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João Távora

Festas e devoções... sem feriados

 

Ritual  cristão da Imposição das Cinzas (Quarta-feira de cinzas)

 

O nosso calendário apresenta alguns exemplos de festas e comemorações que se mantêm em dias de trabalho. Tirando o fenómeno recentemente importado do S. Valentim cuja intensa exploração comercial o promove, outras celebrações há em que não sendo feriados ou como tal tendo sido extintos, se mantiveram, sustentados pela devoção religiosa ou simples tradição popular: destaco o Dia de Reis, a Quarta-feira de Cinzas e o dia de S. Martinho. Neste último caso, apesar da fascinante lenda que perpetuou esse grande herói da Igreja, é mais pela ligação popular ao calendário agrícola que a festa hoje persiste transversalmente na cidade e no campo, ocasião para se provar o vinho novo acompanhado com castanhas assadas. O dia dos Reis, importante feriado nas celebrações do Natal cristão em Espanha, apesar de dia de trabalho em Portugal, mantém-se tradição nos lares Portugueses, festejada com o popular bolo de frutos secos que relembra os magos do oriente que despojados seguiram a estrela até ao presépio de Belém. A celebração litúrgica (a  Epifania) transitou para o Domingo seguinte. Quanto à Quarta-feira de Cinzas, uma espreitadela nas missas do dia confirmará como é significativa a adesão dos fiéis a esta celebração que marca o início da estação espiritual mais importante do cristianismo... o tempo da Quaresma, rumo à Páscoa.
Na certeza que a sua sobrevivência será directamente proporcional à implantação popular, resta saber o que advirá das festividades cujos feriados o governo promete extinguir. Pela minha parte, auguro boas perspectivas para as festas da Assunção de Nossa Senhora que decorrem por toda a província em pleno tempo de férias, e sorte proporcionalmente inversa ao culto do fatídico 5.10 na Praça do Município, cuja liturgia já nem a nomenklatura do regime comove. A tudo o mais, fica por saber como sobreveviremos como povo.

Encalhados num beco da História

 

António Ribeiro Ferreira com o amargurado cepticismo com que nos vem brindando nos seus editoriais do jornal i, hoje retoma en passant um assunto de vital importância para o nosso regime em acelerado estado de corrosão: a reforma do sistema político. 
Porque no meu entender o parlamento é o órgão de soberania plural e democrático por excelência, onde salutarmente se deveriam confrontar as diversas facções representativas de interesses e ideias, é trágico concluirmos que a famosa reforma nunca irá para a frente pela simples razão de os aparelhos partidários, velhos, desgastados, corruptos, clientelares, fechados, máquinas de emprego público e de muita cacicagem, não quererem assinar a sua sentença de morte.
De resto desenganem-se os iludidos, que os restantes vértices do regime também são enfermos e não auguram nada de bom. Perante a borrasca que nos ameaça a todos, atente-se como se encontra comprometido o papel basilar da Chefia de Estado, não especialmente por causa da proverbial aselhice do actual inquilino de Belém, mas pela natureza fundacional do cargo. Se a sua legitimidade sufragada eleitoralmente, especialmente nesta conjuntura, impele à intervenção e confusão de narizes com o Executivo, a sua real falta de poderes denuncia a sua patética inutilidade. Compreende-se porquê os mais genuínos republicanos, vacinados pelo regime semipresidencialista que vigorava na monarquia constitucional, sempre dispensaram a figura do presidente, ou a tal “benigna ficção” como lhe chama Miguel Morgado. 
Hoje como nunca, a crise brutal que mina transversalmente toda a sociedade civil, apela à autoridade de uma voz (ou silêncio), independente, que seja ao mesmo tempo, representante dele próprio e de todos os que o antecederam e do todo que somos como povo, resiliente realidade transgeracional com 900 anos de História. É trágico, mas o regime não oferece aquilo que nunca como hoje foi tão urgente: uma reserva moral a montante da espuma dos dias, figura independente e aglutinadora de motivação e esperança. Algo impossível a quem emergiu da guerrilha politica e da gestão dos clientelismos e ilusórias negociatas que conduziram o país ao presente abismo. Estamos de facto entregues à deriva e favores europeus, cujos ventos esperamos se nos revelem indulgentes para com a nossa miséria. Que jamais as guerras, regicídios ou revoluções dos últimos duzentos anos conseguiram mitigar. 

A ironia climática

 

Este glorioso tempo, luminoso e soalheiro com acentuado aroma primaveril, se não se tratasse duma calamidade climática, seria uma grosseira provocação a Passos Coelho, um descarado convite para férias ou feiras, uma atípica promessa de êxito aos Corsos que por tantos anos resistiram entre aguaceiros e saraivada de granizo. Concluindo, a meteorologia por estes dias é uma cínica gargalhada arremessada à nossa trágica realidade. Sambemos então até às Cinzas!

