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João Távora

(In) fidelidades

Parece-me que a irreflectida declaração de Paulo Portas subentende a cedência “de bandeja” dos valores solidários à esquerda. Um disparate, ou chamem-lhe um tiro no pé, que só o jornalismo regimental, venerando e obrigado não dá conta.
De resto, e a propósito de algumas reacções esdrúxulas às minhas inquietações sobre o perfil de Pedro Passos Coelho aqui manifestadas ontem, quem me conheça saberá que eu não subjugo a minha liberdade critica a nenhuma agenda política. De resto, estou convencido que os blogues são inúteis como murais de propaganda dogmática e os seus escritos pouco eficazes como caixa-de-ressonância dos slogans partidários. O seu público-alvo é criterioso e informado, consultando-os na procura de nuances e subtilezas argumentativas que contribuam para melhor interpretação da realidade. É esse pelo menos o meu critério de escolha. 
Finalmente, quanto a fidelidades incondicionais, na minha vida só alimento uma, a qual como católico praticante será fácil de adivinhar.

Um caso chamado Passos Coelho

 

Tenho para mim que o principal objectivo das eleições do próximo Domingo será atingido: evitar que a missão de resgate do país seja atribuída ao protagonista da sua consumada ruína.

O meu optimismo esbarra no entanto com um terrível receio de que Passos Coelho não possua arcaboiço para liderar a dramática e complexa empresa que se iniciará na segunda-feira, e que num fósforo porá à prova a sua firmeza e liderança, capacidade de motivar, gerar consensos e de enfrentar com firmeza as corporações conservadoras, os sindicatos avessos à mudança, e uma comunicação social sedenta de sangue, porque histórica e culturalmente comprometida com a quimera socialista.
É fácil reconhecer-se agora como foram injustificadas as acusações em tempos assacadas a PPC deste ser um produto comunicacional, muita parra e pouca uva ao pior estilo de José Sócrates. Antes pelo contrário: o actual líder do PSD gere uma frágil imagem, um discurso atabalhoado na forma e no conteúdo, sempre atrapalhado com as palavras que não conseguem explicar os estapafúrdios argumentos soprados aos seus ouvidos por uma trágica assessoria.
Insisto, voltando à ideia com que iniciei este texto: a destituição de José Sócrates parece-me irreversível e será sempre uma boa notícia a 5 de Junho. Para sossegar o meu espírito inquieto, dir-me-ão os meus amigos sociais-democratas que um bom comunicador não é obrigatoriamente um bom governante. Mas se isso é verdade, certo é que o próximo executivo enfrentará um duro combate e exige uma liderança forte de excepcional desembaraço e carisma, qualidades que Pedro Passos Coelho tarda em revelar-nos. 

 

Em estéreo

A pulhitiquice ou uma Causa nacional

 

Na segunda-feira dia 6 de Junho inicia-se a hercúlea tarefa do País apanhar os cacos partidos, de modo a enfrentar-se a mais penosa conjuntura política e económica vivida na frágil democracia portuguesa. Se é compreensível que o PSD e o CDS recusem a inclusão do protagonista desta vertiginosa espiral de ruína para a árdua missão de resgate, já não me parece razoável que no PS alguém venha agora impor condições para o auxílio. 
É de facto muito pouco o que separa hoje Portugal duma enorme catástrofe política e social. Nesse sentido, as declarações de Manuel Alegre ontem em Coimbra, reclamando o estatuto de oposição para o seu partido caso não vença as eleições, pecam não só por um escabroso tacticismo politiqueiro, mas uma deplorável falta de patriotismo. Deformidade essa que já constava na duvidosa folha de serviço deste lírico bardo da 3ª república.

 

From Coimbra with love

 

A manifestação estudantil ontem em Coimbra afrontando um comício comunista em protesto contra a propaganda da CDU pintada na escadaria monumental da universidade, constitui um irónico sinal dos tempos. Pensando melhor talvez não. Afinal, quem, senão a juventude inconformada para confrontar a força política mais esclerosada do panorama português com as suas práticas.

 

PS: sei que este post contraria uma moda muito em voga de complacência para com o PCP, hoje maioritáriamente um reduto de osbtinados velhinhos nem sempre estimáveis. O facto de ter "história" e ser decadente não deveria conceder essa espécie de estatuto "aristocático". Para ter "história" basta existir. Só a falta de memória ou ignorância permite essa complacencia por um partido de génese tirânica que fez demasiado mal a demasiadas pessoas...  

