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João Távora

Saudade

A passagem do tempo sobre a memória das pessoas que passaram na nossa vida lava-nos o olhar: realça os traços principais, ofusca as mesquinhices.

Seja feita a Vossa vontade

 

Desde há alguns anos a esta parte, devido à violência das alterações nas vidas profissionais da minha mulher e minha, que me encontrei a espaços assaltado por inusitados sentimentos de aflição e de receio. Acontece que são essas as ocasiões que afinal vêm pondo à prova a maturidade da Fé que professo, que afinal deveria sempre significar Confiança.
Perante a dimensão do encargo de “governar” um barco de que dependem de forma directa quatro filhos, num primeiro momento, no olho da tormenta, a minha Relação com Deus transfigura-se em algo de mercantil e idólatra, cedendo à tentação de negociar a Sua protecção e intervenção por troca de mais e mais fervor nas suplicas.
É então que sou ”desarmado” pelas palavras da oração fundadora do Cristianismo, o grandioso Hino que se revela o “Pai Nosso” a «síntese de todo o Evangelho». Veja-se nessas palavras de sabedoria em que depois de honrarmos o nosso Deus “santificando-o”, suplicamos que, antes de qualquer outra veleidade “Seja feita a Vossa vontade…”. É nestas palavras que encontro afinal a chave da resolução dos meus desafios e angústias: seja feita então a Sua “vontade”. Uma afirmação de confiança na Vontade divina, e não no meu defeituoso e mesquinho arbítrio. O apelo é à libertadora qualidade da confiança incondicional. De que a solução dos desafios não está somente sobre os nossos ombros, mas pertence aos desígnios do nosso Deus Pai Criador. É um desafio à confiança. À confiança de que nos basta agir segundo a vontade e os preceitos de Deus, único Senhor das nossas vidas.
Da encruzilhada o caminho surge claro e harmonioso aos nossos olhos a posteriori. À distância, até as quedas e os falhanços ganham sentido, numa Obra que a cada momento não sou capaz de vislumbrar, muito menos entender. Contra factos não tenho argumentos: para operar o grande milagre que é a minha vida, não peço a Deus mais do que “O pão nosso de cada dia”, que “Perdoe as nossas ofensas”, na certeza de que também eu perdoo “a quem nos tem ofendido” e que me permita “não cair em tentação” e que nos livre “de todo mal”. É tudo o quanto me basta.

A grande maldição

 

 

Na quinta-feira passada não resisti a assistir a mais uma amarga derrota do Sporting e assim me certificar do seu acelerado fenómeno de decadência. Uma pessoa não se habitua à dor e palavra de honra que fiquei incomodado, com um inaudito melão. 
Como já referi mais do que uma vez, nestas coisas da bola sou apenas um adepto de paixão que não leva a sério a discussão de estratégias facilmente objectadas por uma bola à trave, uma lesão fatal ou má arbitragem. Ou seja, este é daqueles temas em que sou meramente “clubista”, ou seja, parcial e apaixonado - o que me move (me faz saltar) são as bolas lá dentro.
As razões atrás expostas não me permitem portanto uma análise lúcida da situação. Isso tem na língua portuguesa uma expressão clara e explícita, diz-se: o Filipe é do Benfica, o Vasco é do Porto e o João é do Sporting. Uma relação de propriedade, inevitabilidade umbilical, siamesa, da qual não há fuga ou libertação possível. Entendamo-nos: se fosse ao contrário e o Sporting fosse meu, eu rifava-o, escondia-o no sótão no baú dos trastes de família, aí mesmo onde estão todos os descarnados esqueletos. Mas não; para desgraça minha sou eu que sou do Sporting, qual Fausto que por uma miragem de felicidade vendeu a alma, e que assim alcançou a dor lancinante do perpétuo fogo dos infernos diabólicos. Não há rádio, jornal ou noticiário que a cada hora não me confronte com esta maldita condenação de assistir com uns palitos nos olhos ao naufrágio clube de que sou refém. 
Agora mais a sério: temo bem que pouco haja a fazer nestes dias para resgatar um pouco de orgulho e alegria aos sportinguistas, que em boa verdade, desde os anos sessenta, animados por umas poucas e fugazes vitórias, vivem dos seus pergaminhos. E se há pessoa que sabe que, exceptuando para a um alfarrabista, o valor prático dos pergaminhos é igual a zero sou eu; acreditem. Como diz o povo, "fidalguia sem comedoria é gaita que não assobia" e pelos vistos acabaram-se as filhas dos brasileiros ricos para “bem casar”, que o dinheiro custa a ganhar em todo o lado. E sem palhaços acabou-se o circo. É uma gaita.