O irresistível fascínio pelo dedo que aponta a lua

As brigadas do políticamente corretcto

 

"A mulher deve poder ficar em casa, ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos". Foram estas as declarações do novo Cardeal português D. Manuel de Castro que, numa reacção pavloviana incendiou os ânimos das brigadas do politicamente correcto. De resto, hoje, até Ferreira Fernandes na sua coluna do Diário de Notícias (que sigo com gosto), "engalinhou-se", alinhando com esse ululante cacarejar de puritana indignação. Pela minha parte, fico de braços cruzados, mesmo sob o risco de ser irradiado para a invisibilidade da "frente russa”. Mas também eu, se ficar pasmado a olhar para o dedo que aponta a lua, direi que a frase não foi feliz: sem que D. Manuel me tenha negado algum direito, como esforçado pai e padrasto de quatro crianças também me senti preterido. A diferença é que eu não ponho em causa a boa-fé nas declarações Cardeal, cujas palavras levadas à letra são pertinentes, um alerta para a esterilidade do ocidente decadente, rendido aos valores do niilismo e do pragmatismo capitalista. E para urgência duma Ecologia do Homem, que se deseja realizado em toda a sua dimensão. 

Baixe lá o seu braço então, caro Ferreira Fernandes, que não perde amigos por isso, antes acentuará a sua inegável inteligência. E olhe que não é só o Bispo das Forças Armadas que tem “Dom” no tratamento. 

 

A morte dos blogs, um manifesto exagero

 

O enorme sucesso e popularização do Twitter e Facebook vieram criar o mito da decadência dos Blogs. Ao contrário do que possa parecer, os números provam que este formato de publicação, enrolado numa sequência cronológica e disposto na web em redes de afinidades ou interesses, se vem consolidando e renovando-se diariamente com novos projectos, colectivos, profissionais, individuais, mais ou menos analíticos, intimistas ou institucionais, justamente potenciados pelas Redes Sociais, onde os seus conteúdos (posts) são disseminados de forma exponencial. Curiosa é a inversão de perspectiva de como foram dantes considerados os blogs e de como o são hoje. Há uns anos a sua fórmula era criticada pelo imediatismo irreflectido e inconsequente, hoje um estereótipo transposto para as Redes Sociais, dos “estados” de alma e “sound bites” de 140 caracteres. Tirando o Pacheco Pereira que exacerba a exclusividade, a blogosfera é hoje genericamente apreciada como um privilegiado espaço de análise e reflexão plural. Quanto ao Facebook uma coisa parece-me evidente: se a plataforma adicionasse às cronologias alguma versatilidade na edição e formatação dos textos, talvez não fosse má ideia. 

 

texto adaptado, originalmente publicado aqui

Não creio em teorias da conspiração, pero que las hay, las hay!

 

Vem isto a propósito duma desconfiança que me assaltou há alguns meses aquando da tremedeira do treinador do Futebol Clube do Porto: estará Domingos Paciência “de alma e coração” e sem ambiguidades, a treinar a equipa do Sporting? Desde então as exibições, as hesitações, a manifesta indefinição da equipa em sectores fulcrais como a defesa, as declarações desconexas e um aparente descontrolo emocional do treinador foram alimentando a minha impaciência e suspeita, que mantive em silêncio por duas razões: primeiro porque não acredito em bruxas e depois porque  como convicto Conservador, tal como o António Figueira também eu sou pela estabilidade das equipas técnicas, e que as Direcções devem dirigir e os treinadores devem treinar, também eu sou visceralmente avesso à interferência da malta de cabeça quente

A propósito de "cabeça quente", quem por estes dias deverá sentir as orelhas a ferver é Vítor Pereira. A nós cumpre-nos agora acreditar que Sá Pinto, fogoso e indómito sportinguista, incendeie o entusiasmo de um balneário composto por uma soma de valores individuais que há muito não víamos reunidos em Alvalade. Numa fase avançada da época, que afinal pode ainda ser salva, compreendo a aposta de Godinho Lopes, sem dúvida um presidente determinado e com ideias arrumadas. Factores não despiciendos, tendo em conta a periclitante realidade da Instituição Sporting por estes dias. 
De resto, putativos salvadores do nosso Clube, sempre os houve aos pontapés a falar de fora, de boca cheia com as suas mais do que duvidosas agendas. Para isso já não há paciência.

