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João Távora

Águas revoltas

 

Desde que interrompido o seu projecto de assalto ao poder no final do período revolucionário nos anos setenta, habituámos-nos a viver com o ruído das extremas-esquerdas, que com um pé dentro e outro fora do sistema, sempre souberam aproveitar o terreno fértil proporcionado pela nossa frágil sociedade civil e imatura democracia representativa, afinal o seu ancestral “inimigo” a abater.
Aqui chegados, os sentimentos de desilusão, receio e desespero que comportam estes tempos de brutal e inevitável ajustamento conferem ao seu discurso  uma oportunidade única de ressonância mediática e ilusória “legitimação”. A questão não seria tão alarmante se a situação que atravessamos se tratasse de uma mera crise, por definição um fenómeno passageiro, que não é. Por isso distancio-me dos tão em voga movimentos de protesto, um caldo de sensibilidades e de “partidos”, sempre manipulado pelas bem organizadas máquinas dos sectores radicais que se distinguem pelas tirânicas soluções que gostaríamos de ver definitivamente adormecidas nas mais negras páginas da nossa história.

Os tempos que se adivinham apresentam-se politicamente tempestuosos e exigem acima de tudo muita racionalidade que consiga aplacar estados de espírito e rancores que por mais intensos que sejam não nos libertam da realidade a que estamos sujeitos. José Sócrates descobriu tarde de mais que “o mundo mudou”. A questão actual e pertinente é de como preservar e fortalecer a democracia num processo prolongado de empobrecimento do Ocidente, fruto o reequilíbrio das economias mundiais e da acumulação de erros políticos das últimas décadas.

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