Ao contrário da generalidade dos comentadores, provocaram-me sincera admiração as recentes declarações do ministro da economia, assumindo-se “um soldado disciplinado e leal dentro deste governo” perante o chumbo em Conselho de Ministros de boa parte das suas reivindicações. Ao contrário da maioria dos comentadores, estas sábias palavras constituem para mim um sinal de probidade e patriotismo de Pires de Lima, uma pedagogia pertinente para um CDS que espero definitivamente determinado na recondução do Estado a uma dimensão comportável pela economia do País, ou seja, no resgate da independência e dignidade nacional.
Por demais erros e aselhices que se possam imputar a este governo, como a falta de coragem reformadora, seja do Estado seja no estilo; o facto é que desconfio que levando esta extraordinária legislatura a bom termo, os seus protagonistas perdendo eleições, ganharão um lugar na História como autênticos heróis. Com o caderno de encargos acordado com os nossos credores, estava escrito nas estrelas que a reputação de qualquer governo nestas circunstâncias se desvaneceria em três tempos, fritaria em fogo vivo, e que o mesmo se teria de revestir de enorme resistência e de um inusitado espirito de missão.
Nesse sentido, esta semana passei a nutrir uma enorme consideração por Pires de Lima cuja paradigmática lição de humildade ministrada deveria fazer pensar muitos dos comentadores que, como ele próprio há uns meses, se passeiam hoje pelos canais televisivos e colunas de jornais em retaliações de velhas intrigas, a debitar devaneios e boutades, aproveitando a apreensão e sofrimento dos portugueses, sem terem em conta que pior do que a angústia que vivemos é a cegueira à probabilidade de tudo isto poder virar de um pesadelo a uma catástrofe.
De resto, estou convicto que perante os factos, a revolta ou a angústia são sentimentos que urge superar, não servem para nada pois não abonam a racionalidade que a situação de emergência do País nos exige. A realidade é feita de casos particulares, e no que me diz respeito tenho tudo a perder com o pior desfecho: para que conste, na minha casa com quatro dependentes há muito que não sabemos o que é um ordenado certo.
* Paulo Portas citando Adriano Moreira