O fascínio da história da gravação sonora

Recentemente foi descoberta, recuperada e reproduzida esta gravação de 1860 feita por Édouard-Léon Scott de Martinville num fonoautógrafo, que nunca descobriu forma de a reproduzir. Este refrão de Au Clair de la Lune é o registo de voz humana mais antigo alguma vez escutado. 


O primeiro aparelho de gravação e reprodução sonora mecânico foi o fonógrafo de cilindro, inventado por Thomas Edison em 1877. 

Contra factos não há argumentos


Confesso que tenho muita dificuldade em congeminar argumentos e teses políticas a respeito da “bola”. Porque se há um assunto que pela sua natureza me é permitido ser “clubista” é no que refere o meu clube. As emoções vivem-se a paixão não se discute. Apesar de reconhecer que o meu estado de alma é matéria de pouco interesse, não quero deixar de aqui expressar a minha profunda tristeza e desolação quanto à situação a que chegou o meu Sporting. 
E porque não acredito que a providência divina interfira nestas coisas, suspeito que a travessia do deserto, se a isso tivermos direito, será penosa.

Roubar, mesmo que não seja apanhado, é uma vergonha


A facilidade de acesso e o imediatismo da publicação de conteúdos proporcionado pelas Redes Sociais, sejam blogs, Facebook ou outras plataformas, constituem factores que banalizaram desavergonhadamente o tráfico de conteúdos copiados da Internet, em prejuízo dos seus autores, profissionais ou não. Nestes tempos em que muitos órgãos de comunicação social, ou simplesmente criativos individuais, lutam pela sua sobrevivência, nada justifica a apropriação e divulgação do seu trabalho, um crime que considero repugnante. Servir-se, seja de dinheiro, dum texto, duma frase, dum desenho ou duma fotografia da autoria de outrem, é sempre um crime, às vezes com consequências inimagináveis. Pense bem antes de o fazer. No Facebook, nos Blogues ou em qualquer outra plataforma, nada custa mencionar o autor, ou pelo menos referenciar a fonte. É pedir muito?


Publicado originalmente aqui

Greves

Eu hoje comprei o jornal Público e gostei. Bons artigos do Pedro Lomba sobre a crise no governo, sobre o "montismo" por J. Almeida Fernandes, e no DNA sobre as Irmãs Clarissas por António Marujo é uma excelente peça. Entretanto a greve na Lusa continua, a revista Newsweek em papel acabou, e eu também não me sinto nada bem.

Olhar o mundo

Ao contrário de algumas pessoas que, como remédio às suas legítimas angústias aderem à ideia de que vivemos sujeitos a múltiplas “teorias da conspiração” de obscuros Poderes, eu estou convicto que nunca como hoje eles foram tão escrutinados, nunca como hoje o cidadão comum usufruiu de tanta transparência. Nunca como nestes dias, tanta e tão boa informação circulou livremente pela sociedade civil, num debate propagado pelas disputas entre interesses, individuais e colectivos que se vigiam uns aos outros, potenciados pelas exponenciais facilidades tecnológicas disponíveis. Por conta desta dinâmica, quanto mais sofisticados, mais os “segredos” são difíceis de manter, na família, na empresa, no partido, no sindicato ou no ministério. 
Eu proponho que esta questão seja analisada ao contrário: antes de mais urge assumir com humildade que a enorme quantidade de "informação" circulante é um factor que dificulta a sua selecção, análise e síntese. Mas o que será mesmo impossível de resolver é o fenómeno da parcialidade com que cada individuo observa o mesmo facto, uma análise que estará sempre subjugada ao seu prisma subjectivo. A coisa a mim não me atormenta: no que concerne à realidade mundana, vivo bem melhor sem absolutos… porque só assim prevalecerá a Liberdade.

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