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João Távora

Inquietações

 

Tendo em conta a cultura dominante nos meios de comunicação social e nas oligarquias do regime; quando ser de esquerda é considerado uma virtude em contraponto ao adjectivo pejorativo que constitui a posição contrária; jamais se poderia esperar um mandato menos que conturbado a um governo de direita em Portugal. A tarefa revela-se então ciclópica na actual situação de resgate financeiro e emergência nacional, para mais coincidente com um processo de ligeiro reequilíbrio das economias mundiais e o correspondente empobrecimento do ocidente a que se assiste. É por isso que receio que nos defrontemos de novo com o facto de um governo não socialista não vir a completar o legítimo mandato por razões exógenas à democracia e seus preceitos regulamentares. Por mais justificações que se atribuam a estes golpes de Estado o assunto inquieta-me profundamente. 
Assim como me inquieta que o partido que arruinou as finanças do país e que negociou e assinou o respectivo acordo de resgate financeiro com o FMI e os parceiros Europeus, tenha conseguido fazer vingar a ilusão colectiva de que a austeridade é um mero capricho, uma opção ideológica, e não a consequência de uma economia moribunda e da impossibilidade de financiamento do Estado nos mercados financeiros. Um embuste que incendeia as ruas e põe em causa a salutar alternância dos partidos no poder. E que mais tarde em confronto com a realidade resultará em mais um profundo golpe no crédito da democracia. 

The Roches

Nas minhas incursões na arqueologia da gravação sonora ao descobrir isto, lembrei-me disto: The Roches, é uma banda de três irmãs com origem irlandesa, de New Jersey, Maggie, Terre e Suzzy Roche. Com um invulgar talento vocal e harmónico, estas três rebrilhantes meteoros despontaram em Nova Iorque em 1979 com um fabuloso álbum produzido com o génio de Robert Fripp - donde se destaca este tema que exibe dois inconfundíveis solos de guitarra do consagrado músico britânico. Pouco conhecidas na Europa, estas três adoráveis criaturas passaram bem longe das play lists nacionais. Desconfio até que para além do Chico que nos revelou o achado trazido dos EUA, do Vasco (lembras-te, pá?), do meu irmão e de mim próprio, poucas mais pessoas conhecem por cá este tesouro. Um dos discos da minha vida, sem dúvida.

Top of the pops

 

Todas as guerras são demasiado longas, mas a II Grande Guerra fora certamente demasiado longa para demasiadas pessoas ao mesmo tempo. É neste contexto que no final de 1945 Bing Crosby leva a sua segunda versão do tema "It's Been A Long, Long Time" desta feita com o trio de Les Paul, um dos melhores guitarristas de sempre, ao nº 1 da tabela de vendas da Billboard. 

Umas exóticas lavadeiras ali prós lados de Setubal...

 

Connaissez-vous des lavandières, comme il y en a au Portugal
Surtout celles de la rivière de la ville de Setubal
Ce n'est vraiment pas des lavoirs, où elles lavent mais des volières
Il faut les entendre et les voir, rythmer leurs chants de leurs battoirs


{au Refrain}


Tant qu'y aura du linge à laver
On boira de la manzanilla
Tant qu'y aura du linge à laver
Des hommes on pourra se passer
Et tape et tape et tape avec ton battoir
Et tape et tape tu dormiras mieux ce soir


Quand un homme s'approche d'elles, surtout s'il est jeune et bien fait
Aussitôt elles glissent leurs bretelles, de leurs épaules au teint frais
Oui mais si c'est un va-nu-pied, ou bien même quelque vieil hidalgo
Elles s'amusent à le mouiller en chantant d'une voix égayée

 

{au Refrain}


Le soir venu les lavandières s'en vont avec leur linge blanc
Il faut voir leurs silhouettes fières se détacher dans le couchant
Sur leur tête leur panier posé, telles des déesses antiques
On entend doucement s'éloigner leur refrain et leurs pas feutrés


{au Refrain}


Oui mais souvent les lavandières trouvent le mari de leur choix
Toutes les autres lavandières le grand jour partagent leur joie
Au repas de noce invitées elles mettent une ambiance folle
Le xérès faisant son effet, elles commencent à chantonner


{au Refrain}


Ambivalências


É verdadeiramente aterradora a ideia (sim, porque não passa de uma ideia) de que o grande Leviatã tenha agentes infiltrados nas lojas a espreitar atrás do meu ombro. Agora que me dá gozo receber factura sem ter de suplicar, dá; lá isso, dá.
Quanto ao mais, suspeito que Francisco José Viegas já se deve ter arrependido cem vezes do desabafo que ontem publicou. Nunca iremos saber, mas eu prefiro pensar assim.


Entretenimento e propaganda

 

Henrique Monteiro na sua coluna no Expresso do passado Sábado lamentava-se da transformação da política num jogo de criação e gestão “casos” tão estéreis quanto retumbantes. É um facto inegável que os políticos acabam sequestrados, quando não cúmplices desta perversa lógica, que relega para segundo plano aquilo que deveria ser o seu verdadeiro e nobre objecto, o ensaio e a estratégia para a boa governaça da coisa pública. Mas o certo é que do outro lado da moeda está um implacável mercado noticioso (de que são protagonistas jornalistas como o Henrique Monteiro) que cada vez mais depende da abundancia desses “casos”, para satisfação de umas ou de outras clientelas: com um ou dois por semana se incendeia o espaço público, aumentam tiragens e exponenciam page vews através das redes sociais.
É exemplo do que atrás refiro o fenómeno que ora assistimos; o da avidez de certo jornalismo de, para lá da notícia planetária que constitui a resignação do Papa, em encontrar um “caso”, quem sabe até algum enredo opaco e perverso à moda dos romances de cordel de Dan Brown. Assim é, entretidos atrás dum mosquito na outra banda, deixamos escapar o elefante ao nosso lado,

 

Foto: Alessandro Di Meo no  jornal i

Liberdade 232

 

Passei esta manhã soalheira acompanhando o Ozias em périplo fotográfico pelos recantos da cidade de Lisboa que ilustrarão o meu livro. Chamar-se-á “Liberdade 232” e trata-se de uma colectânea de comentários, notas e memórias dispersas a lançar no final de Março. 

 

Foto minha com filro Instagram

Aniversário

Nacido a 8 de Fevereiro de 1937, Luiz de Lancastre e Távora (1937-93) dedicou-se largos anos à investigação histórica, com especial incidência nos campos da Genealogia, Heráldica e Sigilografia. Possuindo um elevado número de trabalhos publicados, duas das suas obras mereceram ser galardoadas, uma delas com um prémio internacional. Fez parte do corpo docente encarregado de ministrar os cursos de Iniciação à Genealogia e Heráldica, iniciativa levada a cabo pelo IPPC através do Instituto Português de Heráldica e com o patrocínio das Universidades Clássica e Nova de Lisboa. Funcionário da Biblioteca da Assembleia da República, foi destacado para a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, onde, a par de outras funções, dirigiu as actividades do Projecto Arquivos de Família. Sócio efectivo do Instituto Português de Heráldica, da Associação Portuguesa de Genealogia, da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Galardoado com os prémios General França Borges (AAP) e Salazar y Castro (Academia Internacional de Genealogía y Heráldica, com sede em Madrid).

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