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João Távora

Um inferno ao virar da esquina

A guerra civil em que previsivelmente vem descambado a “Primavera Árabe” do Egipto, mostra uma sociedade fracturada e profundamente intolerante. Trata-se de uma questão civilizacional, uma concepção estética de poder, apenas tido na sua dimensão absoluta e tirânica. Os corpos humanos calcinados, nas praças, mesquitas e igrejas são imagem que chocam profundamente o olhar do ocidental civilizado.
Mas acontece que receio não podermos incluir com segurança os portugueses nesse grupo. Basta conhecer o discurso dos muitos radicais, à esquerda e à direita, que interpretam a realidade sociopolítica como se não houvesse gente no meio. De resto, como se dá o caso em Portugal da extrema-direita não ter palco mediático, a verdadeira ameaça afinal é unipolar: reside na tolerada e fotogénica extrema-esquerda comunista e ex-comunista, que não prescinde dos velhos métodos bolchevistas e dos seus ancestrais ódios de estimação: a Igreja, a liberdade individual e a iniciativa privada. Com predilecção pela rua que controla com mestria na instrumentalização dos descontentamentos, é com esse “jogo perigoso” que pressiona e intimida as instituições democráticas que não controla institucionalmente. Nesse sentido, a imagem que ilustra este post é dedicada a todos os “revolucionários” e “radicais” que nos habituámos a tolerar por cá, seja em S. Bento, nos sindicatos, na imprensa, nas televisões ou nos Blogs. 

A política serve para substituir a lei da catana, e uma democracia para resolver os conflitos e (constantemente, insistentemente) (re) estabelecer equilíbrios. Abrindo espaço para a realização humana. Nuno Ramos de Almeida ou Daniel Oliveira por exemplo, reclamam que é essencial meter “medo” aos seus adversários. Ou seja, parece-lhes legítimo transpor o combate politico para o campo da irracionalidade, como estratégia para o aniquilamento do seu opositor. Mas se este tipo de "jogo psicológico" é admissível (mas arriscado) no campo lúdico e “simbólico” da competição desportiva, a estratégia parece-me inadmissível quando interfere com as legítimas convicções dos adversários e pretende destabilizar as frágeis instituições democráticas. Alimentar fracturas e atiçar ódios nesta jovem e periclitante democracia tão pouco participada, um dia ainda acaba mal, alguém ainda se magoa a sério. 

Ao contrário, é a mesma coisa mas do avesso

 

(…) no ano da graça de dois mil e treze, o verdadeiro acto iconoclasta é a recusa da iconoclastia. O iconoclasta não é aquele que desafia Deus, é o crente. O rebelde não é aquele que diz asneiras, é o individuo que recusa a falar através da asneira. A indomável não é a aquela que corrompe a virgindade epidérmica, é a rapariga que percebe que a tatuagem entrou no domínio da burocracia. Hoje na praia consegui ver três mulheres sem tatuagem. Três iconoclastas.

 

Henrique Raposo hoje no Expresso

 

Resta saber afinal se uma tatuagem traduz na realidade emancipação de alguma coisa, Henrique. Digo eu, que talvez por coincidência desde o ano que nasci (para que conste sou moderníssimo, nasci no ano da estreia de "Breakfast at Tiffany's" com a Audrey Hepburn) que assisto curioso a esse processo dialéctico da realização humana. E depois, o dealbar da beleza feminina em Portugal testemunhei eu a partir da adolescência (justamente em Lisboa e de forma mais concreta (cientifica até) no liceu Pedro Nunes). Estranhamente esse processo histórico parece ter estagnado na geração das moçoilas da década de 1980, justamente aquela em que a tua curiosidade sobre a matéria despontava. Coincidentemente ou não, de há uns tempos para cá constata-se que as mulheres de meia idade vêm sendo cada vez mais bonitas, (tenho disso boa prova) e não sei onde é que tudo isto (não) vai parar. De resto, Henrique, prometo que vou meditar seriamente sobre o assunto amanhã na praia.

