Irresistíveis tentações
A propósito do que aqui refere o nosso Vasco Rosa, gostava de vos deixar alguns exemplos de deliciosos produtos típicos que resistem à normalização do gosto e do consumo: o melhor pão alentejano que conheço, sempre fervente acabadinho de sair do forno, é na localidade das Brunheiras, num caminho terra batida transversal à estrada para Lagos, a 2 quilómetros de Milfontes. Na direção do centro desta antiga vila piscatória, do lado esquerdo da rua principal, encontra-se um minimercado, o “Pão e Companhia”, onde se fabrica uma preciosidade gastronómica, uns biscoitos em argola chamados “popias”, especialidade que se aconselha na modalidade “caiadas”, que são pinceladas com uma finíssima camada de açúcar. Finalmente, entre a Barbacã e a Igreja Matriz, provam-se verdadeiras preciosidades de doçaria na pastelaria “A Colmeia”, que se distinguem pelo esmero no fabrico e qualidade da matéria-prima: folhados com doce de ovos, queijinhos de amêndoa e, o melhor de tudo, os suspiros, que são a nossa perdição.
Mas se é evidente a ameaça que paira sobre estes produtos artesanais feitos em pequenas quantidades a preços que se batem com os dos croissants “industriais” (veja-se em Milfontes o estrondoso sucesso da “Mabi” onde são servidos aos milhares a escorrer manteiga, com mistelas de chocolate ou doce de ovos), casos há de imaginativas soluções de industrialização de artigos nacionais. É o que a cadeia portuguesa de restauração h3 (aquela hamburgueria que não espalma os bifes picados) fez às alheiras, transformando-as em deliciosas bolinhas crocantes, servidas com grelos, ovo estrelado, arroz e batatas fritas às rodelas: a relação qualidade /preço deste novo prato é excelente.