 

Publicado originalmente aqui

Pensava que a sua coluna de opinião era só às Sextas

 

Hoje a Fernanda Câncio, num artigo de opinião a duas colunas na página 17 do DN, discorre e domestica afincadamente uma selecção de dados “oficiais” sobre o aborto em Portugal , para confrontar um documento da Federação Portuguesa Pela Vida cujo estudo omite, concluindo (em manchete) que “A Maioria Das Mulheres Que Abortam Não é Reincidente”.  
Eu já perdi a esperança ver representadas as minhas extravagantes Causas nos jornais de referência, todos eles cada vez mais um “Canal Benfica” do pensamento único. 

Da invisibilidade

(...) As tiranias contemporâneas privatizam o espaço público, promovem artificialmente elites, condicionam e manipulam a informação e a educação, dão ao dinheiro mais dinheiro e substituem a espontaneidade pelos apaniguados, pelas seitas e pelos grupos informais. (...) Em Portugal, custe a quantos se esmeram na arte do ludíbrio das fórmulas, vivemos desde há muito sob a conjugação do jugo da servidão e da anomia dissolvente. 

 

Miguel Castelo Branco in Combustões

 

 

Ferreira Fernandes na sua crónica de hoje no Diário de Notícias, refere o caso duma foto de 1936 que vem fazendo brado, de um operário de um estaleiro de Hamburgo que, no meio de uma multidão que fazia a saudação nazi, é o único de braços cruzados. Claro que a história não acaba bem e o homem foi devidamente punido pela ousadia.
Hoje, caro Ferreira Fernandes, alcançada a terra prometida das amplas liberdades não corremos o risco de sermos torturados ou mandados para um campo de concentração. Hoje, não bater a pala ao politicamente correcto ou não juntarmos trezentas mil pessoas (!?) no Terreiro do Paço, tem apenas como consequência uma literal invisibilidade. Uma tirania brutal e eficaz, fatalmente desagregadora.
Mas atrevo-me a deixar aqui uma questão pertinente e incómoda: que discernimento teríamos nós, um e outro, de que lado estaria cada um de nós, nas circunstâncias culturais e sociológicas da Alemanha do NSDAP em meados dos anos trinta? O passado é quase sempre fácil de julgar, ou não é?

Tempo para patriotas, não para cabeçudos

 

Muitos portugueses ainda não terão entendido bem a gravidade da situação nacional, e o perigo de bancarrota que nos espreita, menos ainda as consequências de tal acontecimento. Seja qual for o desenlace, o certo é que vivemos uma mudança de paradigma, uma esquina da História, daquelas que inevitavelmente marcarão por muitos anos os manuais escolares do ensino obrigatório.
Agora, virem  os líricos que nos conduziram a esta desgraça liderados pelo herdeiro Seguro, reclamar contra o corte da "tolerância de ponte" do Carnaval, uma festa confrangedora, uma exibição patética de pobreza que algumas autarquias teimam em queimar euros que não possuem, parece-me trágico no mínimo. O mesmo juízo aplico aos que julgam a “medida certa no tempo errado”: num país em vias de extinção, dependentes por um fio de cabelo dos credores estrangeiros que vão mantendo dinheiro a circular nas nossas caixas de multibanco, numa república sem economia, sem qualquer autonomia energética, sem indústria, agricultura ou pescas, dependente dos outros nos bens mais básicos, que penhora o feriado da independência perante a indiferença geral, estas vozes parecem-me profundamente desafinadas com a realidade. Oh gente, que se lixe o Carnaval, deixemo-nos de cabeçudos, mãos à obra e restauremos Portugal!

Ou bem que há moralidade ou comem todos

Ainda a respeito da suposta “Censura” ao Pedro Rosa Mendes, não me lembro de nenhuma crónica dele nessa Série da Antena 1, mas por azar dos Távoras calhou-me ouvir umas quantas alarvidades duma tal de Raquel Freire, por exemplo, exaltando a masturbação feminina, ou incitando a insurreição popular contra o capital e outras conspirações malévolas. Mas a afronta com os dinheiros públicos não pára aqui, e não vemos chegada a hora de caducar o contrato do programa "Esplendor de Portugal" às terças-feiras depois das 19.00hs (horário nobre), em que  Juan Goldín, argentino, Fátima Monteiro, cabo-verdiana e Ronaldo Bonacchi, italiano, proferem as mais baixas vulgaridades nessa mesma Antena “de todos nós”.

Ainda não percebi porque carga de água são sempre as “minorias” do mesmo lado, com direito à Antena paga pelos contribuintes. Se é para serem “fracturantes” e “originais”, e para haver verdadeira equidade, porque não há-de a rádio pública convidar aos seus microfones uns Nacionalistas ou simpatizantes Nazis que afinal também sabem umas juntar frases bombásticas com sujeito, predicado, e complemento directo?