Um disco fora do vulgar

Aqui vos desvendo um dos primeiros discos gravados, produzido em 1898 pela empresa americana "Gramophone" do anglo-alemão Emile Berliner (que os inventara dez anos antes). Trata-se de um solo de clarinete por A.P. Stengler "Blue Bells Of Scotland". De notar que 1901 é considerada a data "oficial" (in história do Séc. XX de Martin Guilbert) do início da comercialização dos discos que vieram mais tarde destronar os cilindros de cera prensada. Ainda não consegui encontrar nada deste género a um preço razoável para a minha colecção.

Ainda é cedo para festejar

Receio bem que os pequenos sinais recentemente detectados de crescimento no emprego e na da economia, tenham em boa parte que ver com a aproximação das eleições autárquicas e o consequente acelerar de obras e da logística da propaganda eleitoral. Dinheiro dos nossos impostos, crescimento socialista, portanto. 


Da amizade, verdadeira e finita

Longe de mim querer o ónus de contrariar os poetas, os idealistas e muito menos os adolescentes. Mas acontece que a verdade exige que de vez em quando lhe prestemos tributo, e é nesse sentido que vos posso garantir que a eterna amizade, tipo “encontramo-nos por aí daqui a vinte anos como se fosse no dia seguinte” é o mais das vezes um mito, talvez inofensivo, mas um rotundo mito. E acreditem no que vos digo, pois que sou um experiente especialista nisso de ter bons amigos, graças a Deus: sempre fui pessoa de grandes amizades, cada uma delas única e lealmente cultivada. De antigamente, lembro-me bem daqueles (sempre poucos é certo) que tanto me marcaram na dobra amarrotada da adolescência: das nossas cumplicidades construídas com a descoberta da vida, no erro e na virtude, das conversas intermináveis em que emergiam soluções definitivas para os problemas do Mundo e da existência, vislumbradas entre fumo e garrafas de cerveja; na interpretação dos nossos ídolos da música, da literatura e da história, como se apenas nós os entendêssemos verdadeiramente, numa egolatria partilhada e consentida. E as emoções vividas em estados limites de exaustão, nas noitadas; de arriscadas e arrepiantes façanhas e aventuras, estados d’alma que sempre convidam ao arrebatamento e ao exagero de juras de fidelidade siamesa, mais-que-eterna, quase sólida.
Mas depois sem pré-aviso, os caminhos desviam-se de forma mais ou menos subtil e a vida separa-nos com uma intrigante naturalidade. Vêm os amores, os casamentos, os filhos e novas famílias. Chegam trabalhos mil, conquistas, falhanços e frustrações. Sim, são possíveis amizades para toda a vida (sei que o meu pai teve uma assim) mas hoje sou obrigado a admitir que mesmo terminadas não deixaram de ter sido genuínas. Deixaram de ser “praticadas”, enterradas que foram após um fortuito reencontro, quem sabe embaraçador, em circunstâncias inesperadas: acontece que vinte ou quarenta anos depois já não somos as mesmas pessoas, o tempo e as circunstâncias fizeram de nós pouco menos do que estranhos, quando já só nos queríamos preservados e incorrompidos nas respectivas memórias. Cúmplices num sentimento incómodo de estranha incompatibilidade, que o bom e velho amigo nunca irá cobrar esta primeira e última traição: "amigo não empata amigo" (frase detestável, esta), a vida continua imparável presenteando-nos cruamente com novos bons amigos, poucos, que isso é da sua natureza. 

 

Os cilindros Sterling

 

Foi quando expirou a patente de Thomas Edison dos seus cilindros gravados em 1904 que Louis Sterling lançou em Inglaterra uma nova produtora de nome "Sterling Record Company". Ao fim de 22 semanas de operação as vendas atingiam um milhão de cópias vendidas, sucesso atribuído à qualidade do som obtido através duma solução de cera prensada muito suave que (quase) competia com os discos, formato que desde 1901 se vinha impondo no mercado da gravação sonora. Através deste curioso exemplo nota-se como tudo valia para lançar novas publicações.