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João Távora

Façam-se à estrada, pois então!

O facto de as televisões terem decidido se isentar do acompanhamento das centenas de candidatos e campanhas autárquicas a decorrer pelo país, se prejudica a projecção do acto eleitoral em si, confere ao mesmo uma dimensão definitivamente local e de proximidade. Façam-se à estrada, rua a rua, porta a porta, pois então.
Claro que notícia é notícia e propaganda é propaganda. Nesse sentido espero bem que, se Costa levar com um tomate podre ou Meneses morder num cão, a CNE permita que as televisões transmitam uma reportagem.  

Pagar para ver

 

A exploração de um canal temático de televisão contém riscos e potencialidades que exigem uma gestão muito profissional, mais a mais no âmbito da indústria do futebol, tema que como sabemos “comove” milhões de adeptos e move milhões de euros.
No que diz respeito a um canal explorado por um clube “a solo” concorrendo no mercado da televisão em regime de “pagar para ver”, por muitos e bons conteúdos que se contratualize em exclusividade, os seus riscos aumentão exponencialmente, porque o sucesso estará sempre restrito ao número dos seus apoiantes com entusiasmo e meios para o subscrever. Nesse sentido, o êxito da empresa será sempre refém do sucesso desportivo do emblema. Ou seja, a somar aos exigentes desafios duma boa gestão operacional e comercial, o projecto arrisca-se a ser comprometido por uma bola no poste, um fora de jogo mal assinalado ou a má forma de um atleta. Se a vertigem da sorte é a alma de qualquer jogo, essa característica pode ser mortífera para um projecto empresarial. Também por isto temo que o Canal Benfica resulte num mau negócio. 

 

Publicado originalmente aqui.

Os independentes

Mais do que focar o lado caricato das candidaturas autárquicas mais ou menos independentes e genuínas que despontam um pouco por todo o País, parece-me importante valorizar o movimento sem qualquer preconceito. Os meios de propaganda são mal utilizados? Os protagonistas não se apresentam no padrão cosmopolita de Lisboa? O Design é descurado ou de mau gosto? O discurso é politicamente pobre? 
Não alinho no discurso anti partidário, mas no caso das eleições autárquicas em que se disputam cargos essencialmente de gestão e liderança parece-me pouco importante a questão ideológica. Claro que cada caso é um caso, nem todos serão verdadeiramente "independentes", mas o fenómeno parece-me intrinsecamente bom para Portugal. Curioso como cada um de nós pode conhecer pelo menos um parente, amigo ou vizinho a concorrer a uma junta ou assembleia de freguesia. E se o espetáculo da propaganda não servir para mais nada, que nos sirva de espelho, em que dos dois lados iremos sempre nos confrontar connosco próprios. Sem filtros nem desculpas.  



tempus fugit

O Verão cede e inclina-se ameaçadoramente: Vejam bem como sol aquece cada vez mais obliquo e produz sombras esguias e cores "vintage". Ainda temos uns dias antes de cair a noite.



Temos o que merecemos

Como monárquico parlamentarista, ambiciono um País com instituições sólidas e credíveis, dinâmicas na adaptação aos desafios dos tempos, e resistentes aos conflitos sectários que resultam duma sociedade civil tão vigorosa e interveniente quanto tolerante. Mas tenho para mim que o Portugal de hoje, arruinado e deprimido, é exactamente aquilo de que os portugueses são capazes, e isso é algo frustrante para quem como eu ambiciona muito mais duma Nação com quase novecentos anos.
Ao contrário da maioria dos portugueses, não alinho em messianismos, e estou convicto que a solução para o meu país começa na minha atitude, está na minha casa e no meu trabalho. Ou seja, não é possível resolver o problema de fora para dentro: é uma completa fantasia ter uma economia competitiva, instituições estáveis e condignas, apenas mudando a arquitectura administrativa (coisa em que ninguém está interessado em mexer), sem uma profunda reforma das mentalidades que comece pela assunção por cada português da sua quota responsabilidade, seja pela sua vida, família, condomínio, paróquia, autarquia, clube desportivo, associação recreativa ou partido político. Toda e qualquer teoria ou projecto que não se fundamente neste pressuposto, está votada ao fracasso, e por isso temos aquilo que merecemos. Como referia José Joaquim Lopes Praça, intelectual português do século XIX preceptor dos infantes D. Luís Filipe e D. Manuel, "o génio da liberdade alimenta-se mais dos nossos costumes que do vigor das nossas leis".

Acontece que grosso modo, somos um povo indolente e sentimental, desconfiado e intolerante, pouco atreito à partilha de responsabilidades e aos desafios duma existência quotidiana de normalidade. Vivemos a idealizar um passado heróico e na expectativa da ressurreição dum Salazar ou dum D. Sebastião, cremos em mitos e revoluções, que corrijam todas as infâmias e injustiças… perpetradas pelos “outros”.

Sem jamais desistir com todas as minhas forças de assumir um protagonismo nos destinos da minha Pátria, estou cada vez mais convicto de que vivemos hoje uma realidade nacional atomizada, e que o meu País acaba à porta da minha casa, que o meu Portugal é cada vez mais uma sólida rede de amigos, famílias e de símbolos onde o reconheço plasmado. Uma rede que funciona como uma Arca de Noé onde se preservam princípios e ideais, ou seja, a Esperança. O resto é um território que se parece demais com um condomínio que dividimos e pagamos por mera necessidade e sentido prático. 

 

Publicado originalmente em Olhar Direito, para a série "Pensar o País". A seguir aqui.  

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