações, o prazer e o êxito. Trata-se dum perturbante filme sobre os nossos dias e as trevas do nosso tempo, a vertigem do sucesso no desprezo pelos outros, ou do lado sombrio dum indivíduo centrado em si na criação da mais bem sucedida rede de partilha de impressões humanas.

Um talento muito especial

 

Se é verdade, como refere hoje no Público no seu habitual tom jocoso Vasco Pulido Valente, que o sucesso da cimeira da OTAN confirma uma excepcional capacidade Lusa para administrar acontecimentos de grande complexidade logística e protocolar – em tempos eu próprio me envolvi profissionalmente na organização da Cimeira da OSCE com 52 chefes de Estado e de governo (!) e numa outra mais modesta, também da Nato mas ministerial -  o facto é que, o traço comum entre estes grandes eventos (aos quais  se podem incluir a Expo 98 e o Euro 2004), é, em maior ou menor grau, o eufórico e gigantesco despesismo, que com mais ou menos patrocínio externo, todos eles incorrem. Assim, lamento desiludir o popular cronista e historiador, mas eu diria que a nossa espantosa “capacidade de organização” corresponde a uma vocação e talento dos portugueses em fazer vida de ricos, a mesma que nos impede de "nos governarmos a nós próprios".

Da cacofonia à oportunidade

 

O advento dos “social media” veio inequivocamente democratizar a Comunicação, despertando o interesse em novas áreas de negócio, organizações ou a zelosos e intervenientes cidadãos: Se os novos meios são por natureza um território de afirmação das Relações Públicas, não se lhes deve negar a natureza eminentemente democrática e orgânica, cuja “espontaneidade” potencia uma inegável efectividade nos resultados.
A inspiração, as boas ideias, o bom senso e o jeito para comunicar, são qualidades repartidas por onde menos se espera, e não é raro o surgimento de casos de sucesso comunicacional com as mais improváveis origens, emergentes das redes sociais. Acontece que o argumento diferenciador entre esses casos e as iniciativas profissionais não está certamente no clássico erro da concepção dum perfil inadequado numa página do facebook, cuja solução nada tem de transcendente. 
O acesso às modernas ferramentas de Comunicação a um universo há poucos anos impensável, se dá origem uma série de erros crassos que chocam o olhar dos profissionais mais puritanos, tem a grande virtude de, além da propiciar a revelação dos mais improváveis génios, de propagandear de forma massiva e nunca antes ambicionada nem em sonhos, a importância duma concepção profissional de uma Marca e de uma estratégia de Comunicação consistente e credível. Da importância das Relações Públicas.

 

Publicado originalmente aqui

Viagem a um tempo que parou

 

Encalacrado pelo trânsito, subo lentamente a turvada Avenida Almirante Reis num fim de tarde outonal. A chuva cai copiosa por cima duma paleta de cinzentos donde se destacam as luzes dos carros, brancas e encarnadas dependendo do sentido da marcha, num vagaroso pára-arranca. O cenário é-me familiar, reporta-me a sensações antigas com quarenta anos: o cheiro a húmido do autocarro quase cheio, os neons que rebrilham nas poças de água, os vultos apressados, escondidos nos chapéus e agasalhos pardacentos, por entre o fumo do assador de castanhas que se mistura com baforadas dos escapes impacientes. De que me servem a banda larga, as tendências da moda, as redes sociais, a modernidade e a literatura ou um estúpido smart phone? Com um calafrio perco-me momentaneamente numa Lisboa bárbara e sem idade, que é de hoje como da minha infância. Revejo-me num grupo de miúdos encarapuçados e de mochilas às costas, que no passeio me ultrapassa em eufórica algazarra disputando aos pontapés uma lata amolgada. Uma velha espreita desconfiada à porta duma loja deserta e mal iluminada: quantas gerações de incógnitos malandrins já terá ela visto passar e crescer daquela soleira? Se as memórias antigas são a preto e branco, nada como um cinzento e chuvoso fim-de-tarde para uma  viagem a um tempo que parou. O tempo parou como se vivêssemos um eterno retorno, escravo das estações do ano, das horas do dia, como se não houvera sentido, se não a rotação outra vez e outra vez. Mas por estranho que pareça, do meio deste bloqueio temporal, mais tarde ou mais cedo, todos irão chegar aos seus misteriosos destinos. Subitamente tenho saudades de casa.

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