Agir local, pensar nacional

Há pouco no carro, a uma hora em que pouca gente a escuta, vinha eu a ouvir um interessante debate dirigido pela Maria Flor Pedroso na Antena 1 entre os cabeças de lista de Braga ao parlamento, em que os argumentos eram esgrimidos em função da realidade do distrito. Esta boa experiência vem reforçar a minha ideia da importância regeneradora das “campanhas localizadas” que decorrem à margem do “grande público” para os diversos círculos eleitorais e que põem os candidatos a deputados, a sua inteligência, acutilância e imaginação, em contacto directo com os seus eleitores. Para um parlamentarista como eu, é especialmente grato constatar uma focagem assim alternativa às inevitáveis campanhas dos líderes nacionais, cujo estilo e guião a duas semanas das eleições já se vão tornando num ruido estafado. 

De resto, em termos de Comunicação, atraem-me estratégias elaboradas sob esse princípio democrático da proximidade, como aqui referi, com base no excelente exemplo da campanha do círculo de Leiria do CDS, tão bem testemunhado no seu diário eficazmente difundido pelas redes. Acredito que uma boa parte dos candidatos à Casa da Democracia, por mérito próprio mereceriam muito mais atenção dos seus eleitores. Mas para que se promovesse no eleitorado uma perspectiva assim revitalizante da política, era necessário que a Comunicação Social emendasse alguns critérios editoriais, coisa infelizmente pouco provável tendo em conta a sua matriz conservadora, para não dizer outra coisa.

 

Em estéreo 

Uma triste sina

 

Ontem no meio de já tantas preocupações que assaltam o meu quotidiano, em conversa com amigos acometeu-me um sobressalto, ao equacionar os futuros “presidenciáveis” com que inevitavelmente seremos brindados para o futuro pós Cavaco. Como se já não bastasse o vexatório histórico de chefes de Estado nos últimos 100 anos, daqui a pouco mais de quatro, estaremos sujeitos a ver sentados em Belém, personagens sinistras ou bizarras como José Sócrates, António Guterres ou até quem sabe um “desertor” como Durão Barroso.
Estes são os símbolos que a república destina ao seu Povo, a “benigna ficção”, curiosa definição que Miguel Morgado dá ao cargo de Presidente, a que os portugueses têm direito. Afundados no mais profundo desânimo e descrença moral.
Enfim, deixemos isto por agora que a cada dia basta a sua pena.

Eleições legislativas: as vantagens duma campanha interactiva

 

No que concerne à “propaganda”, nesta decisiva campanha eleitoral que já por aí vai no adro, para lá da substância da narrativa, ganham vantagem comunicacional os partidos cujas estruturas locais apostem com vigor nas plataformas de social media, claro está sem descurarem o contacto ao vivo no terreno.
Acontece que a exploração da natureza orgânica da estrutura partidária protagonizada pelo “cabeça de lista”, favorece a divulgação de conteúdos web próprios, não só numa perspectiva de relação entre o candidato e a realidade do seu círculo eleitoral, mas de interacção com os seus potenciais simpatizantes, que hoje detêm um enorme poder de disseminar a mensagem através das redes digitais.

A extrema acessibilidade de tecnologias de produção e edição imagens e vídeos, confere aos partidos uma excepcional capacidade de autonomia e descentralização da campanha aproximando-a do eleitor. Definitivamente, estes conteúdos integrados em plataformas de Internet devidamente artilhadas para a disseminação, recomendação e interacção, possuem uma superior eficácia comparada com outros meios de propagação tradicionais, dispendiosos e poluentes. Se pensarmos que mais de dois milhões de portugueses são utilizadores activos do Facebook, e acreditarmos na capacidade de influência, por exemplo, dos blogs e do Twitter nos mais importantes fazedores de opinião, entenderemos como é decisiva, para além de salutar, uma forte aposta das estruturas partidárias nestes democráticos recursos. Desde que no respeito das boas práticas comunicacionais e dentro duma estratégia devidamente concertada… 

Um post realista, mesmo que possa ser acusado de destilar ressentimentos e dor de cotovelo

 

