Na sequência do congresso do CDS do passado fim-de-semana em Oliveira do Bairro em que o grupo em que participo, emergiu decisivamente da sombra mediática, venho recebendo por correio electrónico ou através das redes sociais inúmeras mensagens de alento e de simpatia de quantos não se conformam em perder a esperança. Ora acontece que tais mensagens não têm qualquer efeito prático se a essa adesão não corresponder uma participação concreta na vida partidária, pois que nas actuais circunstâncias é através dos partidos que se decide o rumo político do País.
Como quem me conhece sabe, para além de monárquico, sou adepto da democracia representativa parlamentar, um sistema legislativo de decisão colegial que resulta mais racional e salvaguarda com mais eficácia o bem comum das paixões e interesses individuais ou de circunstância. Sendo certo que não existem regimes perfeitos, e perante a evidente urgência dum aperfeiçoamento do nosso, também salta à vista como essa é a desculpa de mau pagador que justifica o desinteresse de muitas pessoas na participação cívica, fruto quem sabe, duma enraizada tradição filosófica latina do “tudo ou nada” e do “não entro em comboios” se não for para ir no gabinete do maquinista.
O grande fracasso duma pessoa é a cedência à amargura, sentimento impróprio de um católico ciente da herança de Cristo que encarna. A amargura é a ausência de Fé, a corrosão lenta da alma desistente, o inferno feito vida, conformada à impotência que essa sim é a verdadeira morte. É nesse sentido que urge escutar a exortação do Papa Francisco feita há uns meses para que os cristãos se envolvam na política, considerando-a serviço, uma forma de caridade, sugerindo que o pouco empenho dos cristãos talvez seja uma causa da má reputação das organizações políticas. "É muito fácil culpar os outros", foram as suas palavras.
Porque a História não pára e é produzida por todos nós e cada um: a cada passo e direcção escolhida, dependente de cada decisão tomada por cada protagonista do seu tempo a cada momento. É entre a nossa atitude de desistência, iniciativa e participação que se decide o Portugal que hoje nos cabe em sorte. Perante as contrariedades, de nada servem amuos ou intestinas cóleras, sempre contra entidades convenientemente tão obscuras quanto abstractas e inatingíveis, que a montante do nosso penoso destino terreno vêm desde tempos imemoriais conspirando contra a instauração do céu na terra. Não, isso tudo somos mesmo nós e as nossas escolhas. Ou a ausência delas, a concessão ao malogro, a definitiva assunção da impotência perante a realidade feita amálgama, diabólica teoria da conspiração, como convém à consciência de um instalado comodista, para amargurado poder viver a vida pela televisão e nela intervir pelo Facebook, expressando enfurecidos estados d’alma.
A coisa é simples: se se tem verdadeiramente ideais e acredita que é possível fazer melhor, ou se atiram os egos e outras misérias para trás das costas e se vai à luta, seja pela a reforma do sistema político, da transparência nos negócios, pelos valores da vida e da dignidade do ser humano; ou outros com diferentes intenções o farão no nosso lugar.
Hoje como noutras eras difíceis da sua história (e onde estão as fáceis?) urge regenerar Portugal com o empenho de gente generosa que acredite que a sua contribuição faz a diferença. Gente que sem precisar de viver da política, não receie nela se envolver a combater por um modelo de sociedade respirável por todos, uma Pátria habitável para os seus filhos nela poderem viver, se possível melhor do que nós.