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João Távora

Amor com amor se paga

 

Este vídeo captado na fronteira da Macedónia e publicado no Youtube a 22 de Agosto passado com centenas de imigrantes vaiarem os soldados e recusarem as caixas de viveres da Cruz Vermelha (alegadamente por causa do seu símbolo remeter para o cristianismo) que eles pretendiam distribuir, mesmo descontando a falta de enquadramento informativo sobre o incidente, não deixa de ser motivo de grande apreensão. Se estou convicto que ao longo da história a civilização ocidental saiu sempre a ganhar quando teve capacidade de acolher e integrar diferentes culturas, também estou certo de que é necessário defender a natureza cultural e religiosa que definiram a marca liberal e democrática da Europa. Como bem refere o Miguel Castelo Branco o Velho Continente não é um hotel ou uma terra de ninguém, e aqueles que de nós esperam solidariedade e tolerância terão que saber retribuir com a mesma moeda respeitando os nossos cânones e os nossos símbolos.
Tudo isto não obsta que os maiores inimigos da Europa e da sua matriz cultural sejam afinal os europeus laicisados, multiculturalistas e estéreis. Perante essa realidade o “problema” dos refugiados é irrelevante.

Alvorecer

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O Vasco Rosa, meu "analógico" amigo de longa data (daqueles a quem temos o privilégio de apertar os ossos de vez em quando), hoje surpreendeu-me com um presente absolutamente extraordinário: dois contos inéditos escritos pelo meu Pai em 1955 para a revista Alvorecer, "Revista académica de cultura" do Porto que descobriu inadvertidamente nas suas infindáveis pesquisas. Serei suspeito certamente, mas acreditem que a qualidade da prosa prenuncia os anos que posteriormente dedicou com tanto afinco à escrita – nomeadamente à História. 

Estranho privilégio este de, como que numa viagem no tempo, poder “ouvir” o meu pai com 18 anos, a contar-me a história de Lúcio o Gladiador gaulês numa luta pela liberdade.

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As cartas na mesa

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O prenúncio de eleições a repetirem-se Grécia em Setembro não deixará de provocar efeitos colaterais na campanha entretanto ao rubro em Portugal. Com o fantasma de José Sócrates à espreita no armário, curioso vai ser verificarmos como os herdeiros do Syriza cá do burgo que residem recatadamente no PS e ostensivos no Bloco de Esquerda se posicionarão perante os dissidentes da “unidade popular” e os “radicais” de Tsipras. Confusos? Fica comigo a secreta dúvida de como será possível um governo implementar um exigente programa com o qual não concorda.

Suspeito que António Costa percebeu tarde de mais que o eleitorado do centro está mais preocupado com a estabilidade e a segurança que com ressentimentos e fracturas ideológicas. Agora cola-se a Manuela Ferreira Leite, expoente máximo do conservadorismo social-democrata, para a recriação dum Bloco Central imaginário.
As cartas estão na mesa e os portugueses já entenderam ao que vão no dia 4 de Outubro. Com uma economia frágil e uma dívida astronómica, as grandes políticas decidem-se em Bruxelas e a recuperação de algo parecido com aquilo que entendemos por “soberania nacional” é um empreendimento para uma geração.


Publicado originalmente no Diário Económico

La Marseillaise

Eu que sou um pacato conservador geralmente até gosto de canções revolucionárias talvez pelo seu lado romântico, uma estética a que ninguém é imune nestes dias de modernidade. Não é o caso da belicosa e feroz “Marselhesa” que os franceses adoptaram como hino, aqui numa performance de 1905 pela Garde Républicaine, gravada num cilindro de cera da minha colecção, que apesar de partido se consegue ouvir até meio.

 

Mais curiosidades, aqui

Silly Season 2015

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Curioso como o tema das eleições presidenciais domina a Silly season. Acontece que é da sua natureza: já com dezassete virtuosas candidaturas “de esquerda”, junta-se agora o ego de Maria de Belém cujo nome é um manancial de trocadilhos para alimentar manchetes nos jornais. A dança dos "presidenciáveis" é na essência a política na sua vertente mais Silly, e  portanto adequada à indústria de entretenimento que hoje se confunde com jornalismo, é a política no seu mais básico apelo, da pura alcoviteirice partidária, qual desavergonhada guerrilha de egos insuflados - vende jornais. Quase se resume a isto por estes dias o jornalismo político: dos Passos Perdidos no parlamento aos corredores das sedes partidárias, alimenta-se uma tropa de repórteres enredados em cochichos e ninharias artificiais que são o guião de uma telenovela medíocre. Sem mundividência nem contacto com a realidade, este é o círculo vicioso que sustém o acomodado jornalismo doméstico. Desviar o enfoque para "fora da caixa", discutir projectos, desmontar os vícios do sistema e contemplar outros modelos e protagonistas requer coragem, trabalho e algum risco: jornalismo exigente, mais culto e independente, fundado mais na análise duma realidade rica e complexa e menos no microcosmos do mexerico partidário, que para mal dos nossos pecados é donde irá emergir o nosso presidente da república ao colo dos seus sequazes e clientelas. 