Que me desculpem os meus amigos portistas, (arsenalista não conheço nenhum), mas não percebo o furor à volta do recontro de logo à noite na final da Liga Europa. O meu desinteresse acontece precisamente por o jogo colocar duas equipas do campeonato português (que não portuguesas, longe disso) e por nenhuma ser a minha. De resto tenho muitas dúvidas que, como referiu há dias Aníbal Cavaco Silva, o fenómeno provoque alguma inveja a alguém, e suspeito que os próprios contendores preferiam mil vezes um finalista de outra nacionalidade, também por causa duma espécie de duplicado complexo de Groucho Marx, que suspeitava da credibilidade de qualquer clube que o aceitasse como sócio.
Nunca mais será o mesmo ganhar a Liga Europa. Assim, acredito que o desconsolo maior tenha sido nos corredores da UEFA e… no município de Dublin, onde preferiam receber milhares de bifes a enfrascarem-se à tripa-forra por dois dias seguidos. Resta-nos a esperança que o jogo suplante um pouco a completa irrelevância que possui para lá das bancadas do estádio e dos adeptos envolvidos, e que todos juntos se apliquem empenhadamente por estes dias a beber muitas cervejas Carlsberg, de modo que o torneio não perca de vez o patrocinador. Ah, e já agora, boa sorte para o treinador Domingos… 

Velhas lutas, novas armas

 

Se é certo que a perda de influência dos meios tradicionais de informação, em paralelo com o advento das novas tecnologias, da web 2.0 e toda a sorte de redes de comunicação não mediada, nos aponta para um aparente caos, ou no mínimo para caminhos desconhecidos, certo é que a oligarquia instalada vem perdendo poder de manipular, de doutrinar: os jovens, por exemplo, pouco vêem telejornais, não ouvem telefonia e muito menos lêem os jornais de referência. Fazem pesquisa de conteúdos na Internet e servem-se de downloads, de rubricas escritas ou audiovisuais, lúdicos ou informativos, com proveniência diversa, de produtores oficiais ou independentes, a seu belo prazer, e numa lógica que escapa à grande distribuição, comercial ou institucional. Por exemplo, se fosse há vinte anos, teria sido impossível a grande parte desse público escapar a uma estrondosa e unanimista campanha de propaganda relativa ao centenário da república, promovida pelo monopólio da televisão e rádios “oficiais”. Para mais, uma progressiva desagregação dos Meios tradicionais, desmultiplicados em múltiplos canais para nichos ou “segmentos de mercado”, hoje desguarnece o “Grande Irmão” que assim vai perdendo capacidade de amestrar o “seu povo”.

Assim, a Web 2.0 ou “Social Media”, como hoje se usa designar, com as suas tão democráticas quanto eficazes ferramentas de comunicação, tende a relevar o tradicional e dispendioso “mediador” para segundo plano, porquanto o seu sucesso emerge essencialmente da familiaridade e força de uma ideia, muita inspiração (que não se aprende na escola) e no manuseamento dessas ferramentas tecnológicas.

Este é o princípio que traz para a ribalta mediática muitos dos pequenos e médios projectos tradicionalmente sem recursos materiais para estas andanças; e se a militância pelas nossas convicções não é uma questão binária, de tudo ou nada, dependente de resultados absolutos, mas é motivada pela afirmação, em todo um território intermédio, porta a porta, alma a alma, dos valores da pátria portuguesa e da sua centenária Instituição Real, urge pois estabelecer novas estratégias de aproximação às pessoas, fornecendo-lhes doutrina e informação credível, reforçando-se sentido de pertença através de conteúdos modernos e atractivos.

É neste panorama que, por estes dias, os monárquicos e algumas minorias quase banidas da agenda oficial, são chamados a tomar o seu lugar, a assumir a sua voz, de forma organizada e profissional, investindo, formando-se, e municiando as novas ferramentas comunicacionais da Internet. Estas, devidamente adequadas a uma boa estratégia e públicos-alvo bem definidos oferecem uma surpreendente relação entre o custo e os resultados e potenciam de forma inesperada a sua capacidade de influência…

Porque cada mente arrancada à ignorância, ou alma desperta para a dúvida, é um pequeno mas essencial passo no caminho para um mundo menos decadente e inóspito. É isso que me move.

 

João Távora in Correio Real nº 5 Maio 2011

Tocar a rebate (2)

 

A respeito deste meu post, e para ser mais claro:

 

1)      Há muita gente desconfiada que Paulo Portas pretende o poder pelo poder, nem que seja com José Sócrates.

2)      Muitos eleitores à direita não perdoam uma certa humilhação infligida a Pedro Passos Coelho por Paulo Portas.

3)      Suspeito que o debate PP vs PPC marca uma inversão das tendências de voto nos dois partidos: o psd ferido no orgulho começa a crescer com a consequente travagem do CDS.

4)      Paulo Portas tem muito a ganhar partilhando mais o "palco" e assumindo uma atitude mais humilde e serena.</

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