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João Távora

A tempestade perfeita

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Ao contrário das mais antigas democracias europeias, a arquitectura da república portuguesa está edificada para favorecer a conflitualidade entre instituições.

Não só as prerrogativas do “semi-presidente” da facção triunfante o convidam ao choque com o Parlamento (a sua dissolução, no limite), como o sistema eleitoral saído da nossa última revolução não favorece as maiorias, pelo contrário, promove a instabilidade política. Perante o impopular ajustamento económico que inevitavelmente se vai prolongar pela próxima legislatura, o quadro pode tornar-se verdadeiramente aterrador: imagine-se que à eleição de um governo minoritário e à proverbial incapacidade dos grandes partidos gerarem consensos, se junta um presidente lírico e “interventivo”. Para evitar uma tempestade perfeita que nos atire para uma sequela de mau gosto da tragédia grega, resta-nos confiar na sabedoria dos portugueses que várias vezes já nos surpreendeu com improváveis maiorias absolutas. Só assim se evitará o caos duma legislatura com os políticos às turras, mais preocupados com vantagens imediatas para as suas tribos que com o interesse público.

 

Publicado originalmente no Diário Económico