O que fazer para se devolver dignidade ao cargo do Chefe de Estado, representante e defensor de todos os portugueses?

Como devolver a dignidade à Chefia de Estado?

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Como poderá Portugal voltar a emparceirar com a elite das nações europeias e evitar os tristes espectáculos dos protocandidatos com as suas clientelas e partidos acotovelando-se ávidos para a cadeira de Belém? Acontece que só a instituição real pode ambicionar representar a nossa identidade e unidade transgeracional como Nação, sem clientelas, para além e aquém dos calendários eleitorais. Acontece que Portugal, nação antiga de quase 900 anos de história, possui, como a maior parte dos Países mais civilizados da Europa, uma Casa Real que corporiza Coroa Portuguesa velha como a nossa História. Refirmo-me a S.A.R. Dom Duarte, Duque de Bragança, que em 2006 o Estado português validou como o único e legitimo herdeiro do trono da nossa Pátria ancestral. O que justifica nesta corrida tanto sectarismo, ganância e intriga?

Desenho José Abrantes

 

PS: A discussão sobre o nosso sistema de Chefia de Estado parece que pegou. Para já é um bom principio de conversa.

Onde nos poderemos encontrar

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Ao longo do paredão entre o Estoril e Cascais decorre por estes dias uma cativante exposição onde se confrontam lado a lado em grandes painéis, fotografias actuais e coloridas das diversas praias e falésias com registos antigos das mesmas vistas, concebidos naturalmente a preto e branco entre 1900 e 1960. Um gosto especial para quem como eu se sente parte duma comunidade que integra, não só uma história e uma geografia, mas uma cultura transgeracional,  que comporta os antepassados que conceberam a realidade que nos coube de presente. Foi assim que há dias quando regressava da praia com o meu miúdo pequeno, enlevado, consegui cativá-lo num jogo em que os dois comparávamos e procurávamos diferenças nos diversos elementos das paisagens. Aquela casa ali está igual, acolá não havia ainda uma estrada, naquela praia as rochas estão iguais, no outro lado o comboio era a vapor, ou os fatos de banho masculinos de corpo inteiro. Eis senão quando a minha criança, cuja cabecita voadora, apesar dos muitos serões com leituras das minhas referências juvenis, mal consigo interpretar, me assevera que a vida no meu tempo devia ser muito aborrecida. Encaixei com custo a inocente atoarda "esquerdista" do agora-é-que-é-bom-antigamente-era-o-obscurantismo. Sem lhe perguntar porquê, (talvez porque adivinhasse que a razão desse juízo devia ter que ver com o facto de no meu tempo não haver o Minecraft, um jogo de computador de que é fanático) o pequenote esclareceu-me que “as casas agora são muito mais modernas e giras”. Um fosso de incompreensão geracional rasgou-se profundo entre nós os dois.

 

De certa forma este episódio vem corroborar uma perspectiva segundo a qual, do nascimento à idade adulta se faz um percurso político, assim a modos de dizer… da esquerda para a direita. Explicando-me, há um caminho de redenção que se faz da total inconsciência de si no nascimento onde se inicia a construção de um ego insaciável e reivindicativo que, de protesto em protesto, em função de si e das suas necessidades a todos obriga à sua volta. Depois, no jardim-de-infância, com mais sofisticação, já a coisa resulta na bem conhecida teoria de que “tudo o que é meu é meu, e o que é teu é nosso”. É a fase revolucionária, da solidariedade obrigatória, da restruturação da dívida e da reivindicação permanente de direitos, e recusa terminante de deveres - enfim, o "bom selvagem" em potência. Esta crise só terá paralelo no pico da adolescência, que é por assim dizer o “meio da ponte” entre a infância e a idade adulta, uma fase perigosa em que muitos optam por estacionar definitivamente – mergulhados no seu guloso umbigo, com total desprezo pela realidade, nunca vão entender que já havia vida inteligente e sensível na terra antes ou para lá de si próprios (este é um perfil comum em boa parte dos militantes do PS e do Bloco de Esquerda, anarquistas e fumadores de cannabis). Com um desenvolvimento saudável a maioria vai assumindo a inevitabilidade do protagonismo que lhe cabe na sua vida, e que aquilo que do Mundo que está na sua mão "mudar" se circunscreve aos seus próprios comportamentos. Com o uso de um pessimismo metódico mas rejeitando sempre o cinismo - que não é mais do que o “conhecimento” descarnado de amor - cada um vai intuindo a estonteantemente complexa precariedade humana e de como ao longo da história da humanidade, para lá do desenvolvimento técnico, afinal as mudanças se deram mais na forma que no conteúdo. Finalmente a evolução natural resultará um dia no espírito do sereno e pacificado conservador, que é a encruzilhada da consciência onde certamente o meu filho e eu nos voltaremos a encontrar.

