Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

João Távora

Boas entradas, feliz 2013!

Para ouvir alto e em boas condições acústicas - Duquesne Whistle, a genial abertura do novo álbum de Bob Dylan, Tempest, o meu disco de mesa de cabeceira do momento.

Bom ano a todos!

A mais longinqua viagem sonora a um Natal do passado

No Natal de 1906, a família Wall canta dois temas alusivos

 

Quem acompanha as insignificâncias a que dedico a minha escrita, entende o fascínio que sobre mim exerce este artigo do Daly Mail sobre um avô que resgatou do seu sótão o fonógrafo e uma série de cilindros com as mais antigas gravações sonoras “feitas em casa” até hoje conhecidas. Cerca de 24 minutos de registos diversos, feitos pelos seus antepassados e que inclui impressionante “retrato” duma longínqua festa de Natal de 1902 que aqui reproduzo, foram doados ao museu de Londres. (Para ouvir os ficheiros, clicar na ligação em baixo da respectiva imagem)
 

No Natal de 1904, o Senhor Wall e alguns convivas endereçam votos de Boas Festas

 

Da minha experiência com uma série de cilindros com que este ano fui presenteado - e que aqui deixei testemunho em devida altura - nenhum dos "gravados em casa", (cujas caixas referenciam a anedotas, fados e cantigas) está em condições mínimas de audibilidade, afectados por um fungo que ataca a cera. Em dois deles devidamente assinalados, consegue-se adivinhar cantorias e monólogos, mas para conseguir uma nitidez razoável será necessário investir um dia num sofisticado trabalho de filtragem sonora, com meios e técnicas que não são muito acessíveis. Um projecto que espero cumprir, porque o som é um precioso complemento da imagem... e porque se nos orgulhamos de exibir na sala o retrato do nosso avô, como seria fascinante possuirmos um seu “postal” sonoro como recordação, não vos parece?

 

Nota: 
Agradeço a Victor Santos Carvalho que me fez chegar a "notícia" do Daily Mail

O cordeiro imolado


De passagem pelo Jornal da Noite da TVI deparo-me com a enésima reportagem a explorar à saciedade o filão Baptista da Silva onde se evita uma vez mais substância: as suas teses que tanto excitaram a nossa “gente limpa”. De resto há por aí bastantes doutorados e licenciados com curriculum académico e atestado partidário, que do pondo de vista substantivo se limitam a explorar a conveniente narrativa “não pagamos” do burlão. Estes dias de obscura desesperança favorecem a emergência de Baptistas da Silva que afinal por aí pululam em absoluta impunidade. E já agora porque não deixam o outro, o de imitação, em paz? É que já cheira a esturro.

O haraquíri do jornalismo

 

O caso Baptista da Silva é todo ele uma irónica parábola sobre a crise que por estes dias perpassa e se agudiza nos media tradicionais. É curioso como o burlão, promovido por um jornalista de nomeada de um semanário de referência nacional não tenha sido denunciado pelas “convenientes” intrujices que proferiu em vários palcos, mas antes pela descoberta do seu falso curriculum. Como sempre em Portugal o que conta é o estatuto.
Numa altura em que através das novas plataformas “sociais” tanto a opinião e análise de qualidade quanto a gestão de agenda politica ou corporativa se autonomizam cada vez mais dos meios de comunicação institucionais, não tenho dúvidas que a prazo poucos deles resistirão no actual modelo de gestão. Apenas irão sobreviver os que fundarem a sua actividade na excelência do profissionalismo, reflectindo os factos de forma isenta, analisados por atentos e meticulosos peritos, que sejam capazes de aferir discursos coerentes ou contestar raciocínios viciados ou cálculos mentirosos. Para alimentar conversas de café e amplificar bitaites sectários, já há para aí batalhões de blogues e ávidos activistas das redes sociais. Deixar-se seduzir e enredar nesta lógica é simplesmente o haraquíri do jornalismo. 

 

Publicado originalmente aqui

Outras cantorias

Os meus mais de cinquenta anos, muito brio e algum suor permitiram-me gradualmente juntar, além de um sistema estereofónico bastante competente, umas valentes centenas de discos, compactos e vinis, numa criteriosa colecção erigida com gozo e empenho de que me orgulho. É curioso como, através de meios informáticos, tenho-os quase todos convertidos em mp4 ocupando cerca de cinquenta gigabits numa pequena geringonça japonesa, a qual, de modo aleatório, por autor, por faixa, por género ou por álbum, consegue reproduzir integral e interruptamente por mais de uma semana. Chama-se a isto “desmaterialização”, é bom para a “portabilidade” (dá para ouvir no carro) e serve de cópia de segurança (não sei bem de quê).
Mas o que ultimamente me seduz, mais do que o som analógico ou a amplificação a válvulas, é a gravação mecânica, que funciona sempre, seja na praia, no campo ou no deserto, sem pilhas nem corrente eléctrica, sem software nem hardware, só com umas voltas à manivela e uma variedade de valsas, marchas e cantorias literalmente do outro mundo. Reconheço que a amplitude das frequências sonoras resulta bastante limitada, mas até isso tem o seu fascínio, quando ganhamos uma perspectiva mais ampla da efémera música popular, devolvendo à  vida a uma gravação com cem anos, por exemplo de Arthur Collins, um popular barítono americano do princípio do século XX, o "rei do Ragtime". Ou nos deliciamos a escutar Fred Astaire, a cantarolar "Maybe I Love You Too Much" de Irvin Berlin em 1931, antes de se celebrizar como actor e dançarino. E afinal de contas, não é deplorável a qualidade sonora debitada pelos modernos computadores portáteis, com que tanta gente se deleita a explorar músicas no Youtube?

Instagram


Lá em casa chamávamos "azedas" que atingem o seu esplendor em Janeiro e Fevereiro, com um caule saboroso, suculento. À falta de outras guloseimas, sabia que nem ginjas!

Pág. 1/3