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João Távora

Todos os nomes

Todas as pessoas têm direito ao seu nome. Um nome que sintetize a sua genealogia com as memórias da sua existência numa unidade com o presente. Nessas circunstâncias é que pode soar como música alguém nos tratar pelo nome - na acepção de pessoa única e irrepetível, criada à imagem de Deus. Devíamos todos ser capazes de nos tratar uns aos outros pelo nome, um nome carregado com memória viva, que significa interesse pelo outro e pela sua circunstância. Isso é Amor, o único Amor que pode resgatar o Homem da sua precária contingência. De resto, não se é aristocrata por nascimento ou vontade, mas é-o quem desse modo interpreta o sentido da vida. 

A luta continua

Não havendo acordo alargado para a salvação nacional, a decisão de Cavaco de manter o governo suportado numa clara maioria parlamentar em funções acaba por prestigiar as instituições democráticas. A Europa e o mundo civilizado não entenderia outra solução que não esta. Esta crise salda-se afinal num atraso de duas semanas de impasse que abalaram a credibilidade do governo, que não tem mais perdão nem alternativa senão reforçar a determinação e empenho no cumprimento do seu desígnio de resgate do País. 

Simplificando...

 

O facto é que não encontramos esta tentação histérica de viver numa permanente crise, ao sabor da gritaria de rua, interrompendo legislaturas com exigências de eleições antecipadas a cada berbicacho, nas democracias consolidadas.
Acontece que é aos deputados eleitos no parlamento, um órgão colegial representativo das facções do eleitorado, que cabe decidir tão disruptiva decisão. É nessa condição que eu participo no jogo: o meu voto para as legislativas apenas caduca daqui a dois anos e vale muito mais do que qualquer sondagem, ou tanto quanto a decisão de um “homem só” revestido do poder absoluto de o revogar. Um árbitro sempre parcial contratado a termo certo, emergente e sujeito à pressão da intriga politiqueira.

 

Imagem roubada daqui

Sugestão de leitura para férias


(...) "E recordo com saudade as vezes que passeava orgulhoso ao lado do meu pai no seu Volkswagen aos abanões pelo meio das dunas dos Aivados. E havia o nosso guia Jacinto, um pescador autóctone que o auxiliava em façanhas piscatórias, e que nos acompanhava no Canal à lota do peixe. No último ano que passámos juntos em Milfontes, meu pai comprou uma velha barca que deixou à guarda do Jacinto, para um imprescindível restauro. Depois do 25 de Abril, ele não voltou a Vila Nova, e eu nunca mais soube o que se passara com o nosso barco, com o qual tenho a certeza ambos sonhámos divertidas aventuras e passeios numas férias que jamais aconteceram. Talvez por mero pudor, nunca falámos do assunto."


Liberdade 232 - pp. 143 Livro à venda na FNAC e aqui:http://www.liberdade232.com/



Foto 1 - Barco à beira do rio Mira, autor e data desconhecidos. 


Foto 2 - Milfontes 1965: Jacinto em frente à antiga "Casa do pijama" - actual Restaurante Portal da Vila - foto de Joao Folque gentilmente cedida por Filipe de Menezes.


É preciso fazer um boneco?

 

Nem todos os meus adversários são iguais. Não concebo a convivência democrática com aqueles que se batem pela supressão da minha liberdade. Não sinto qualquer necessidade de ser aceite por quem luta pela aniquilação da minha forma de ver o mundo. Daqueles que acreditam que a sua liberdade é mais importante do que a minha. Assunção tem toda a legitimidade ao citar Simone de Beauvoir no parlamento impedido de prosseguir com os seus trabalhos por duas dúzias de comunistas da CGTP: "Não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes". Basta conhecer a história do Século XX para constatar os trágicos custos de semelhante incúria.

Mas mesmo sem consultar os livros de história nunca será demais recordar o papel das organizações envolvidas no protesto nas galerias, em 1974 e 1975, na tentativa de assalto ao poder, de cercear a liberdade dos outros em prol da sua ditadura do proletariado (ou democracia popular). É nesse registo que Ana Aviola declarava ontem em debandada de S. Bento que "Podem fechar a Assembleia da República. Não faz falta nenhuma" referiu Ana Avoila. E um fascista não diria melhor. Ou um nazi.
Ou seja, nunca por nunca podemos ceder nas questões de principio. Aquele grupelho de sindicalistas desrespeitou o meu voto, os votos dos portugueses que legitimam deputados que nos representam. A todos. Aí não pode haver cedências. 


O despertar do semi-presidente e outras desgraças

Ainda assim a questão base parece-me que reside na equívoca arquitectura regime. Cavaco usou a margem que possui e passa duma visão minimal dos poderes do Chefe de Estado para a oposta: traído pelas disputas entre Portas e Passos Coelho e sem consideração pelo parlamento eleito assumiu o risco de gerir a agenda politica. Apesar dos portugueses alimentarem simpatias por homens providenciais receio bem que a coragem revelada resulte afinal numa trágica imprudência. De resto, perante este cenário, pouco compensadora é a severa lição dada a Paulo Portas a quem definitivamente lhe escapa a História. 

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