(In) competência

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Estranhos tempos estes que julgámos interessantes, que ao invés de darem lugar à política revelaram os seus limites: com a soberania hipotecada aos credores e amarrados a uma moeda de país rico, as “alternativas” escondem-se em pequenos detalhes. Assim, para que a corda não quebrasse, o tão proclamado governo “liberal” rendeu-se às evidências e ao tribunal constitucional resolvendo o grosso da questão com um brutal aumento de impostos: o caminho era afinal bem mais estreito, e foi por uma unha negra que a coligação levou a bom porto o tal resgate. Com o exemplo da Grécia, os mercados atrás da porta e uma dívida de quase 130% do PIB, nada disto é irrevogável bem se vê.

Por tudo isto, não passaria de um mero faits divers o caso dos cartazes do PS se as pessoas de bom senso acreditassem que a 4 de Outubro estarão em jogo duas ou mais alternativas de enfrentar o monstro, em vez da gestão dum ajustamento sem precedentes com competência e firmeza. Com os resultados eleitorais em aberto, a incompetência com que os socialistas vêm gerindo a sua campanha deixa-nos a todos muito apreensivos.

 

Publicado originalmente no Diário Económico 

Uma grande bronca

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Sobre o caso dos cartazes do PS com testemunhos de desempregados, já o dissemos há dias: não passariam de um faits divers sem importância se as pessoas não acreditassem que nas eleições de 4 de Outubro o que está realmente em jogo é competência na gestão de uma crise que não está ainda sanada. Agora, gostaria de conjecturar  sobre as causas de tanta incompetência e descuido em matéria tão sensível como a comunicação. Suspeito que a resposta seja muito simples, que tenha afinal que ver causas orçamentais e o velho erro de se subvalorizar as questões de comunicação. Confesso que como profissional, tenho a experiência de me ver obrigado a malabarismos na tentativa de adaptar um projecto a limitações financeiras impostas pelo cliente. Nunca até hoje nada de grave aconteceu porque sempre soubemos dizer “não” quando os resultados dum projecto eram demasiado ameaçados, continha demasiados riscos. Acontece que “queimar etapas” e prescindir de recursos pode resultar na perversão total dos resultados pretendidos: uma ideia tem de ser bem testada em grupos de trabalho devidamente adequados e os riscos éticos, políticos e legais na sua implementação (nada impede a utilização de figurantes voluntários) devidamente acautelados. Por exemplo, parece-me de bastante evidente que um adulto na força da idade, profissionalmente habilitado e socialmente integrado não goste de se confrontar em cartazes gigantes, assumindo cinco anos sem trabalho, e decididamente os "voluntários" não foram devidamente (por escrito) informados sobre os termos e consequências da sua colaboração. Já a questão da data e dos números referentes ao desemprego, é um erro decorrente de uma narrativa política equívoca em si mesma - o desemprego disparou em plenas funções do governo socialista e não há como fugir desse facto. O melhor mesmo é não se brincar com os números nessa matéria. 

Finalmente umas palavras sobre o “não caso” dos cartazes da coligação  por desforra agora denunciados por fontes socialistas nas redes sociais: ao contrário do provérbio popular, o gosto pode-se discutir, mas comparar a utilização autorizada de imagens em distribuição comercial, adquiridas legitimamente (mesmo que sem exclusividade) nos chamados “bancos de imagens” com o caso dos falsos testemunhos dramáticos na primeira pessoa por (in) voluntários da  Junta de Freguesia de Arroios, é comparar a beira da estrada com a estrada da Beira. Não, não foi mau gosto, foi uma enorme salganhada fruto de duma incompetência que marcará indelevelmente a campanha eleitoral de António Costa.

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Publicado originalmente aqui

Imagens: Observador

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