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João Távora

Falando de trabalho...

 

A precariedade do actual modelo de negócio da imprensa “tradicional”, ainda justamente apelidada como "O Quinto Poder", ameaça e compromete um jornalismo independente dos interesses e seus "jogadores". Enquanto a publicidade na Internet não for rentável, e a prenunciada revolução dos Tablets não se tornar uma realidade, a situação tenderá a degradar-se. Porque só uma verdadeira insubmissão económica concede aos Meios uma linha editorial verdadeiramente livre e criteriosa, que implica pagar o devido valor a profissionais em quantidade e qualidade, criticamente atentos a uma realidade política tão dinâmica quanto complexa.

É neste contexto ganham poder as grandes agências de comunicação que ocupam o espaço deixado vago, e assumem o papel promovendo  nas redacções leituras em defesa dos seus clientes ou leiloando escândalos dos seus adversários. Sejamos claros: se por um lado é do mais elementar bom senso o investimento numa gestão profissionalizada da imagem e reputação de qualquer agente social, torna-se cada vez mais premente uma autêntica independência dos meios face aos “actores”, para que se defendam duma relação viciosa. Mas se com isto a democracia e a liberdade de expressão são os primeiros valores ameaçados, a seguir são lesadas as próprias agências de comunicação na sua diversidade, sufocadas no mercado pelos grandes potentados e monopólios, remunerados que são pelos poderosos, sejam eles os grandes partidos políticos, bancos ou empresas na alçada estatal. Um jornalismo independente significa também a promoção da diversidade e sã concorrência, até nas imprescindíveis agências de comunicação.  

Do vagar

 

Já não é só a frenética cidade, mecânica, electrónica, esquizofrénica: atropelados pela vertigem virtual, mediática, escapa-nos a Essência. Caminhamos sem olhar pró caminho, guiados por códigos ergonómicos e imagens plastificadas que nos entram pelos olhos dentro numa cegueira de procura. Entorpecidos e cegos de Sentido. Quando foi a última vez que olhámos para a lua, que ouvimos um coração, escutámos o silêncio?
A realidade fala baixinho mas é coisa completa, sem mediação: só acessível num vagar táctil e silencioso que inquieta. Afinal há uma verdade que se oferece escondida na vontade, subjugada pelas pressas e aflições. Pressa que não tem o meu menino, quando guarda uma folha de árvore seca como se fosse o seu maior tesouro. Quando na espera à janela  (sempre a espera) se espanta, e com o dedito desafia a gota minúscula que desliza hesitante no vidro embaciado.
É só no vagar e no silêncio que ecoa o mistério, o espanto que é urgente, antítese da indiferença, do tempo que passa, envelhece e mata sem sabor nem sentido. O espanto dum demorado abraçar, aninhado numa entrega absoluta. O Amor, com odores familiares, sons secretos e gentis texturas, ardentes de vida. O regresso ao sereno mistério duma Catedral que brilha no silêncio da noite, em festa pelo reencontro, pela ressurreição. Como é urgente o vagar.

Palavras tolas, orelhas moucas!

As declarações de Lula da Silva à comunicação social ontem num jantar com Mário Soares e José Sócrates sobre a malignidade duma intervenção do FMI e que hoje ribombam nos media, como qualquer wishful thinking, são completamente inúteis. Certo, certo, é que o Estado português terá que se financiar nas próximas semanas em milhares de milhões de euros para cumprir os seus compromissos. Foi nos mandatos deste governo socialista, que ainda sonha com obras faraónicas como o TGV e o novo Aeroporto de Lisboa, que a dívida soberana quase que duplicou. Se mais ninguém lhe emprestar dinheiro, não restará alternativa a Sócrates do que pedir ajuda ao FMI. Cá se fazem cá se pagam!

O mau perder (2)

O Daniel Oliveira “denuncia” no Arrastão aqueles que seriam os resultados eleitorais de Godinho Lopes se vigorasse a norma de um voto por sócio nos estatutos do Sporting Clube de Portugal - ganhava o Bruno Carvalho. Mas não vigora: sendo discutível, essa norma existe para valorizar a fidelidade (uma palavra avessa à estética revolucionária) ao clube e (justamente) para defendê-lo de demandas golpistas. Acredito que este popular bloger do Bloco de Esquerda já conhecia as regras do jogo antes destas Eleições e só entendo a sua contestação nesta altura do campeonato à luz do seu percurso político. Desafio-o a deixar-se de tiques revolucionários e a propor a alteração dos estatutos numa Assembleia Geral. E a descarregar saudavelmente o seu espírito insurrecto na bancada dum jogo de futebol. Ganhávamos todos. 

