Um inferno ao virar da esquina
A guerra civil em que previsivelmente vem descambado a “Primavera Árabe” do Egipto, mostra uma sociedade fracturada e profundamente intolerante. Trata-se de uma questão civilizacional, uma concepção estética de poder, apenas tido na sua dimensão absoluta e tirânica. Os corpos humanos calcinados, nas praças, mesquitas e igrejas são imagem que chocam profundamente o olhar do ocidental civilizado.
Mas acontece que receio não podermos incluir com segurança os portugueses nesse grupo. Basta conhecer o discurso dos muitos radicais, à esquerda e à direita, que interpretam a realidade sociopolítica como se não houvesse gente no meio. De resto, como se dá o caso em Portugal da extrema-direita não ter palco mediático, a verdadeira ameaça afinal é unipolar: reside na tolerada e fotogénica extrema-esquerda comunista e ex-comunista, que não prescinde dos velhos métodos bolchevistas e dos seus ancestrais ódios de estimação: a Igreja, a liberdade individual e a iniciativa privada. Com predilecção pela rua que controla com mestria na instrumentalização dos descontentamentos, é com esse “jogo perigoso” que pressiona e intimida as instituições democráticas que não controla institucionalmente. Nesse sentido, a imagem que ilustra este post é dedicada a todos os “revolucionários” e “radicais” que nos habituámos a tolerar por cá, seja em S. Bento, nos sindicatos, na imprensa, nas televisões ou nos Blogs.
A política serve para substituir a lei da catana, e uma democracia para resolver os conflitos e (constantemente, insistentemente) (re) estabelecer equilíbrios. Abrindo espaço para a realização humana. Nuno Ramos de Almeida ou Daniel Oliveira por exemplo, reclamam que é essencial meter “medo” aos seus adversários. Ou seja, parece-lhes legítimo transpor o combate politico para o campo da irracionalidade, como estratégia para o aniquilamento do seu opositor. Mas se este tipo de "jogo psicológico" é admissível (mas arriscado) no campo lúdico e “simbólico” da competição desportiva, a estratégia parece-me inadmissível quando interfere com as legítimas convicções dos adversários e pretende destabilizar as frágeis instituições democráticas. Alimentar fracturas e atiçar ódios nesta jovem e periclitante democracia tão pouco participada, um dia ainda acaba mal, alguém ainda se magoa a sério.