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João Távora

Em desespero de causa

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Com os patéticos ataques de Ana Gomes a Paulo Portas e da Comissão de Inquérito ao BES a Passos Coelho e ao Presidente da República está lançada a chicana politica em que o Partido Socialista aposta na tentativa de radicalizar um discurso vazio de soluções. Com José Sócrates na cadeia, o último primeiro-ministro que governou numa relação íntima com a oligarquia dos negócios, a António Costa restam poucas alternativas além de lançar a confusão e ajavardar a disputa para gáudio dos canais de notícias sedentos de conteúdos sensacionais e baratos. Acontece que a "merdização" da política apenas favorece a descredibilização dos partidos do "arco da governação" e promove as franjas radicais: em Ana Gomes já poucos acreditam, e a tentativa de aproveitamento da carta de Ricardo Salgado ainda vai virar o bico ao prego - trata-se afinal de atirar lama para a ventoinha. Como escreve o insuspeito Pedro Santos Guerreiro hoje no Expresso, “Querem falar da relação entre Salgado e políticos? (…) Então chamem ao Parlamento outras pessoas: Rosário Teixeira e Carlos Alexandre. Eles sabem.” Eu cá por mim obrigava os socialistas (e não só!) a assistir a um seminário sobre a decadência e queda do nosso rotativismo liberal no século XIX.

 

O Papa e a liberdade de expressão

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Parece-me absoluta má-fé a interpretação das palavras do Papa sobre o bom senso no uso da liberdade de expressão como aprovação da violência. Só o fanatismo ateísta permite tirar tal sentido. Por menos politicamente correcto que seja nestes dias afirmar que a violência atrai a violência, isso não deixa de ser verdade. A crítica de Francisco terá que ser interpretada no estrito âmbito da moral: num projecto que vise a santidade (no sentido da procura do Homem duma comunhão mais íntima com Deus) não se deve insultar, como não devemos bater, ou enganar. De resto aos Cristãos resta-lhes defender até ao limite das suas forças os valores fundadores da nossa civilização, a liberdade intrínseca de cada pessoa escolher as suas acções ou condutas, que consequentemente inclui a liberdade na injúria. Quanto ao mais, ofensas ou blasfémias, os cristãos estão habituados, aguentam bem. Ou não tivesse Jesus Cristo chegado à Glória na humilhação, pelo vilipêndio, pelo escarro e ao ser crucificado como um reles criminoso. 

Vaidades

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 Só o fonógrafo, Zé Fernandes, me faz verdadeiramente sentir a minha superioridade de ser pensante e me separa do bicho. Acredita, não há senão a Cidade, Zé Fernandes, não há senão a Cidade!

Daqui

Charlie Hebdou

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A discussão sobre o rasteiro e ofensivo mau gosto que é timbre da revista Charlie Hebdou desde a sua fundação tem que ser separada duma radical rejeição ao hediondo atentado às vidas humanas perpetrado por uns fanáticos. Jamais poderemos admitir qualquer cedência para com os que gostariam de demolir as bases duma civilização que há vinte séculos se edifica alicerçada nos valores do livre arbítrio e na sacralidade da pessoa criada à imagem de Deus - com avanços e recuos êxitos e equívocos como acontece em toda a obra humana. Não é preciso sermos todos o Charlie para entender isto. 

De resto, desconsola-me a forma como boa parte da opinião publicada faz um desonesto aproveitamento político do ataque terrorista em Paris, responsabilizando por exemplo a “servidão da Europa à austeridade” (Viriato Soromenho Marques hoje no DN) e o “gene da intolerância presente em todas as religiões” (Pedro Marques Lopes também no DN de hoje). Não, as religiões não são todas iguais, e só com má-fé se pode renegar o papel do cristianismo com o seu apelo fundador ao império da misericórdia e ao amor ao próximo na construção da nossa civilização. Esta agenda fundamentada numa “teoria da amálgama” só contribui para que não se enfrente o problema com a objectividade necessária. Perdoai-os Senhor, que não sabem o que dizem…

Fotografia da manifestação que reuniu os principais lideres europeus em Paris, daqui.

The lost art of conversation

"The lost art of conversation" é uma delicada peça musical com menos de dois minutos de Richard Wright editada postumamente no mais recente disco dos Pink Floyd que quase por si vale a sua aquisição. O seu sugestivo título veio-me por diversas vezes à ideia neste exigente período de festas de família e amigos que agora termina. Porque chego à conclusão que a boa conversa é de facto uma arte desconhecida de muita gente. Ao contrário do que possa parecer não é obrigatório sermos íntimos daqueles com quem emparceiramos na criação de um belo ambiente de conversa, em que cada um é convidado a sobressair mais inteligente e pertinaz. Uma boa conversa promove ideias brilhantes, e exerce-se não tanto pelo contraditório em si, mas pela forma como cada um contribui para fazer brilhar uma ideia que se desenvolve e se faz comum. Numa boa conversa a promoção da estética deve prevalecer sobre a "verdade". É como uma boa exibição de Ténis, em que os participantes se ajustam aos adversários e jogam para o espectáculo em detrimento da rivalidade. Numa boa conversa os sentimentos rasteiros são amestrados, agendas pessoais, lutas de egos e premências de afirmação devidamente contidas. Cada um sabe o que vale e ao que vai, os convivas estimam-se verdadeira ou tacitamente, e com generoso sentido de humor fazem das misérias grandezas. Um grupo de bons conversadores tem dias e é uma preciosidade a cultivar de preferência à boa mesa. É o que de melhor levamos daqui, acreditem.