O mau perder

 

 

 

No Sábado desloquei-me a Alvalade com o meu filhote pequeno para votar num futuro para o meu clube. Para além da enorme afluência deparei-me com  um acto eleitoral que me pareceu bem organizado e muito civilizado. Estava longe de adivinhar o quadro de “guerra civil” decorrente da vitória à tangente de Godinho Lopes: em democracia, concorrendo-se sob regras determinadas e aceites por todos, por um voto se ganha, por um voto se perde. 

Este é o pior dos cenários que podia acontecer a um Sporting em profunda fragilidade financeira, e à sua equipa de futebol em processo de desagregação. Incrédulo, pergunto-me o que estará verdadeiramente em jogo. Tenho muitas dúvidas que, com a batalha político-jurídica encetada, Bruno Carvalho e a sua claque, para além duma extraordinária promoção mediática, não venha a conquistar mais do que o cadáver daquilo que um dia foi um histórico clube de futebol campeão, paixão de gerações. Tudo isto trata-se afinal de um leonino pesadelo, um tétrico guião que não caberia nas mais perversas cogitações dos nossos adversários, que assistirão deleitados à indecente telenovela que, receio, perdurará até à última gota de sangue da vítima sacrificada.

Dia de eleições

A maior diferença entre o País e o meu Soprting é que no primeiro quanto piores são os resultados mais pagamos em quotas.

Terra queimada

 

A ausência estrategica, à vez, do primeiro-ministro e ministro das finanças dum debate da importância como o de hoje em S. Bento, a "casa da democracia" ou "da soberania" como lhe chamou Paulo Portas, não significa certamente uma vontade de corresponderem aos reptos de Sampaio e Alegre ao diálogo e dar prioridade ao interesse nacional. Depois do manifesto desrespeito pelos partidos e chefe do Estado, hoje foi a altura de Sócrates e Teixeira dos Santos demonstrarem o seu inequívoco desprezo pelo parlamento. Gente ordinária e indigna, esta. 

Vamos a votos, sim!

 

Os barões e senadores socialistas (e como eles são muitos e com tanta “voz” ao fim de décadas de “caminho para o socialismo”), vêm fazendo apelos bombásticos à responsabilidade “dos partidos” (do PSD, subentendido) chantageando com as consequências trágicas duma crise política. Eles não querem largar o poleiro, querem mais tempo para encobrirem as trapalhadas que fizeram, com outras borradas. Tragédia, meus senhores, foi a situação a que chegámos com José Sócrates, que só poderá piorar se o povo se vir inibido de sancionar um governo incompetente e fraco que em tudo o ludibriou. Essa é que seria uma verdadeira tragédia.

A atracção do... centrão

 

Depois de um congresso em que os discursos repetiram à saciedade a falência do modelo socialista e a consequente oportunidade de uma afirmação alternativa à direita, não entendo a necessidade de Paulo Portas insistir na disponibilidade do CDS numa solução de governo "alargada"que inclua o PS. Não me parece que tal proposição mobilize o seu eleitorado natural ou conquiste o descontente, mesmo que tal cenário se revele inevitável por razões patrióticas.

Até sempre Artur

Artur Agostinho

 

Recebi chocado a triste notícia da morte de Artur Agostinho, com quem há alguns anos tive o grato privilégio de privar na organização de um espectáculo de Natal para os empregados dos Hotéis Tivoli. Deste grande comunicador  guardarei a imagem de um homem generoso e humilde, para além de um bom senso e simpatia raros no seu meio. Perseguido pelos senhores da revolução em 1974, foi a este ilustre Sportinguista que coube a celebre locução do “cantinho do Morais” que em 1964 deu a Taça dos Vencedores de Taças ao seu (nosso) clube do coração. Nas nossas memórias prevalecerá sempre o seu incontornável protagonismo no clássico Leão da Estrela de 1947 realizado por Arthur Duarte. Também não esquecerei jamais o seu divertido papel no programa Zip-Zip, em particular no concurso “Sim ou Não” que muito me fascinava então, no qual o Artur entrevistava ardilosamente os concorrentes no propósito de os pressionar a proferirem as palavras proibidas. De resto, sendo eu desde pequeno um aficionado da telefonia, há muito já sentia a falta da sua afável e inconfundível voz, que estou certo marcará de forma indelével a história da radiofonia lusa. Entretanto, do cidadão responsável e atento, julgava-o interveniente e activo, e isso ajudava-me a sentir o Mundo um local mais familiar e aprazível. Sinto imenso a sua partida. Até sempre Artur.

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