Jornalismo de terra queimada
Como se não bastasse o ruído causado pelos interesses e ambições em natural disputa na democracia, somado às exibições de egolatria dos senadores do regime, um outro factor tende a incendiar a atmosfera de descrença e revolta que paira sobre o País: refiro-me às mentiras e meias verdades que geram escandalosas parangonas nos jornais. É o caso da notícia do Correio da Manhã, sobre a suposta compra de um automóvel de 86 mil euros pelo Ministro da Segurança Social Pedro Mota Soares, e que o mesmo teria levantado pessoalmente no Stand. Trata-se de uma rotunda falsidade com requintes de má fé: o carro arrendado através da Agência Nacional de Compras Públicas era o único disponível para entrega, tratando-se por mera coincidência daquele que foi anteriormente utilizado pelo do Ex-Secretário de Estado Carlos Zorrinho.
Entende-se que a realidade não cause grande impacto mediático, mas convém referir que, com uma redução de 30% nos consumos intermédios, o ministério da Segurança Social reduziu quase para metade o número de viaturas, tendo neste momento 11 veículos para estrita utilização em serviço, quando no anterior Governo eram 20.
Há muito que reclamo ao sentido de responsabilidade do jornalismo, como um dos mais poderosos actores da realidade politica que vivemos: por actos ou omissões, foi com a sua conivência que aqui chegámos. Ninguém está inocente. Acicatar pela mentira ou meia verdade o descredito e ressentimento popular nestes duríssimos tempos, no imediato pode render a atenção e fama a qualquer noticiário ou jornal, mas a prazo incendeia-se o País. E desse fogo ninguém sairá ileso.