Os nossos alegres legumes...
Nos Joyeux Legumes - Dranem Chansonnette
1906 Cylindres Edison Moulés Sur Or: 17631.
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Nos Joyeux Legumes - Dranem Chansonnette
1906 Cylindres Edison Moulés Sur Or: 17631.
Enquanto os adultos andavam num desinço a discutir o insondável significado de “refundar” e as criancinhas excitadas com o Halloween promovido com esmero pela escola pública e outros estabelecimentos comerciais, suspeito que tenha passado despercebido à maioria das pessoas que vivemos na 5ª feira o último feriado de Todos os Santos, ancestral solenidade da cristandade criada em honra dos seus heróis, consagrados ou anónimos, consolidada entre os séc. IV e VIII, quando ser “de Cristo” era uma arriscada escolha de profunda radicalidade.
Revela-nos a História que então, como ainda hoje acontece no Natal e na Páscoa, as comemorações cristãs não dispensavam uma acolhedora vigília noite dentro, culto para o qual as comunidades se deslocavam a comemorar atraídas pelo Encontro nas iluminadas e aquecidas Igrejas e Catedrais. No norte da Europa medieval, era costume bruxas e druidas nessas noites organizarem cultos satânicos, literalmente “alternativos”, assinalados à entrada com abóboras iluminadas, para aliciar os caminhantes.
Dou de barato que numa sociedade laica e hedonista, os católicos tenderão a ser cada vez menos… talvez mais conscientes e temerários como os primeiros clandestinos. Mas provoca-me sincera apreensão que, para bem do comércio e do circo, a adolescentocracia dominante tenha imprimido às principais solenidades religiosas um cariz consumista, exterior e leviano. O chocolate e o coelhinho ocuparam a páscoa de Cristo, o Pai Natal e as renas instalaram-se no Presépio, e o Halloween impõe-se ao Dia de Todos os Santos. Os portugueses penhoraram a soberania económica, mas a identidade cultural há muito que se vai diluindo, desnaturando. E a maior patranha que a modernidade nos vendeu é a de que Satanás não existe.
Foto: Outono profundo - efeitos Intagram
Esta bem humorada cançoneta é inédita - Cócegas no nariz, por um tal Grisard: "C' est dans l'nez qu ça me chatouille". Apesar do seu mau estado é uma delícia escutar este cilindro de cera 1903. De resto, porque ao contrário do que sucede nos EUA não encontro qualquer projecto de preservação deste património fonográfico francês, venho catalogando e digitalizando os meus cilindros que se aproveitam, pois são extremamente frágeis: a maior parte deles ainda são de cera, os célebres "Cylindres Edison Moulés Sur Or", que degradados pelo tempo estalam na mão quase só pelo contacto físico e muitos estão inaudíveis devido à ferrugem.